Alfie Templeman: “Idade não importa se a música é boa”

“Acho que minha geração de músicos é a mais receptiva que o mundo já viu. Não importa quem você é ou o que quer fazer, você é parte da nossa família, desde que você ame fazer música e queira deixar os outros felizes com o seu som. Você é sempre bem vindo” – Alfie Templeman fala como um veterano da indústria ao comentar como observa a produção de hoje em dia. Afinal, mais de metade da sua vida foi investida na música, e 20% desse tempo foi sob contrato com um grande selo. São números que impressionam e são explicados à luz do fato de que o artista britânico ainda não completou os 18 anos de idade.

“Comecei a me dedicar à música aos sete ou oito anos, mas foi aos treze que comecei mesmo a compor”, contou ele ao Música Pavê, “mas basicamente minha vida toda foi dedicada à música”. Ao ser perguntado sobre como é ser o mais novo nas reuniões do selo e bastidores de shows, Alfie diz: “Não é algo que eu costumo pensar muito, mas, sempre que eu me dou conta, me pergunto ‘como é que vim parar aqui?’ (risos). Tive essa sorte de ser encontrado pelo meu selo aos 15 anos, e logo aprendi que idade não importa se a música é boa. E percebi nos últimos anos artistas novos cada vez mais dando as caras, gente da minha idade. E é isso o que eu quero fazer, mostrar para as pessoas que é possível chegar aqui mesmo sendo novo”.

Para além do talento como compositor e produtor, Alfie mostra também um grande bom gosto nas escolhas estéticas que traz para suas criações. “Meus processos são orgânicos e espontâneos”, conta ele, “sempre ouvi de tudo, desde criança, nunca me limitei a uma coisa só. O resultado disso é poder transitar entre tantas sonoridades como músico, o que é fascinante para mim”.

“Acho que se você me perguntasse há uns anos, eu diria que eu queria ser um artista indie, era nisso que eu estava focado. Hoje em dia, eu não quero estar preso a um gênero, eu quero poder estar em movimento e fazer sons diferentes uns dos outros, experimentando coisas novas. Isso me empolga. Meus primeiros trabalhos eram indie, mas agora eu posso ser pop, psicodélico, funky, e o próximo pode ser… nem sei, talvez mais rock, talvez mais pop, quem sabe algo mais progressivo… Tantas coisas me animam a compor, não quero ficar fazendo sempre a mesma coisa. Acho que seria chato”.

Alfie brinca que ele queria que cada música em seu primeiro álbum, Don’t Go Wasting Time (2019), fosse “como um diferente sabor de sorvete no buffet”. “Foi a primeira vez que me dediquei por muito tempo a fazer uma só obra, já que os EPs anteriores foram feitos em menos de um mês cada”, comenta ele, que lançou meses depois Happiness in Liquid Form (2020), no qual tentou “fazer algo um pouco diferente. Ele parece uma só história, cada música está dentro de um mesmo universo. Gosto de fazer discos muito diferentes uns dos outros. Minha ideia é sempre poder contar histórias diferentes. Don’t Go Wasting Time é de 2019 e é a minha vida naquele momento. Happiness in Liquid Form é o capítulo seguinte, onde eu estou agora”.

As novas músicas, a começar pelas histórias contadas no EP, mostram um eu-lírico um pouco mais decidido, falando diretamente sobre o que pensa e sente. “Honestidade, para mim, é tudo”, comenta Alfie sobre essas músicas, “tenho tentado ser mais direto na maneira com que eu falo sobre meus sentimentos. Se você perceber, não é que eu não estava sendo verdadeiro [nos meus primeiros trabalhos], mas eu ainda não tinha muita história para contar. Eu estava na escola, era muito novo, aquela fase de ‘a ignorância é uma benção’, não tinha muito o que dizer sobre mim, então escrevia sobre os outros. Mas agora que eu tive um pouquinho mais de tempo – me formei na escola, comecei a trabalhar como músico e conheci a indústria -, escrevo da minha própria experiência e do que aprendi até agora. Todas as novas músicas são sobre isso, sobre como eu mudei”.

Por falar em boas escolhas, Alfie mostra ter aprendido a trazer as pessoas certas para trabalhar com ele em seu som – como Tom McFarland (metade do duo Jungle) na recente (e maravilhosa) Shady. “Eu amo Jungle, então foi muito legal poder entrar no estúdio com ele. Somos do mesmo selo (Chess Club), e eu comentei com o gerente que eu adoraria trabalhar com Tom. É muito raro que eu peça para alguém produzir um trabalho meu, mas me pareceu a coisa certa. Nos encontramos e logo vi que ele é um cara super legal. Ele gosta de usar elementos diferentes, colocou sons de aeroporto na música. Passamos um tempo nos divertindo colando esses sons, um processo muito novo para mim. Algo que eu aprendi sobre meu processo recentemente é que eu sou um cara muito dos sintetizadores. Gosto de brincar com eles como base, ao invés de usar a guitarra, nas minhas músicas. Foi Tom quem me mostrou isso”.

“Pode ser difícil ter alguém no estúdio com você, mas ajuda se você for muito fã da pessoa”, comenta ele, “foi assim com Tom, e também com Justin Young (The Vaccines) e Nick Hodgson (Kaiser Chiefs). É raro ter alguém me produzindo, mas tive a chance de trabalhar com muita gente que admiro”. São nomes que tornam o portfólio do artista ainda mais impressionante, e ele comenta que a tendência é trabalhar em colaboração – reflexo de como ele observa a maneira com que sua geração interage e produz. “Vejo que com o TikTok hoje em dia, a música é mais colaborativa – qualquer um pode fazer parte”, comenta.

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