A Curitiba Desvairada de João

Ao se deparar com a forte poética de João Francisco Paes, é costume não ficar-se inerte. Uma opinião nasce, sempre. Geralmente é uma de boa surpresa, de agradar-se, pois o rapaz de Curitiba tem talento para escrever e engajar-se muito bem nas metáforas, metonímias, aliterações e demais figuras de linguagem. Estratégias de efeito usadas para fomentar interpretações, provocar o leitor, para arriscar-se o poeta. Não só. Não bastasse a poesia, que por si já é uma arte complexa de se fazer, João a insere em suas harmonias, criando melodias e fazendo nada menos que boníssima música. Não só, novamente. João é gravador (aquele que faz gravuras), formado pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná, além de pintor, escritor, escultor e um tanto de outras veias artísticas que demonstram o quanto ele é inquieto e provocador. Levando para sua música diversos modos de pensar e agir. Levando arte, a que causa estranhamento, que fomenta novas percepções do entorno, que tira você do sofá e lhe faz correr o mundo. Afinal, “arte sem risco não vale absolutamente nada”, diz João. Nós acreditamos, caro, também.

Lona do Circo

João nasceu em Guaratinguetá, leste paulista, em uma região conhecida pela rica cultura popular tradicional, o Vale do Paraíba. Mudou-se para Curitiba em 2006 para estudar e mora na cidade desde então. Apesar de não ser a sua única fonte de inspiração, a capital paranaense tem uma relação forte com as suas composições. Sentindo profundamente o cotidiano do curitibano é que muitas das suas obras nascem, percebendo o dia a dia das ruas, do Marco Zero, dos ambulantes, do que é despercebido pelos turistas. “Curitiba carrega essa imagem de cidade clean, mas na verdade existe muita mancha”, relata. É esta atmosfera real, e que não se enxerga dentro de um ônibus de turismo, que está presente em várias de suas composições. João canta a cidade, como na canção Colombo/CIC – Catedral, mas é difícil encontrar aspectos geográficos ou arquitetônicos, ele canta a anti-atmosfera de lá. “Curitiba só quer mostrar a beleza, inclusive na poesia, que às vezes se disfarça em uma espécie de rebeldia-de-condomínio-fechado, que nunca rompe, de fato, com as posturas enferrujadas. É como um vampiro sem dentes, lambendo-te aos poucos”, reflete. Compor rompendo com isto é o ideal deste paulista, e assim uma nova capital nasce para quem o ouve. Uma nova e real Curitiba. Que tal?

Nestes seis anos, João também aproveitou para conviver, fazer amigos e trocar muitas experiências com os músicos locais, criando parcerias valiosas com outros grandes artistas, como Alexandre França, Luis Felipe Leprevost, Troy Rossilho, Otávio Camargo, Rodrigo Augusto Ribeiro, entre outros. Segundo João, há uma troca grande de informações entre todos, “eu sinto que essa nova geração curitibana já cravou os dentes na música brasileira. Apesar de faltar muita coisa para que isso seja mais evidente”. Se referindo, talvez, às atenções insistentes dos meios de comunicação ao eixo artístico que mora entre Rio e São Paulo.

Cíclica

O vídeo acima faz parte do projeto No Estúdio do Troy, realizado pela produtora WTF?!Filmes em parceria com o cantor e compositor Troy Rossilho. O projeto tem como principal intenção a divulgação de artistas curitibanos.

Quer mais? João está se dedicando aos preparativos de lançamento de seu primeiro álbum, previsto para o segundo semestre de 2013. Boas surpresas poéticas porvir.

Veja mais de João Francisco Paes: Soundcloud | MySpace

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

2 Comments on “A Curitiba Desvairada de João

  1. João Francisco Paes é um gênio. Um fenômeno nas artes em geral. Na música, divino. Para nossa alegria, vivendo entre nós curitibanos !

  2. Pingback: João Francisco Paes no in.casa : Música Pavê

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.