Aldo Não É Uma Banda

foto por gabriela schmidt

“Aldo is a band of brothers” era quase um slogan repetido no começo da década quando nos referíamos a Aldo  que, na época, vinha com um “the Band” acoplado ao nome. Tempos depois, os irmãos André e Murilo Faria parecem ter entendido que as palavras são menos necessárias na formação de sua identidade quando a música já comunica o bastante.

Não que o som venha sozinho – pelo contrário. Aldo tem construído uma das videografias mais legais da atualidade, um capricho que se estende também para todas a parte gráfica de seus lançamentos e para as fotos de divulgação. Somam-se a isso as novidades tão esporádicas (em relação ao ritmo do mercado), a atitude de projeto artístico e uma carreira fora do país resultam em uma trajetória muito particular. No fim, fica a noção de que Aldo não é uma banda como as outras.

“O que a gente não quer hoje, conscientemente, é ser escravo de single e de imagem”, contou André ao Música Pavê, ao comentar como o trabalho dos dois é diferente de seus contemporâneos, “você não consegue se repetir e não cria uma história, uma unidade. É insuportável estar o tempo todo correndo atrás de uma nova imagem no movimento de lançar single. A gente prefere tentar ter uma solidez em uma história, um álbum, uma vibe, por mais que isso vá contra o Spotify, por exemplo”. 

“A gente teve que entender como essas coisas funcionam para a gente”, comenta Murilo, “existe Spotify, existe como as pessoas trabalham para ele e existe como a gente trabalha. Se não for assim, fica uma coisa muito efêmera. A gente pensou se a gente ia ser feliz lançando um single por semana, ficar parecendo um boneco de posto dizendo ‘olhem para nós, olhem para nós!’. Isso é tudo muito fugaz. É muito fácil você perder sua identidade, então a gente gosta muito de conversar tudo antes, de saber o que vai plantar antes de jogar as sementes”.

Os irmãos conversaram com o site sentados em seu estúdio em São Paulo, lugar onde funciona a produtora Evil Twin, fundada pelos dois, e onde nasceu boa parte de seu mais recente EP, Trembling Eyelids. Lançado pelo selo inglês Full Time Hobby, o disco teve um processo descrito por eles como “artesanal”, apostando no isolamento para trabalhar cada aspecto da obra em uma dinâmica experimental.

É muito diferente você ir sem um plano e esperar por um acidente legal do que ir pensando em fazer a música para ter um milhão de plays”, comenta Murilo, “e a gente viu que essa é nossa satisfação artística”. André reforça que Aldo escolheu fazer música do seu jeito, “no nosso próprio relógio” e sem se preocupar em agradar: “A gente tenta não ser genérico, falar de amor e fazer um hit fácil de cantar. A gente é muito mais feliz em ter 30 pessoas ali se conectando de forma genuína do que ter mil que foram só para tomar cerveja e curtir a vibe. No começo, a gente queria isso, que as pessoas se divertissem. Hoje, a gente quer muito mais se comunicar do que agradar”.

Sempre houve na banda um desejo “de se comunicar não só com o Brasil, mas com o mundo”, o que pautou a preferência pelas letras em inglês e turnês fora do país. “Se você é de São Paulo, acaba sendo diferente de quem nasce em um lugar com uma personalidade brasileira incrível”, comenta André, “a gente dá entrevista para fora e os caras sempre perguntam [sobre SP]. É meio sexy pra quem vê de fora, tem um exotismo de ser brasileiro, mas não ter jacaré e araras, e ao mesmo tempo ser urbano e ter essa poluição”.

Foi na capital paulista que os dois tiveram contato, ainda muito cedo, com cenas que influenciam diretamente seu som ainda hoje, como o punk, o skate e a eletrônica – eles citam ter ido ver várias vezes Marky Mark tocar drum’n’bass na Lov.e (importante casa para a cena eletrônica da cidade no fim dos anos 1990). “É impressionante como todo dia tem uma banda nova para você ouvir aqui”, comenta Murilo, “a gente às vezes se esquece dessa efervescência. Você não vai pra NY e não tá rolando o que rola aqui, sabe?”. Sobre estar nesse contexto, André conta que tem “orgulho de ter sobrevivido. A gente conseguiu fazer uma coisa minimamente sustentável com nossa música em SP. Isso não acontece tanto”.

De volta ao assunto de como preferiram ir na contramão de como outras bandas têm tentado sobreviver na cidade e no país hoje em dia, eles contam que decidiram apagar das plataformas seu disco Giant Flea (2015), com músicas que já tinham atingido a marca de 1 milhão de execuções. “Foi desapego, a gente viu que a gente estava em uma fase nova”, explica André, “[na época,] a gente estava com a Skol Music, que queria que a gente fosse uma banda de festa, com uma música mais comercial do que a gente ficava à vontade. E não é porque você lança uma música que ela tem que estar no Spotify para sempre. Quem comprou o disco na época vai ter a música, como sempre foi na história da humanidade”.

“A música virou um acessório para as redes sociais, parece que ela está em segundo plano dentro de um contexto em que não é a música ser boa ou ruim, mas quantos likes, plays e views ela tem”, conta Murilo, “é tudo uma tentativa de tabular em algoritmos. A gente viu que a gente consegue chegar em um  milhão de plays, mas e daí? A gente não tem uma satisfação artística com isso. Então, a gente resolveu seguir o que a gente acredita”.

Curta mais de Aldo e de outras entrevistas no Música Pavê

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