Cabeça Óca e o “Fim do Mundo”

foto por Alan Tollentino

A produção de Fim de Mundo, primeiro álbum da banda paulistana Cabeça Óca, trouxe à tona dois desejos que estavam escondidos “por trás dos panos” em seu trabalho. Quem contou essa história ao Música Pavê foi o próprio quarteto, formado por Emil Kopaz, Felipe Fretin, Sérgio Hime e Waldyr Bitetti.

O primeiro deles foi uma maior instrumentação, diferente do formato acústico do EP Cabeça Óca (2017). “A gente era mais voz e violão, com percussão e cavaquinho”, conta Sérgio, “parecia que a gente tinha um desejo guardado de usar guitarra e bateria que só apareceu quando estávamos no estúdio. Foi um puta salto pra banda”.

A confecção do disco foi feita em conjunto, ao lado do produtor Thiago Big Rabello e do arranjador Noa Stroeter. “Desde que a gente estava em fase de pré-produção, a gente sabia que o negócio ia acontecer mesmo no estúdio”, conta Emil, “lá que o repertório começou a ganhar corpo e ficar mais definido. A gente se programou para ter bastante tempo para explorar coisas, como timbres e arranjos. A gente chegou com várias guitarras, violões e baixos, aí fomos testar uma coisa ou outra e a música acabou ficando de um jeito inesperado. A ideia que a gente tinha antes se desenhou de outra forma no dia a dia de estúdio”.

A outra descoberta veio com Do Cais ao Caos, faixa que encerra Fim do Mundo, a única instrumental do álbum. “A letra sempre foi nossa locomotiva”, explica Felipe, “tenho uma relação com música folclórica e curto muito contar histórias com as músicas. Mas sempre houve muita vontade também de fazer algo instrumental. Um pega o baixo, outro o piano, o outro um pandeiro, a gente fica fazendo uma brincadeira, tirando as melodias das canções. Sempre foi um desejo que estava um pouco mais internalizado e, graças ao tempo de estúdio que a gente teve, foi possível colocá-lo em prática”.

“Essa melodia até tem letra”, ele continua, “mas a gente resolveu deixar assim tanto pela vontade de fazer algo instrumental, quanto por não termos achado a voz dela”. Waldyr arescenta que, normalmente, Felipe “escreve as narrativas e constrói as imagens, e a banda faz a troca” com os instrumentos. “A gente percebeu que a melodia já era suficiente para contar a história”, diz Emil, “a letra não tinha papel de protagonismo, a melodia falava por si. A gente substituiu a voz pela guitarra e pelo sopro. Acho um bom exemplo de como foi nosso processo de estúdio”.

Depois de resolver todo o repertório, veio o título Fim do Mundo, emprestado da faixa que abre o disco. “A gente achou o nome bom, ele casa com o tema de outras músicas”, explica Felipe, “várias faixas no disco retratam as coisas pesadas que rolam no dia a dia”. “Ele representa bem o momento que a gente vive”, comenta Emil.

Felipe conta: “A gente vive num contexto social e familiar com todo mundo muito desesperançoso, e parece que guardando força pra uma briga que pode vir. É uma coisa que a gente fala dentro da nossa bolha e tenta passar pra fora de uma maneira que não seja interpretada como uma violência. Porque hoje em dia é isso, alguém já se sente ofendido por você não concordar ipsis literis com tudo o que ele falar. Então, é tentar passar de uma maneira não agressiva essa percepção que a gente tem – que, se não tivesse, a gente não estaria junto”.

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