Fotógrafo: César Ovalle (Cesinha)
César Ovalle (ou Cesinha, como ficou conhecido na Web) tornou-se popular por dois de seus (muitos) trabalhos: como fotógrafo oficial da NX Zero e por suas fotos no Instagram, que lhe renderam destaque no blog oficial da rede e levou suas imagens até à França em uma exposição.
Destacando-se cada vez mais dentro do mundo da fotografia de música, ele, que é formado em Rádio e TV, se aventura também como diretor de videoclipes e em projetos ligados a outros universos.
Tivemos uma super conversa com Cesinha (super simpático) sobre sua carreira, fotografia com celular e, é claro, música. Você pode conferir o bate papo abaixo, que se divide em outra parte que está no Atelliê Fotografia.
Música Pavê: Por que você escolheu a fotografia de música?
Cesinha: Aquele lance né, eu desde os 13 anos tinha banda. Mas banda furada, não dava em nada. A última até gravou um disco, não era gravadora nem nada mas a gente já era conhecidinho no underground. E aí larguei mão, mas sempre gostei de música, fui em muito show e nada mais normal levar uma câmera, que é o que aconteceu. Até que um dia, no lançamento do Ventura do Los Hermanos, lá em Caçapava o show tava praticamente vazio, fui na frente, tirei várias fotos. Cheguei em casa, descarreguei e olhei, “Porra, tá legal! Gostei disso”, mas fui meio arrogante pelo jeito, né? Me achei. Mas mandei pra umas pessoas e todo mundo gostou muito. Tinha contato com o produtor deles, já tinha entrevistado o Camelo, falei “não custa nada mandar”. No dia seguinte, meu email bombando, quando vou ver, estão todas as minhas fotos no site do Los Hermanos, todas. Dali pra frente, fodeu. Ele me chamava pra fazer as fotos quando eu estava morando em Curitiba eles me chamaram pra ser o único cara que ia tirar foto de um show. De 2003 a 2005, eu fiz alguns shows pro Los Hermanos. Paralelo a isso, NX Zero ia tocar muito lá e eu fazia foto deles. Eles gostavam muito, foi aí que criou o elo. Eles queriam me oferecer uma capa de DVD, o primeiro deles. Falei “ah, não vai dar tempo”, falaram pra fazer a capa do CD, então. Isso já era 2007-2008. Ai, um dia eu tava lá cobrindo a semana de moda em Curitiba, eu acordei com o telefone tocando. Era o guitarra: “Cesinha, estamos em Curitiba, vamos fazer a foto do CD?”, eu falei “Como assim, agora?”, ele falou “Tem duas horas pra produzir, vamos?”, “Mas onde?”, “Sei lá”, “Tá, mas qual o nome do disco?” “Não tem!”.
Fomos até a Ópera de Arame, umas pessoas reconheceram, mas lá não pode fotografar, aí consegui jogar papo num segurança. Falei que era NX Zero e o cara disse que a filha gostava. Falei: “Então faz assim, a gente vai lá dentro, fotografa dez minutos, e quando sair a gente autografa um papel pra tua filha”, ele fechou. Fui, fotografei em dez minutos, não tinha quase equipamento nenhum, usamos luz natural e foi. Dali pra frente, me chamaram pra gravar clipe, making of e fizeram a oferta de ficar com eles na estrada. Dali pra frente…São quatro anos já. Tudo que tem de imagem de divulgação do NX Zero é praticamente tudo meu. Eu digo que fui beirando a música e a música foi me tirando de outras coisas, entendeu? Na época em que fechei com eles, fazíamos em torno de dezessete shows por mês, então eu viajava o Brasil inteiro e não tinha tempo pra fazer nada, então a música me tirou do resto, nem se eu quisesse fazer outra coisa conseguiria. E aí você atrela sua imagem à música e todo mundo começa a te encarar como fotografo de músicos. Eu sempre fotografei outras coisas e botei no meu Flickr, sempre, mas ninguem dá bola.
MP: Como é a influência que músicas tem sobre suas fotos? Ela é narrativa ou mais sensorial mesmo?
Cesinha: Tem fotos que são de uma frase da música e tem umas que contam a história inteira. Tem uma que eu fiz faz tempo até, estava com uma câmera de filme e vi um casal de velhos de mãos dadas, com um guarda chuva, descendo a rua. Tirei a foto e, na hora, eu já vi o Último Romance, do Los Hermanos. Era aquela cena. Você pega a foto, pôe na sua frente, escuta a música e em nenhum momento ela vai sair da letra. Eu não chego e falo “vou fazer desse jeito”, eu deixo a música e vou sentindo. É a mesma coisa pra fazer clipe, pego a música e ponho no iPod, saio andando, brisando na história, sozinho. Paro num banco e, uma hora, as imagens vão vindo e vou montando a história em cima daquilo lá. Então eu sou muito de sentir. Tem dia que eu acordo e não consigo fazer nada, tem dia que eu acordo e sei que não vou conseguir fazer a foto que preciso fazer, tem dia que eu sei que não vai rolar. Já desmarquei um monte de trabalho por causa disso.
MP: Em que você acha que sua experiência com TV te confere um diferencial como fotógrafo?
Cesinha: Cara… (pausa) Não sei exatamente o que dizer em que ponto a TV me ajudou na parte de fotografia. Eu acho que é um pouco mais o contrário que acontece. A foto me ajuda no vídeo, me melhorou muito na questão estética. O contrário eu acho que é muito pouco, cara, mais idéias básicas, regra dos terços e umas coisas básicas. O contrário acho que ajudou bem mais porque, na foto, você usa muito vários ângulos da mesma coisa. No vídeo, as câmeras eram muito pesadas, não tinha como ficar brincando muito, procurando um ângulo diferente, né? Hoje, com a câmera menor e mais leve, você já copia o ângulo que você faz com uma foto.
MP: Ainda nisso, no que o trabalho com música te ajudou na fotografia de outros gêneros?
Cesinha: (pausa) Eu fotografo música e não reparo muito no ângulo da pessoa, se aquele é o bom ou não é. Eu tento retratar o que a pessoa tá passando no palco. Se o show tá animado, pesado, ou agressivo, eu tento transpor o que está acontecendo na foto. Depois, os caras vão olhar e falar “essa minha cara não tá boa”. Sempre rola o lance do ego, porque pra você tá bom, mas pra pessoa não – é a mesma coisa de você ouvir sua voz numa gravação. Aí você começa a saber lidar com esse lance do ego com feeling, entendeu? Você começa a saber a não fazer nem a foto bonitinha, nem esquecer a pegada, passar emoção. Aprendi a juntar os dois de forma equilibrada e acho que isso é tanto pra música quanto pra qualquer outra foto que eu vá fazer, porque, dependendo da foto, ela tem que passar alguma coisa. Tanto que quando é de divulgação da banda, eu nunca chego pro cara e falo “trava nessa pose, faz essa boca aqui”, eu chego pra eles e falo “eu quero mais ou menos em ‘V’”, eles se arrumam mais ou menos, deixo fazerem a pose que eles querem, a cara que eles querem. Sem forçar, uma hora vai sair a foto, sendo eles e não sendo o que eu quero que eles. No geral eu deixo elas o mais a vontade possivel pra ser elas e eu conseguir captar elas dum jeito que eu enxergo. A galera gosta, nunca ninguém chegou pra mim e falou “não, vamos refazer a sessão”.
MP: E quem você gostaria de fotografar, mas nunca teve a chance?
Cesinha: Cara… morreu já, mas eu acho que o Kurt Cobain, porque a minha vida mudou bastante de Nevermind pra frente. Eu lembro até hoje de eu pegando o vinil pela capa, colocando Smells Like Teen Spirit. A música acabou, a gente olhou e eu perguntei “que porra é essa?”. Eu ouvia Iron Maiden, Mötorhead, Pantera, Metallica… Já tinha ouvido punk, Ramones, mas quando eu ouvi aquilo, era uma coisa além. E dali pra frente, veio o grunge, aquilo pegou e me jogou pra um outro mundo. Foi ali que me abriu a cabeça. Depois veio Pearl Jam, que foi a mesma coisa com Jeremy, Alive… mas o Kurt, se estivesse vivo, eu queria fotografá-lo em preto-e-branco.
Agradecimentos a Gui Moraes e Renata Monteiro.
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Cesinha é um cara incrível…já tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente e ele é uma pessoa sensacional! Tão simples e tão humilde que quem o vê ali de pertinho…não imagina a complexidade espontânea da fotografia dele.
Ele faz parecer fotografia ser tão simples e ao mesmo tempo tão impossível! Foi observando suas fotografias que eu descobri que não basta conhecer as regras de enquadramento e comprar uma câmera pra ser fotógrafo, tem que vir de dentro…tem de ter o dom!
Parabéns!
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