Bruna Caram: “Arte é um remédio poderoso”

foto por rodolfo magalhães

É difícil discordar que o Brasil precisa de um Alívio. Não à toa, Bruna Caram chamou assim seu quinto álbum, lançado hoje (29) nas plataformas digitais. Atravessando temas contemporâneos em arranjos herdados de diferentes tradições da MPB, a cantora, compositora e atriz enfatiza sua crença na força que a música pode ter.

Foi o que ela contou ao Música Pavê por telefone, às vésperas do lançamento. “É um disco sobre como se curar através da arte”, disse Bruna, “você vê no repertório as tormentas do dia a dia, as que estão no mundo e as do Brasil. O disco fala de injustiça social, machismo e opressões, umas pequenas e outras enormes. Eu não tenho solução para essas situações, mas tenho certeza que a arte é um remédio poderoso”.

Artistas conscientizam e sensibilizam as pessoas, o que é perigoso pra quem precisa que se pense pequeno”, comenta ela, “não é à toa que os poderosos desacreditem na arte em tempos tao temerosos, e o valor dos artistas acaba sendo tão menosprezado”.

Bruna se cerca de inspiração na maneira como dialoga com o mundo ao seu redor. Para a produção de Alívio, ela convidou o cineasta André Moraes, ao invés de um produtor musical convencional – “queria trazer outras artes para perto do meu cantar”, como ela explica. Outras escolhas ao longo do álbum são igualmente surpreendentes, como a lista de convidados trazer tanto Marcelo Jeneci, quanto Jean Dolabella (Sepultura), dois nomes que nem sempre aparecem lado a lado.

“Queria que o disco fosse uma dinâmica de interpretação e sensibilidade”, conta Bruna, “cabia o Sepultura aqui, o guitarrista da Lady Gaga ali e o Jeneci em outra faixa. Isso pra mim não tem contradição nenhuma, tudo me deixou mais à flor na pele pra fazer o que eu nais queria. É um disco verdadeiro sobre coisas que não podem ser caladas. Eu precisava de muita gente diferente concordando”.

Sobre as escolhas estéticas no álbum, que se aproxima muito mais de tradições do que de sons contemporâneos, Bruna comenta que elas vieram da maneira com que enxerga seu trabalho. “Percebi que não sou uma cantora exatamente contemporânea, a minha arte não é muito alternativa, underground e vanguartista como outros artistas que eu gosto. Percebi que eu sempre fui muito classicona. Tem a ver com minha avó (Maria Piedade), que foi cantora de rádio, e com meu avô (Jamil Caram), violonista de choro. Quero que isso fique cada vez mais claro nos meus discos. A locura na minha música tá muito mais na intensidade do cantar, da doçura e da fúria em uma mesma faixa. A contemporaneidade me atrai como ouvinte, mas não como cantora”.

O mesmo não se pode dizer do conteúdo que Alívio trata, que chega como mais um lançamento que expressa o desejo de uma realidade melhor, principalmente para as mulheres. “Comecei minha carreira muito jovem e muito tímida, num tempo em que ser mulher era ainda mais complicado que hoje, e perdi muita coisa por medo de me colocar”, explica a artista, “é muito lindo como eu pude participar desde a co-produção, com os arranjos, tudo me deixou muito segura como eu queria. A gente gravou muitas faixas ao vivo e eu fui regendo as músicas, o que antes era impensável. Teve uma vez que alguém entrou no estúdio e eu estava gritando ‘é isso o que eu quero!’ (risos), muito vibrante, mas sincera. Não é do dia pra noite que se constrói isso, é preciso errar um tanto antes”.

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