ABC Love Não É Só Música: É Também Mistério

Viaja aqui comigo nessa ideia: Bandas não existem de fato. Músicos se reúnem e criam essa entidade sujeita a mudanças de formação, de fisicalidade (vide Gorillaz) ou de distâncias entre seus membros (como essa pandemia nos ensinou). ABC Love existe assim como todos os outros grupos musicais, exceto por um detalhe muito específico: Ela é capitaneada por Gevard Du Love, uma “persona fictícia” de um músico que não mostra seu rosto nem nos shows, nem em entrevistas. Isso, somado à qualidade do som, faz com que seu trabalho seja tão interessante quanto – ou, em muitos casos, mais – o das bandas nas quais conhecemos suas partes em cara e em nome.

Através de uma ligação usando o @ da banda no Instagram, Gevard contou ao Música Pavê que a intenção do projeto é “não ser só música”: “Não é algo, tipo, eu tenho a minha música e não preciso pensar no resto. A ideia é ABC Love ser o todo, da estética do Instagram até os shows”. “Foi uma necessidade de se impôr ao ver tanto artista com selfie e querer contrapor isso com o mistério e construir essa história junto”, explica o músico, “vamos assumir que isso é uma brincadeira. É um personagem, uma máscara”.

Seu novo disco, Back to Love, traz essa finalidade coletiva ao parear Gevard com diversos convidados: Gab Ferreira, YMA, J. Viegas (das bandas Raça e Ombu) e Viktor Murer. Essas parcerias foram escolhidas a dedo para a estética presente na obra: “As meninas juntas (em Flertes) são super anos 80, J. Viegas traz algo muito peculiar para o som e Viktor tem muito a ver com Gevard – esse crooner com voz grossa de quem fuma”, conta o artista mascarado.

É uma sonoridade bastante diferente do que o projeto trabalhou em seu primeiro disco, ABC Love e o Álbum do Prazer (2017), que se desenvolvia por um lo-fi mais próximo à década de 1970. “O primeiro é mais escuro e introspectivo, esse segundo tem mais brilho e força, dá mais as caras”, comenta Gevard, “são escolhas que vieram no estúdio mesmo, ao fazer as músicas, e também da experiência dos shows. Eu queria que eles se desenrolassem mais, com músicas dançantes que levassem a galera para cima”.

As lições aprendidas com o lançamento do álbum de 2017 fortaleceram ainda mais a ideia do projeto se manter com sua proposta artística. “Teve gente que entendeu errado”, relembra ele, “sempre tem problemas de comunicação quando alguém tenta fazer algo diferente. Teve quem achasse que ABC Love só queria falar de sexo, quando a ideia era ser diferente e estranho, era usar uma foto com qualidade ruim quando todo mundo queria só a de melhor definição”.

“É um trabalho como um todo, que exige criatividade, e isso é o mais legal. Existe uma linguagem e a vontade de ser completo. Por mais que não seja perfeito, tem seu mérito por explorar um caminho diferente. Isso é muito importante na arte: Provocar, tentar algo novo. Até errar é importante”.

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