Aṣa: “Queria que as pessoas ouvissem minha alma”

foto por trinity ellis

Bukola Elemide, cantora franco-nigeriana conhecida como Aṣa (diz-se “As-sha”), é uma veterana da música autoral, já acumulando dois álbuns ao vivo e quatro de estúdio – o último deles, Lucid, saiu no começo do mês.

Falando ao Música Pavê por telefone, ela comentou que, mais do que os anteriores, o novo trabalho foi fruto de seu amadurecimento como artista em um nível bastante pessoal. “Foi um processo longo, porque eu queria que ele viesse carregado de significados”, contou ela, “queria que tudo fizesse sentido para o ouvinte”.

“Esse disco é sobre os lugares por onde passei, e também sobre minha vida no período de produção”, conta Aṣa, “a inspiração vem de várias direções. Eu viajo muito, conheço muita gente e acabo aprendendo muito em termos de composição. E eu tinha muito claro pra mim que, desta vez, queria que as pessoas ouvissem minha alma, o meu coração batendo”.

Para que isso acontecesse, a primeira decisão foi desacelerar os processos. “Eu passei dez anos gravando e fazendo turnês – só para o último disco, foram dois anos de viagens e shows”, explica a cantora, “e essas turnês longas podem acabar te bagunçando, você perde o equilíbrio. Então, eu pisei no freio, quis que o processo fosse mais natural. Escrevi como se fossem diários sobre o que acontecia comigo e ao meu redor por uns dois anos”.

Não queria me apressar para entrar no estúdio. Fui no meu ritmo, fiz questão de viver normalmente também. Eu sempre começava com um violão ou um piano. Desta vez, teitei instrumentos diferentes. Compor no ukulele me deu novas possibilidades. Queria escrever com significado, que minha música não durasse só três meses, mas que fosse para sempre (risos). Encontrei a equipe certa, o estúdio certo e… voilá“.

Aṣa observa que vivemos em um tempo em que “há muito acontecendo, uma grande pluralidade e muita expressão, muitas regras estão sendo quebradas. Espero que eu me encontre em um desses lugares. Não sei se conscientemente eu faço parte de algum movimento. Eu só quero fazer música que faça as pessoas sentirem. Que faça elas sorrirem, chorarem, dançarem… que elas tenham uma reação”.

Com família em Salvador, ela conta que se sente muito conectada à cultura brasileira. Algo em comum que temos com sua música é a presença da língua iorubá – que vemos também em outro projeto francês, Ibeyi (que ela diz conhecer “desde que eram muito jovens, amo o trabalho delas”). “Iorubá é uma língua linda”, explica a artista, “ela é parte de uma religião, de uma cultura e do Brasil. Faz parte de mim”.

Tudo que Aṣa fala argumenta a favor de um processo autoral muito próprio da artista, que diz só conseguir cantar daquilo que vive e que observa de perto, daí também um grande envolvimento com o processo criativo dos seus clipes. “É tudo muito meu, é quem eu sou”, explica.

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