Barrie James É Um Blueseiro Contemporâneo com Sotaque Escocês

Um cigarro, uma cerveja e o celular na mão mostravam que Barrie James estava aproveitando uma tarde ensolarada em Glasgow enquanto atendia a imprensa brasileira, incluindo o Música Pavê, para falar sobre seu mais recente disco, o excelente Psychedelic Soup. Entre brindes e tragadas, ele me apresenta a um amigo sentado ali próximo (“esse é o John, que fez a capa do álbum, diga oi para ele”). Esse clima ditou toda a vibe da conversa, e denotou muito da personalidade do artista, como observada em suas resposta (e, é claro, músicas).

O novo álbum veio quatro anos após Cold Coffee, seu trabalho de estreia, quando o músico escocês voltou ao seu país natal após anos morando em Los Angeles – cidade que viu seu noivado com Lana Del Rey começar e terminar. “Foi um processo muito mais longo do que no primeiro”, explica ele, “levei quatro anos para compor, gravar e finalizar o álbum, o que foi muito mais do que eu gostaria. Eu queria que ele tivesse saído em 2017, mas antes tarde do que nunca”.

“O primeiro foi muito orgânico, e várias de suas músicas vieram rapidamente, de forma natural”, conta Barrie, “nesse, eu estava obcecado com cada frase, cada acorde, cada parte que eu conseguia ouvir. Algumas foram sim mais orgânicas. Mad Man, por exemplo, eu fiz alguns de seus versos em 2011. Ela começou no piano e eu fui ver como ela ficaria no violão. O refrão só veio quase dez anos depois. Acho que ela exemplifica a diferença desse disco pro anterior. Muitas delas são híbridas, levei muito tempo para juntar todas as partes, mas o álbum apresenta aqueles sons em que eu queria chegar”.

Essa sonoridade tem um quê singer-songwriter, ao mesmo tempo que parecem subverter a aura romântica que esperamos desse formato. Há um quê blueseiro, um charme mais cru e visceral ao longo de seus arranjos, que evidenciam a busca que levou tanto tempo para a conclusão do disco. “Eu passei muito tempo tentando entender qual era a intenção primária para a obra, ou qual era seu tema ou gênero, e o blues era uma dessas ideias”, relembra ele, “Mad Man, por exemplo, tem uma coisa country e dark ao mesmo tempo. Tem uma versão dela que eu faço na guitarra e ela fica mais blues. Para mim, tem uma essência de jazz no álbum, ao menos em termos de acordes e nos metais em algumas faixas”.

É interessante notar como o álbum alterna entre músicas quase minimalistas e outras com muitos instrumentos. Ao ser perguntado sobre seu processo de arranjo, Barrie conta que “há algumas formas de gravar uma música que gere sentimentos. Você pode ir bem quietinho e minimalista, como Moonlight, que tem só guitarra, vocal e um pouco de baixo. Eu queria tentar criar uma atmosfera bastante intensa, como em Flame, mas sem usar muitos instrumentos. Queria ver se conseguia fazer um disco melódico que tivesse um tom sério e despretensioso ao mesmo tempo”.

Voltando ao assunto do blues e de suas inspirações, ele comenta que percebeu, aos 19 anos, “uma inclinação a músicas mais sérias, que fossem obscuras ou mesmo misteriosas – como The Doors ou Pink Floyd. Acho que aprendi a compor com eles. Quer você seja um pintor, cineasta, dançarino ou mesmo comediante, as coisas que te inspiram acabam ficando presentes nas suas técnicas e nas sua personalidade. E sua dieta de música, filmes, arte e pessoas com quem você anda, essas coisas ecoam em você”.

Quando perguntado sobre suas letras, ele acha que a parte musical acaba sendo mais expositiva do que o que está sendo dito nas palavras. “Quando estou compondo, olho para o que escrevi e fico tentando entender o que estou tentando dizer”, diz ele, “nunca fui o cara que vai para o parque, senta no banco e começa a filosofar sobre o mundo, depois volta para casa, pega o violão e compõe uma música”.

Já alguns de seus versos surgem de forma bem espontânea. Ele cita a famigerada Cola, de Lana Del Rey, como exemplo. “Eu falei aquilo do pussy tastes like Pepsi Cola uma vez quando estava bêbado. Quando eu disse isso, era uma piada sobre ela ser americana, uma pop star nos EUA, e eles sempre transformam suas estrelas em Pepsi… entende? Era uma piada sobre esse lugar que ela ocupa. No caso do John, por exemplo, o pau dele tem gosto de Guinness (risos)”.

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