2023: Discos que Marcaram o Ano
Colocar um disco para tocar é um processo quase ritualístico, mesmo se sua atenção estiver distribuída enquanto escuta aquela obra. Quando escolhemos desfrutar um álbum da maneira com que os artistas pensaram, é uma atitude reverencial à arte, é uma submissão à poesia em tempos de customização como tendência de mercado.
Cada obra em longo formato é um universo que podemos visitar, ou mesmo habitar, ou uma narrativa que se constrói pela soma de partes que gostamos isoladamente, mas ficam melhores ainda juntas. De todos os lugares e histórias que os discos nos deram em 2023, estes foram os que marcaram o ano, de acordo com a equipe Música Pavê.
Acompanhe todo o Especial 2023 no Música Pavê.
Rubel – As Palavras, Vol. 1 & 2
Uma mistura bem brasileira: Assim podemos descrever este disco. O cantor se jogou em parcerias com grandes artistas do país – como Xande de Pilares, Milton Nascimento, Mc Carol e BK’ – e passeou por diversos gêneros que são a cara do Brasil, incluindo o forró, o pagode e o funk. O destaque desse trabalho fica por conta dessa mescla de estilos e do resgate dos clássicos do forró, embora repaginados, Forró no Escuro (Luiz Gonzaga) e Assum Preto (Luiz Gonzaga). (Isabela Guiduci)
Olivia Rodrigo – GUTS
A garota californiana deixou a angústia adolescente do álbum de estreia pra trás, apenas para se deparar com os desafios de ser uma jovem mulher adulta. Em GUTS, a cantora aborda temas como pressões estéticas e comportamentais, relações fracassadas e inadequação social de forma mais aguda e molda sua sonoridade em direção a um pop estridente e até abrasivo (é possível escutar fragmentos sonoros de artistas como PJ Harvey, The Breeders, Elastica e Weezer no segundo disco). Em 2023, Olivia provou que não olha mais pelo retrovisor, só a estrada à frente. (Eduardo Yukio Araujo)
Jorja Smith – falling or flying
A famosa “maldição do segundo disco” não chegou perto de incomodar a inglesa que lançou o primeiro álbum após o consagrado Lost&Found, de 2018. Além da voz marcante — ainda melhor explorada neste trabalho — o instrumental dinâmico atravessa diferentes vibes e o disco passa voando. Indo do R&B ao Pop com pitadas de Jazz e Indie Rock, Jorja pede passagem como uma das grandes vozes da geração. (Nathan Farias)
Luiza Lian – 7 estrelas | quem arrancou o céu?
Do popzão de Homenagem e Desabriga ao experimentalismo de A Minha Música É e Eu Estou Aqui, o álbum revela, ou reforça, três grandes características de Luiza Lian. Primeiro, é o enorme valor conceitual do seu trabalho. É também indiscutível como a execução de suas ideias é sempre primorosa. E, por último, aponta a música brasileira contemporânea é capaz de nos divertir e encantar sem medo da complexidade de suas propostas. (André Felipe de Medeiros)
Ana Frango Elétrico – Me Chama de Gata Que Eu Sou Sua
Ana é uma daquelas artistas que pensam fora da caixa e criam tendências. Com seu terceiro disco, ela conseguiu elevar ainda mais o nível (que já era alto) desde o aclamado Little Electric Chicken Heart (2019). Ela pega composições de diversos outros artistas e junta um time de excelentes músicos para construir arranjos pra lá de originais e criativos. Seu vocal também está mais afiado do que nunca. O resultado são dez faixas que fazem carinho aos ouvidos e têm potencial para influenciar a música alternativa brasileira pelos próximos anos. (Nuno Nunes)
Janelle Monáe – The Age of Pleasure
Literalmente despida, Janelle Monáe mostrou que é uma artista multifacetada e, mesmo sem os adereços tecnológicos extravagantes, entrega um disco que é capaz de nos transportar para onde ela nos leva. No afrofuturista The Age of Pleasure, a artista absorveu a sonoridade do reggae e da música caribenha, enquanto manteve o clima sensual e empoderador, ao mesmo tempo, que a música nos convida a “flutuar”. O disco soa atual e a audição é como passar um dia na praia com amigos. (Guilherme Gurgel)
Mateus Fazeno Rock – Jesus Ñ Voltará
O grande lance desse álbum é que ele é difícil de digerir, confessional e brutalmente honesto. A poética-papo-reto dele é sobre estar sempre acompanhado da coerção à indignidade e da morte. “Essa porra não tem pausa”, Mateus confessa. A denúncia é cansada, a esperança é minguante. Tentar ficar de pé é uma meta incerta. É um empurra-empurra impossível, cheio de lama, de individualismos, de mais-ou-menos. (Vítor Henrique Guimarães)
Tagua Tagua – Tanto
Daqueles discos que você ouve inteiro sem nem perceber, e ainda dá vontade de ouvir de novo. Tanto é um disco bonito! Suas diversas camadas e elementos, lindas vozes e melodias, aliadas a uma refinada construção harmônica, funcionam como convite a uma viagem sonora muito gostosa de experimentar. Felipe Puperi acertou em cheio nesse seu segundo álbum do projeto Tagua Tagua, um dos melhores lançamentos em solo brasileiro dos últimos anos. (Diego Tribuzy)
Daniel Caesar – Never Enough
Mais intimista que nunca, o artista apresentou um disco carregado de sentimentos e emoções. Das canções mais enérgicas às baladas românticas, o projeto encaixa harmonias minimalistas e delicadas, que refletem as líricas vulneráveis e melancólicas de Caesar. Tudo isso, somado à suavidade da voz do cantor, faz com que os ouvintes embarquem na graciosidade desse trabalho. São esses pequenos detalhes bem-trabalhados pelo músico que tornam o álbum uma preciosidade do R&B contemporâneo. (Isabela Guiduci)
Xande de Pilares – Xande Canta Caetano
Pagode e samba, ritmos singulares do Brasil, acompanhados de uma voz forte e marcante, interpretando canções clássicas de um dos maiores nomes da música do país. Não tinha como dar errado. Ouvir Xande de Pilares cantando Caetano Veloso, em versões perfeitamente adaptadas para o estilo do primeiro artista, traz um sorriso ao rosto e um afago no coração. É um disco dançante e emocionante, os arranjos são rebuscados para o pagode e sofisticados para a música popular brasileira. Destaque para o bandolin de Hamilton de Holanda em Qualquer Coisa. (Lili Buarque)
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