Ana Larousse: Um Papo Sobre o Novo Álbum

ana larousse

Algumas semanas atrás, recebemos o convite para conversar com Ana Larousse, cantora e compositora de Curitiba , que lançou ontem o disco Tudo Começou Aqui, já disponível para download no seu site oficial.

Pra quem a conhece das voz doce e apresentações intimistas, 29 de abril é uma data muito aguardada. Mas, durante o encontro com nossos correspondentes de Curitiba, descobrimos uma cantora com influências nada convencionais, sem medo de fugir dos padrões da atual MPB.

Sentados à mesinha de um bar que ela mesma escolheu, próximo duas quadras da sua casa no São Francisco, bairro democrático do underground curitibano, pedimos uma cerveja e um drink maluco feito com uísque, doce e forte, só pra ir esquentando. Assim que chegou, Ana nos reconhece, puxa uma cadeira e pede água tônica, já que não bebe mais, talvez não muito, pelo menos não naquela noite.

Antes de entrar em detalhes sobre o álbum, das composições ao lançamento, a conversa foi logo atrás das suas origens, em uma singela e divertida memória sobre seu pai tocando músicas dos Beatles, Bob Dylan, Beach Boys e Simon & Garfunkel ao violão, com um copo de uísque ao lado, sentado no sofá da sala. Foi por influência dele e, meio que à contra-gosto no início, que ela foi pra sua primeira aula de violão, aos 10 anos. “Voltei de lá apaixonada”.

Na adolescência, houve aquele típico momento de revolta, quando começou a tocar em bandas de rock, com 13 ou 14 anos. Passou até pelos palcos dos lendários bares Linos, 92º e Bill. “Eram bandas de rock, bem barulhentas. Diferente de hoje, eu gritava muito. Era outro onda”.

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Mas as coisas mudaram bastante em 2004, quando conheceu na faculdade de artes cênicas os músicos Leo Fressato e Uyara Torrente (vocalista da Banda Mais Bonita da Cidade). Por indicação do novo amigo, tanto a paixão quanto os posters de Sex Pistols e Ramones pregados nas paredes do quarto começavam a dar espaço a Toquinho, Chico e Cazuza. “Não conhecia nada de música brasileira, não sabia cantar uma música do Chico”, já que, até os 18 anos, estava totalmente focada no rock inglês e americano.

O que surpreende muito é o fato de que a Ana nunca “cantou por aí”. Com um medo absurdo de mostrar suas composições e sua voz, a reclusão musical acabou explodindo cerca de dois anos atrás, apenas após muita insistência de amigos, mas principalmente pelas tentativas dolorosas que acabaram rendendo elogios e motivando, pouco a pouco, a soltar mais a voz e abrir sua gaveta e seus antigos cadernos. “Não tinha coragem de cantar em público, na frente de nenhuma pessoa. Tinha pânico da minha voz”.

Da relação com o amigo e parceiro Leo Fressato, o incentivo era, de certa forma, mais porrada. “O Leo me botava na parede pra cantar, eu tomava cerveja, ele insistia e eu cantava, baixinho, mas cantava”. Assim, ela começou a perder a vergonha. “Sempre tive orgulho das minhas composições, mas elas sempre foram muito auto-biográficas e cantar uma música minha era como contar um segredo meu”. Compreender essa exposição, foi um processo que levou tempo. “De tanto tentar, parou de doer, mas ainda sinto ciumes das minhas músicas, é uma tarefa de desapego, é tudo muito íntimo”.

As dez faixas de Tudo Começou Aqui soam como um arsenal de emoções, resultado de um profundo e belo despertar: “Pesquei as músicas mais simbólicas de um determinado período”. Metade no Brasil, metade em Paris, onde viveu cinco anos, suas letras tratam de visões pessoais sobre suas inquietações, mas escritas sabiamente para se ligar a percepções alheias as suas. Um detalhe: o nome do disco é um trecho de Vai Menina, música de abertura, uma frase emblemática que foi usada numa intervenção por Curitiba, impressa em stencil nos locais mais nostálgicos da cantora.

Produzido por Rodrigo Lemos, (A Banda Mais Bonita da Cidade e Lemoskine), o álbum consegue fugir das produções clássicas de MPB. “Nas mãos de outro produtor, talvez o disco saísse bem cartesiano, careta e tradicional”. Um fator determinante para a liberdade criativa do processo é que os músicos são todos do rock, “ouviram isso a vida toda”. Em dois ensaios, os arranjos foram decididos, através de ideias livres vindas de cada um. “Ficamos oito dias confinados, gravamos 80% do disco”. Isso foi em maio de 2012, em Rio Negro, na casa de sua avó, mesmo lugar onde o clipe de Oração foi gravado. Foram 8 meses ao todo. “Foi sem stress, no tempo que a coisa teve que ter”.

Por isso mesmo, você ouve o disco e, apesar da poesia e influências de MPB, é possível perceber um pouco de Pink Floyd, Radiohead, Beatles, Mutantes, Belle & Sebastian, Regina Spektor, Los Hermanos e Mallu. “A gente experimentou muito nesse disco”.

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É, a Ana tem tanta história boa, que não cabe nesse post, mas o que a gente diz com convicção e prazer é que, com esse material extremamente rico, Ana Larousse consegue finalmente abraçar algumas das suas melhores histórias, orgulhosa de poder dizer que é difícil estabelecer comparações, já que, no meio de tantas misturas, ela conquistou uma unidade muito específica, que poucos músicos conseguem imprimir num único projeto.

Pra quem estiver em Curitiba, nessa sexta-feira, dia 03, ela realiza o show de lançamento de Tudo começa aqui no ilustre, querido e centenário Teatro Paiol, às 20h30. Baixe o álbum no site oficial de Ana Larousse.

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