Música PavêBruno Batista já lançou a mais bela canção do ano
Lançado esse mês, Eu Não Sei Sofrer em Inglês é o segundo disco do pernambucano-maranhense Bruno Batista, dono de voz e musicalidade que carregam o melhor da mpb contemporânea, desde as influências pop até as referências aos nossos grandes nomes, como manda a tradição. Dentre seus méritos, está presente a que pode vir a ser considerada a canção mais bela de 2011.
Não costumamos resenhar discos por aqui e essa não é uma exceção – até porque muita gente já fez isso muito bem, como a Musicoteca. Quero apenas chamar a atenção justamente para a tal canção que tem me roubado suspiros internos desde sua primeira audição, construída em versos e melodia que soam naturais, espontâneos, de tão bem desenhados.
É prosaica e parnasiana ao mesmo tempo, hora com cara de composta na varanda enquanto se olha o mar, hora aparentemente fruto de um bom uso dos 90% de transpiração para se criar uma obra dessas. A dinâmica da melodia é acompanhada da interpretação encantada de Bruno e as duas crescem juntas à medida que os versos tornam-se mais próximos, mais humanos.
Os versos “Que vale o letreiro/Se o filme que o amor escolheu/Quem assinava o roteiro/Meu papel esqueceu?” e “E se a felicidade é tão vizinha/Por que há tanto não vem pra um chá?“ explicitam a melancolia de um dos mais lindos lamentos que ouvi na música brasileira em muito tempo, naquele alcance tátil das emoções mais cotidianas e densas que só nossa tradição dá conta tão bem.
Clique abaixo para ouvir a canção (ou clique com o botão direito e selecione “salvar” para baixá-la), que traz em seu nome o eufemismo singelo e completo para descrevê-la: Bonita.
Que luz lilás, Bonita
Em teu blue eyes desponta
Que nunca cessa, qual a matriz
Quem paga a conta?
Que crime atroz, Bonita
Cometeram teus cabelos
Que nem cancela, que nem juiz
Ousa prendê-los?
Diz se o amor campana
Ou monta guarita
Se passa a semana
Quando faz visita
Se usava havaianas
O Deus à paisana
Que te fez, Bonita!
Que vale o letreiro
Se o filme que o amor escolheu
Quem assinava o roteiro
Meu papel esqueceu?
Por que o tempo não pára
Se é o fim da linha?
E se a felicidade é tão vizinha
Por que há tanto não vem pra um chá?
E diz quem cortou a fita
Quando você chegou
Se encontrou o nome na lista
Ou se apresentou
Diz quem fazia a revista
E onde fica o amor.
O Zebra Zebra tb compôs uma música chamada Bonita.
Vai sair no próximo EP.
Já já!
Ela parece mesmo ter sido escrita na varanda afinal os versos, embora profundos, expõe os sentimentos com uma “simplicidade” muito grande. Acho válido a gente pensar que ele precisou de 90% de transpiração… mas se a musa da paixão é mesmo tão bonita assim (o quanto ele nos faz acreditar), é mole sair uma declaração dessas. E, em outra hipótese, se ela só ‘parecer’ bonita porque o amor é muito grande (e cego), meus parabéns em dobro ao Bruno, primeiro porque a composição é lindíssima; segundo porque conseguiu nos enganar direitinho.
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