Academia da Berlinda: “Não é fazer canção, é criar estéticas”
Quatro anos após seu último lançamento, a pernambucana Academia da Berlinda dá ao mundo hoje, 27 de março, seu quarto disco: Descompondo o Silêncio. Produzida por Kassin, a obra comenta o que a banda observou na entressafra dos álbuns, enquanto viajava pelo Brasil, conversava com as pessoas e refletia sobre o que estava acontecendo.
Falando ao Música Pavê, o vocalista Tiné comenta que era “um momento em que a gente observava a falta de respeito com o ser humano, um momento de radicalismo, o prenúncio de caos que a gente já estava sentindo”. Nesse contexto, ele e seus companheiros identificaram “essa angústia que estava dentro da gente de estar vendo tanta coisa errada e de não ter voz suficiente para comentar. Era o momento de descompor esse silêncio que nos deixa muito tristes e de trazer uma mensagem de alegria, solução e entendimento. Como se fosse um diálogo da gente com o público”.
Foi daí que surgiu o conceito principal da obra, cujo título vem da faixa A Música Não Para: “É o ofício do compositor tirar do silêncio uma organização de sons que se transforma em algo que emociona as pessoas”, conta Tiné, “‘descompor o silêncio’ tem um sentido amplo de atingir vários pontos da vida. Com isso, veio uma história de reflexão, de trazer o que a gente pensa sobre a vida, quais são as nossas dúvidas. Nesse diálogo, a gente tenta trazer coisas interessantes, que sejam relevantes para ajudar alguém, para divertir ou trazer paz. A gente tem uma função gigante de trazer energia para as pessoas”.
Para amparar esse conteúdo de questões introspectivas tão universais – em versos como “A vida como ela é/eu nunca sei” e “A verdade eu já não sei” ao longo do disco -, Academia da Berlinda escolheu formatos tão familiares quanto originais para suas músicas. Isso por trazer elementos que conhecemos bem, do reggae ao maracatu, mas em misturas que nem sempre vemos por aí.
“É muito difícil a gente dizer um só estilo”, conta Tiné, “a banda tem como base a música afrocaribenha, mas tem também uma forte influência da música nordestina. Todos nós tivemos uma grande vivência na música regional. Ela é tratada pela galera como folclore, quando os artistas da música popular são tão artistas quanto a gente ou os artistas do mainstream. Os caras são foda, pô. Eles compõem pra caramba dentro do estilo deles. A gente sempre teve essa visão de não ver aquilo como uma coisa parada, de museu. A gente pode olhar e se espelhar, achar bonito”.
A liberdade para criar, explica ele, é um conceito básico para o grupo: “Você é universal. Você pode ter uma banda de rock, ou de hip hop, e fazer coisas interessantes dentro dessas estéticas. Mas o que você acha de criar uma estética? A gente aprendeu isso lá atrás quando Chico Science trouxe o Manguebeat, ou com o Tropicalismo. Isso é uma coisa que a gente sempre teve como norte. Não é só fazer canção, é ter a possibilidade de criar estéticas”.
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