Barcamundi Comenta Canções e Experimentos em “Disco Adulto”
Ao vermos o clipe de Amor Concreto, dá para aprender muito sobre o segundo álbum da banda carioca Barcamundi, o recém-lançado Disco Adulto. Há ali uma familiaridade no som que quem nasceu e/ou cresceu no Brasil reconhece como uma ligação direta com a MPB mais tradicional. Só que – e esse detalhe não é tão pequeno assim -, há também um sopro de inventividade, uma vontade grande de contextualizar seu som sem temer algum estranhamento que ele possa carregar. Foi sobre isso a conversa que Gabriela Autran (escaleta, synth e backing vocal) e Matheus Ribeiro (guitarra e trompete) tiveram com o Música Pavê nesta semana.
“O processo de gravação foi muito experimental, a gente ia pro estúdio e ficava fazendo testes, fritando em cima até ter sonoridades que a gente ache que não são tão comuns com o que geralmente se entende por canção”, explica Matheus, que acrescenta que, ainda assim, “o disco é sobretudo baseado em canções”.
“Através dessas bases que a gente tem das músicas mais tradicionais, a gente fez uma desconstrução, pegava elementos que são mais tradicionais na música brasileira, que a gente achava interessante, e desconstruía tudo”, conta Gabriela, “a gente foi montando um quebra-cabeça dentro de cada música e, no fim, era quase caótico, porque tínhamos vários fragmentos com um pouco de cada um de nós”.
“Somos seis integrantes com gostos muito diversos, então a gente tenta adaptar um pouco de cada um dentro da música e dos arranjos”, comenta ela, “eu acho que esse lado experimental também é porque tem uma experimentação dos gostos e das adaptações”.
Disco Adulto chega mais de três anos após o álbum de estreia, Barcamundi (2015). Sob a produção de Hugo Noguchi (Yukio, Ventre, SLVDR), o novo trabalho fez com que os músicos colocassem em prática os aprendizados adquiridos com a experiência passada para chegar em lugares que eles chamam de “ousados”. “No primeiro disco, a gente foi muito quadrado de não experimentar o que estivesse um pouquinho fora da caixa”, conta Matheus, “dessa vez, até pelas referências que a gente tinha, pelos discos que a gente estava ouvindo na época em que gravou, a gente queria usar uns sons fora da zona de conforto”.
Segundo eles contam, as novas composições foram escritas em 2016. “Nesse meio tempo, nossa percepção de música e nosso desenvolvimento musical mudou muito”, comenta Gabriela, “tinha música que a gente já tinha terminado, daí ouviu novamente e resolveu mudar alguma coisa. Foi maduro da nossa parte permitir se adaptar também. A gente foi para o estúdio com ideias fechadas para as músicas, mas, depois, quisemos mudar algumas coisas”.
Tudo isso gerou a estética presente no disco, que pode ser entendida como “MPB experimental” – o tal sopro de criatividade na tal da tradição. “Existe essa visão nostálgica de música brasileira, mas a gente vive no nosso tempo e ouve as música de agora, o que acaba sendo forte no som que a gente faz”, explica Matheus, “se a gente está disposto a fazer parte de um meio independente, que é por si só ‘alternativo’, não faz sentido a gente fazer uma música comercial. Só faz sentido expressar artisticamente algo que seja verdadeiro para você”.
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