Bruno Martini: “Nosso mundo de hoje é colaborativo”

foto por seven zee

A trajetória de Bruno Martini até seu primeiro álbum é única, fazendo jus ao título Original. Afinal, estamos falando de alguém cujo nome está atrelado à música brasileira mais tocada nas plataformas de streaming (Hear Me Now, que ele fez com Zeeba e Alok) e que construiu parte do repertório do disco ao lado do magistral Timbaland. Não bastasse isso, ele contou com Iza, Luiza Sonza e a franco-senegalesa Diarra Sylla entre as colaborações no disco. Uau.

O projeto foi produzido ao longo de três anos, após uma breve residência de Bruno no estúdio do músico norte-americano. “Era para eu ter passado dois dias com Timbaland, fiquei dez”, contou ele ao Música Pavê, “quando voltei da sessão, eu tinha sete músicas e pensei: ‘Meu, acho que isso aqui vai começar um álbum meu’, foi quando tive esse clique”. Foi quando ele iniciou um processo criativo que o levou ao conceito/título do disco.

“Eu sou um cara que acorda de manhã e fala ‘Alexa, bom dia’, aí ela começa a tocar blues, depois já estou em um hip hop e termino em música eletrônica”, explica ele, “tive que me desligar de tudo pra fazer esse disco e tentar me encontrar comigo mesmo.  O que é ser Original? Temos muitas coisas que nos influenciam, mas o lance é pegar aquilo e fazer da sua forma. Isso é ser original, ser você mesmo, se encontrar e não se esconder, mesmo quando dá medo. Você às vezes faz coisas que não são muito você, mas faz para ser aceito. Quando você tira isso da sua frente e pensa no que quer fazer, no que gosta, em quem você é… você encontra o que te motiva, o que te faz acordar a cada dia. Esse disco é isso, eu sendo o mais legal comigo”.

O que Bruno encontrou esteticamente dentro de si foi o que ele chama de “três pilares desse disco: O rock, o hip hop e a música eletrônica”. Se isso causa alguma surpresa em quem o conhece por Hear Me Now, o produtor explica ser eclético “desde pequeno”, e que Original foi feito para refletir suas predileções, não necessariamente para ferver a pista.

“Estamos em uma época sem festa, nem lembro quando foi meu último show ao vivo mesmo”, comenta ele, “eu gosto de fazer um beat que te faça dançar, independente se ele é acelerado ou não. É escutar uma música e pensar que eu possa fazer de uma forma que tenha um mexidinho, algo que te faça dançar. Mas não é um momento muito propício para lançar músicas mais para esse ambiente, [o álbum] foi feito para as pessoas degustarem em casa”.

Nessa sua busca para criar Original, Bruno reconheceu ser “muito competitivo” consigo mesmo e que valeria a pena “deixar o ego de lado”, como seus parceiros de sempre Mayra e Zeeba. Isso foi fruto de aprendizado ao observar Timbaland naqueles dez dias: “Ele faz música com os melhores artistas do mundo e estava no estúdio comigo e outro produtor da minha idade, 25 anos, querendo aprender com a gente. ‘Como é que vocês fazem esse som aí?’ – mano, o cara tá aqui pra aprender comigo? Eu que quero aprender com ele! É aí que você vê porque essas pessoas são lendas, porque elas estão sempre estão evoluindo”.

Para montar o “elenco” de Original, o produtor seguiu a naturalidade dos encontros (“eu sou muito de energia, muito de vibe“): “Ouvi Bend the Knee e pensei ‘essa tem que ser a Iza cantando’. Fui atrás dela, ela topou. A gente estava no estúdio trocando ideia, mostrei Original, que eu sabia que era a cara dela, e ela falou ‘amei, posso gravar?’. Com a Luiza [Sonza] também. Diarra Syla tinha mandado email pra minha equipe perguntando se eu tinha algo para fazer com ela e eu mandei Ain’t Worried, mas ela sumiu por uns três ou quatro meses. Aí, falando com a Mayra, tive a ideia da Luiza. Mandei mensagem duas da manhã, ela respondeu na hora, ‘amei’, passou duas semanas e a gente foi gravar no estúdio… cara, um dia antes, a Diarra mandou email: ‘Tô indo gravar sua música’. Aí eu falei de irmos nós três e as duas toparam. Lá, ela ouviu Twilight e pediu para gravar também”.

“Independente do que a pessoa faça, ela sempre tem uma história, tem algo para agregar na sua vida de outras formas, não só musicalmente. Às vezes, um toque de alguém de fora faz com que você mude totalmente uma música. Então, você tem que estar aberto para evoluir e aberto a somar. A gente tem que entender que o nosso mundo de hoje é colaborativo, ninguém faz mais nada sozinho. Se tiver cinco pessoas trabalhando comigo na música e alguém der uma ideia melhor que a minha… é o que eu quero pra música, o melhor. Até porque o meu trabalho como produtor é entender isso. É aí que a mágica acontece”.

Curta mais entrevistas exclusivas no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.