As Músicas Brasileiras Mais Bonitas de 2022
É tudo subjetivo, da maneira como percebemos a música a como experimentamos os acontecimentos – dos fatos históricos ao que vivemos em nível pessoal. Mas há também o que é compartilhado, ainda que em um plano muito abstrato, e que nos permite perceber uma mesma obra como bela.
Para além de composições, arranjos e recursos de gravação, há aquelas músicas das quais nós, enquanto sociedade, geração ou o que for, reconhecemos o valor por esses subjetivismos que temos em comum. São letras que contam histórias que nos são íntimas, ou que falam de momentos que atravessamos juntos. São sonoridades que nos são familiares dentro de uma tradição, e também nas tendências da época. Ainda que uma só pessoa indique o adjetivo, um grupo maior é capaz de concordar – a beleza está também nos olhos coletivos.
Como é feito ao final de todo ano, o Música Pavê reúne agora as músicas brasileiras mais bonitas de 2022. Entre elas, reconhecemos alguns favoritos que já passaram por aqui em outras listas, e também muito que compartilhamos enquanto experiência de vida nesta época. Haverá discordâncias (que bom), e também vários sorrisos que podemos dar juntos, movidos por tanta poesia.
(Veja também as listas de músicas brasileiras mais bonitas de 2021, 2020, 2019, 2018, 2017, 2016, 2015, 2014, 2013, 2012 e 2011)
Tim Bernardes – Última Vez
A etimologia de “relação” explica o termo como “o ato de dar algo em troca”. Última Vez lida com o que foi recebido, entregue e tido em comum em um tempo recente que dói ser chamado de passado. Altamente narrativa, ela entra para o repertório do amante de música brasileira como herdeira de Trovoa, música que Mauricio Pereira (não por acaso pai de Tim) compôs há quinze anos, e se destaca pela beleza dentro de um Mil Coisas Invisíveis repleto de momentos sublimes.
Alaíde Costa – Aurorear
A faixa que encerra o maravilhoso O que Meus Calos Dizem Sobre Mim traz em si muito do que é a obra – além de ter o verso que lhe dá nome. Assim como o disco é um encontro de gerações, ela foi composta por Emicida e Joyce Moreno. Ela é elegante e melancólica, atemporal e cosmopolita, sempre intensa em sua suavidade – ou vice-versa. Enfim, ela é Alaíde Costa.
Tulipa Ruiz – Habilidades Extraordinárias
Também uma faixa que batiza seu álbum, esta canção começa discreta e encontra sua força em seu desenvolvimento e na alma de Tulipa Ruiz. “Tem coisa que não tem tradução”, mas sua interpretação nos ajuda a entender muito do que vivemos no coletivo nesses últimos tempos e as tais “habilidades extraordinárias” que precisamos tirar do além para sobreviver. “Tá tudo bem”, ou, ao menos, vai ficar.
Alexandre Nero + Milton Nascimento – Em Guerra de Cegos
A dor da violência, tema tão ingrato, é sentida na letra e na interpretação de Nero, que tem na faixa o privilégio de receber uma de suas maiores, quiçá a maior, das referências. No ano em que se aposenta, Milton pode testemunhar e participar de seu legado em tempo real. É sobre amizade e seu poder curativo, mas é igualmente sobre a música e seu potencial de traduzir o que a razão sozinha não dá conta.
Bruno Capinan – Meu Preto
“Não posso mais viver longe de você” é o verso que Bruno Capinan repete nesta canção de amor que registra a maneira como vários romances se deram nos tempos de isolamento: Marcados pela distância e pela saudade. A paixão quase não se contém em alguns momentos da faixa, marcada pelo refinamento com que desenvolve uma estética tão familiar aos brasileiros. Tão simples quanto bela.
Josyara – canto à liberdade
É 2022 e ainda é preciso debater – e honrar – a liberdade, seja a de se expressar, de amar, de viver em segurança com a natureza com que se vive. Na boca e no talento de Josyara, a pauta é pura poesia, daquelas que te pegam de jeito, com um sorriso espontâneo deslumbrado com a música.
Bala Desejo – Nesse Sofá
O tédio dos dias trancados em casa, uma realidade compartilhada por tantos em épocas de pandemia, ganhou uma beleza imprevista no dueto de Dora Morelenbaum e Zé Ibarra. Do café de sempre ao clima que muda na janela lá fora. É a lembrança de uma sensação que não queremos reviver, mas uma música que “bate” nos lugares certos sempre que é ouvida.
Xênia França – Renascer
A cura é, ou deveria ser, suficiente. Xênia, no entanto, ousa almejar a felicidade. Que mensagem bonita, perfeita para quem se encontra aos frangalhos e não tem força para contemplar o melhor horizonte possível. De quebra, uma produção caprichada acompanha o sempre belo vocal da cantora, e a música, ainda que com certa descrição, faz por merecer o lugar que ganha dentro do ouvinte.
Bruno Berle – O Nome do Meu Amor
Ainda sobre a ousadia da felicidade, é bonito e potente ver uma nova geração querer cantar de amor em meio a um mundo em chamas. Assim como todo No Reino dos Afetos, a faixa traz consigo seu charme lo-fi e contemporâneo, sem medo nenhum de ser uma canção romântica cheia de honestidade como aquelas que sempre nos cativam.
Rachel Reis – Não Venha Pela Metade
Em meio ao sacolejante Meu Esquema, uma faixa brilha o desacelerar o ritmo e mostrar uma Rachel Reis que canta docemente sobre a permissão de se apaixonar inteiramente. Há muito significado, em um tempo de amores líquidos, se “blindar toda” “contra amores fracos, contra morada meia boca”. “É sobre isso”, como falavam as pessoas na época em que ela compôs a música.
Ouça também:
Rashid + Liniker – Ver em Cores
Gilsons – Pra Gente Acordar
Rico Dalasam + Tuyo – Fim das Tentativas
Alexandre Kumpinski – Neve Firme
DINGO – Um Raio no Céu
Gustavo Bertoni – Logo Logo
Vanguart – Fogo-Fátuo
Maglore – Transicional
Acompanhe mais do Especial 2022 do Música Pavê