“Bombyx Mori”: Juliano Gauche Convida à Introspecção

“Lançar esse disco foi como chegar no meio de uma confusão e falar ‘para, pensa, respira, observe por que você tá sentindo isso, por que a gente tá passando por isso’” – A obra em questão é Bombyx Mori, recente lançamento do músico Juliano Gauche. Composta por três faixas anônimas (que repetem o nome do EP no título), ela chega com uma aura quase misteriosa, mas entrega um ambiente seguro e confortável ao ouvinte. Isso vem da beleza das composições e da introspecção à qual elas convidam.

É interessante notar como a poesia presente no disco se apresenta quase como peças de um quebra cabeças que o ouvinte monta como bem entende. “Quando a música não é fechada, você acaba colocando coisas suas [na interpretação]. Nunca gostei muito de explicar letras ou o som, porque a palavra, a literatura e até mesmo a organização musical podem ser abordadas de várias formas, são vários níveis de entendimento”, explica o músico.

“Tem coisas que a gente não consegue explicar, principalmente se alguém pergunta ‘o que essa música quer dizer?’. Não é tão simples assim. A gente não compõe como se fosse uma empresa fazendo uma campanha publicitária querendo enfiar uma informação na cabeça da pessoa. Hoje em dia, quase tudo que tem envolvido a gente tanto politicamente, quanto culturalmente são coisas que a gente ainda tá aprendendo a lidar. Então, ao invés de apresentar um ‘esse é o caminho que eu enxergo para as coisas’, é mais um ‘venha e vejamos o que que tem aqui’ (risos). 

Guiado principalmente pela voz e pelo violão, Bombyx Mori é o primeiro EP que Gauche lança, após quatro álbuns. “Sempre fui motivado pelos discos dos anos 1970, mas a gente tá vivendo agora outro momento”, conta ele, “a coisa física não existe muito, a atenção do público está muito difícil. Passei um ano pensando como fazer algo que fosse curto, mas que também conseguisse passar o que eu talvez colocaria em um álbum inteiro”. Todo o lançamento da obra, com todas essas características e propósitos, foi visto como um “gesto corajoso” pelo artista.

“Eu já queria há muito tempo fazer um trabalho mais introspectivo, mas tinha a impressão que eu não seria ouvido, porque tá todo mundo [produzindo] com muita pressão”, explica ele, “aquele bumbo marcado, vários efeitos, sintetizadores e tal”. “Essa parada de minimalismo sempre me perseguiu, até mesmo quando eu fiz os discos com bateria e baixo”, continua Gauche, “mas é porque eu não quero que tenha nada sobrando, sabe? Mas as escolhas [para o EP] têm a ver também com outras coisas que são difíceis de ser colocadas, que é como o organismo recebe o som. Cada vibração mexe com o corpo. As mais graves mexem na parte sexual, as mais melódicas vão para o emocional e as mais harmônicas, para o racional. Então, esse convite à introspecção tem a ver com as músicas irem direto ao emocional e ao racional”.

Não é difícil perceber, mesmo na audição mais superficial, que Bombyx Mori se destaca por esse clima introspectivo que contrasta com a maioria das músicas que marcaram o cenário autoral brasileiro no último par de anos. “É difícil fazer esse convite no meio do conflito”, conta ele, “a maioria das pessoas está fazendo música falando como temos que pensar, o que temos que fazer – é praticamente panfletário, né? -, toda nossa turma tá tentando dar voz ao discurso de resistência. Toda essa polarização que estamos vivendo vem de confusões que, para mim, são filosóficas. Essa [ascensão da] extrema direita está acontecendo porque o povo se desprendeu completamente de um raciocínio filosófico”. 

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