Bel_Medula e a Criatividade Durante uma Pandemia

foto por vitória proença

Bel_Medula, uma das faces sonoras da multi-instrumentista Isabel Nogueira, mergulhou no projeto #30dias30beats e agora lança alguns dos vídeos construídos durante sua participação. O projeto, idealizado pelo DJ paraibano Daniel Jesi, tem como proposta produzir uma música com uma imagem associada, durante 30 dias, e publicá-la no Instagram.

Seguindo as possibilidades da experimentação, Bel_Medula passeia por novos recursos e coloca luz sobre ângulos cotidianos, proporcionando uma abertura para explorar questionamentos e sensações ocasionadas pelo necessidade de ficar em casa. Em entrevista para o Música Pavê, a artista assinala a importância de sua participação no projeto, dos espaços de acolhimento e de partilha (ainda que virtuais) e da presença de outras mulheres produzindo música juntas.

Música Pavê: O projeto #30dias30beats é como um convite para a criação. Cada artista mergulha no seu processo a fim de entender seus próprios métodos e percursos, além de encontrar novos e diferentes recursos no caminho. Diante disso quais foram seus maiores desafios e seus maiores prazeres?

Bel_Medula: Eu tinha participado no ano passado e senti uma diferença muito grande nos meus processos de um ano pra outro. O desafio maior, para mim, foi o tempo, o terminar no prazo, postar o projeto antes da meia noite. Como eu não tinha trabalhado ainda com vídeos, resolvi usar aplicativos para edição de vídeo, e fui explorando efeitos. Mas demorei um tempo para me organizar no flow criativo com os vídeos: precisava produzir o vídeo, aplicar efeitos, renderizar e unir com o áudio que eu tinha produzido em outras plataformas. Depois disto, salvar em um formato compatível com o IGTV, subir no drive, baixar no celular e postar o vídeo. Nos primeiros dias, demorava umas duas horas ou mais neste processo, e muitas pessoas do movimento comentavam no nosso grupo de Whatsapp que o vídeo era a pior parte. O prazer maior foi se entregar à improvisação, montar os sets com diferentes equipamentos e tocar, brincar, criar sons até chegar em algo que me agradasse e também educar o olhar cotidianamente para perceber como as cores da casa, as formas, os movimentos poderiam funcionar no vídeo e que efeitos eu poderia jogar para brincar com eles.

MP: Desde a origem o projeto do DJ Daniel Jesi apresenta resultados individuais, dentro de um movimento que se dá no coletivo. A possibilidade de compartilhar e de dividir pensamentos e ideias com outros produtores interferiu nas suas criações para o projeto?

Bel: Sim, interferiu demais! A possibilidade de compartilhar e dividir pensamentos foi muito estimulante tanto por perceber que todos estavam passando por dificuldades parecidas, e que o desafio de manter o flow das publicações diárias nos levava a um sentimento de “bora se ajudar porque não tá fácil para ninguém”! O compartilhamento de soluções para lidar com softwares de criação e edição, equipamentos, ou propostas rolaram também e foram muito massa! Fiz alguns convites para mulheres produtoras, para que tivéssemos uma relação mais proporcional entre homens e mulheres dentro do grupo e fiz algumas entrevistas com estas produtoras no perfil do movimento, a convite do Daniel Jesi. Foi bacana para incentivar esta troca entre mulheres também, e trazer as questões de gênero para dentro do grupo! Outro compartilhamento bacana que rolou foram as colaborações entre artistas, fiz alguns beats em colaboração com Rafael Davi, Joana Knobbe, Camila Pedrassoli e também usei alguns áudios de Whatsapp, como de Daniele Rodrigues, Joao Pedro Cé e Pedro Regada, misturando com música.

MP: Construir um diário sonoro, durante o isolamento físico por conta da pandemia, te ajudou a passar pelos dias com um pouco mais de equilíbrio? Para você, qual a relevância da produção musical durante esses tempos que estamos vivendo?

Bel: Construir um diário sonoro ajudou muito a passar os dias com mais equilíbrio, com certeza! Foi um comentário geral no grupo de produtores e produtoras. Porque, mesmo que nosso trabalho diário tivesse aumentado, somando cuidados de casa e trabalho, ter um canal de trocas e expressões criativas foi muito intenso e revigorante. Para mim, a produção musical é relevante demais nestes dias que estamos vivendo! Por um lado, é difícil criar em casa, muda muito a forma de produzir e as possibilidades de dialogar, e ainda tem a questão dos altos e baixos emocionais neste período, a ansiedade, temores por questões bem reais e bem preocupantes. Não se cobrar por não produzir de forma irretocável ou perfeita foi importante (acho mesmo que estes conceitos mudaram na pandemia!), tiveram dias mais fáceis e outros, bem difíceis. Para mim, o que foi importante foi o estímulo para manter a vontade de se colocar, a vontade de olhar para mim mesma e pensar: “2020 da pandemia, ok, e o que será que eu tenho para dizer, de fazer, de expressar hoje?”. Acho que o estímulo que busco trazer com este projeto é a ideia de cada pessoa olhar para seu próprio mundo interno e pensar: O que eu diria neste momento? Como me colocaria? Eu gostaria que cada pessoa que ouvisse as músicas que visse os vídeos, pudesse fazer esta pergunta para si mesma: o que me toca, o que me instiga, neste tempo?

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