Amplexos Soube a Hora de Parar e a Hora de Voltar

“É muito doido como muita coisa muda em dois ou três anos”, disse Guga Valente ao Música Pavê ao comentar sobre a volta após o breve intervalo que Amplexos fez entre o início de 2018 e o lançamento do single Segura há cerca de um mês.

Ele conta que os músicos ficaram “durante quase treze anos trabalhando todos os dias pela banda. A gente tinha um estúdio próprio em Volta Redonda (RJ) e se encontrava todo dia às oito da manhã e ficava todo dia trampando pela banda, daí surgiram riscos, turnês e tal. Era uma entrega muito grande nossa”. “A gente lançou o Sendeiro em 2015 e rodar com aquele disco já foi diferente de A Música da Alma, de 2012, porque o público estava diferente, muita coisa já estava se transformando no que a gente está vendo hoje, uma dificuldade das pessoas com o diálogo”.

“A gente nunca trouxe questões muito claras de política, se posicionando de um lado ou de outro, mas vários episódios que rolaram nos deixaram assustados e, ao mesmo tempo, cansados desse trabalho de treze anos”, explica Guga, “a gente precisa se desenrolar individualmente, evoluir, para a parada ser mais potente quando a gente voltasse”. Após tanta dedicação, os seis amigos compreenderam que uma pausa era necessária, e ela foi decidida no camarim de seu último show – no réveillon de sua cidade natal, abrindo para Paralamas do Sucesso.

Em setembro de 2019, Amplexos se reuniu para comemorar os catorze anos de banda com um show no Sesc Volta Redonda, e combinou um retorno assim que começasse 2020 (ano que não suspeitávamos que redefiniria todos os planos possíveis). Logo após algumas poucas reuniões no estúdio – nas quais três bases foram gravadas -, veio a pandemia e separou a banda novamente.

“Mas a gente troca muita ideia pelo grupo de Whatsapp e Segura rolou com a gente já isolado”, conta Guga, “Mestre André, nosso baterista, começou a trabalhar umas batidas no celular e mandou no grupo, sem intenção daquilo virar música, mas aí o Leandrinho já fez um riff de guitarra e aquilo me bateu de um jeito que eu não esperava”. Em meio a tantos artistas consagrados pedindo ajuda pelas redes sociais e o amargo suicídio de Flávio Migliaccio, “fui vendo os mais velhos à minha volta, esses dinossauros, todos desesperados, e aquilo, de alguma forma, entrou naquela base da música”, explica ele.

“Coloquei ali uma pesquisa que eu estava fazendo em casa, pensando na brasilidade que é negada hoje em dia pelos caras que estão no governo. Isso ficou muito forte em mim, essa coisa de resgatar de alguma forma, em alguma melodia, a brasilidade que está se perdendo – e que é uma coisa que sempre esteve no nosso trabalho. Sinto que, de alguma forma, a música jamaicana, o afrobeat e o funk norte-americano estavam muito mais presentes do que a brasilidade no nosso som. Ela estava mais presente na gente mesmo”.

Movidos por um senso de coletividade (tanto o que forma a banda, quanto o que nos constitui em sociedade), os músicos produziram o single, seu primeiro lançamento em cinco anos, à distância. “É louco, fico pensando como vai ser tocar Segura pela primeira vez quando a gente vai se reencontrar (risos)”, comenta Guga, “a música sempre foi o que nos deixou mais juntos. Mesmo quando a gente estava distante por algum motivo, era a música que nos unia”.

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