Fotógrafo: B. Romain
Conheci o fotógrafo belga B. Romain há alguns meses e sempre gostei muito de suas fotos de shows. Apaixonado por boa música, ele estudava para se tornar um psiquiatra quando começou a se interessar cada vez mais por pedagogia para pessoas com dificuldades de aprendizado. Seu olhar sobre o comportamento humano confere às suas fotos uma atenção redobrada às ações e reações na dinâmica social dos shows, que fotografa como free-lancer para publicações em sua terra natal e para o webzine Liability. Além da música, sua série 60 Quotes publicada no Flickr o deixou famoso na comunidade e pode até virar livro. Veja fotos e entrevista abaixo.
Música Pavê: Como você começou a trabalhar com fotografia de música?
B. Romain: A música sempre foi importante para mim. Mesmo quando parei de estudar guitarra (por conta de uma tendinite crônica), sempre ouvi vários estilos musicais – do metal ao clássico – e nunca deixei de ir a shows. Comecei a trabalhar com fotografia em abril do ano passado, mas antes eu já fotografava shows pequenos. Quis dar um passo à frente e contactei a assessoria de um festival para me credenciar, mas eles recusaram, por que eu ainda não tinha muita experiência, nem um veículo para publicar. Então, eu decidi pedir para as bandas, que me deram o acesso. Ainda assim, a organização negou o meu acesso, mas eu consegui ficar bem na frente e fazer as fotos, que me abriram muitas portas. Em meu primeiro festival, o headlines era o Scorpions, o que não é nada mal para quem está começando. Depois delas, comecei a trabalhar com o Liability e não parei de cobrir shows.
MP: Quando você está fotografando música, quais as características que você quer que as imagens tenham?
B. Romain: Meu objetivo principal é [capturar] a energia dos músicos. Eu espero os movimentos, expressões faciais ou qualquer coisa que reflita o ambiente, independente do tipo de música. Eu não costumo fotografar o público, mas quero começar a fazer isso com uma lente fish eye.
MP: Você acha alguns estilos musicais mais difíceis de fotografar que outros?
B. Romain: Qualquer show com luz conceitual é mais difícil. Nunca vou me esquecer de um do Wolves in The Throne Room, com apenas cinco velas para iluminar todo o palco e nada mais. Música clássica às vezes também é difícil. A questão é ter que ficar em silêncio, o que pode ser complicado se você não vai preparado pra isso. Então, você precisa ficar imóvel esperando por algum momento que haja algum ruído para você poder “clicar”, sabendo que essa pode ser sua única foto daquele momento. Já outros tipos de show trazem outras dificuldades, como a dificuldade de se locomover no meio da multidão, a luz vermelha em shows menores ou o limite de três músicas, mas tudo isso faz parte do jogo. Cada show é único, então você não pode ser um fotógrafo de shows se não gostar de mudanças.
MP: Ao seu ver, quais são suas fotos que mais revelam seu estilo?
B. Romain: Primeiro, eu escolheria esta do Alice Cooper. Ele costuma ser fotografado se jogando pelo palco, ou apontando algo para a platéia, [mas este] é uma foto dele que não costumamos ver, um retrato não-convencional dele no palco olhando diretamente para a lente. Tenho sorte de ter conseguido capturar esse momento.
E esta é a Clarika, que fotografei no Festival de Verão de Bruxelas. O show aconteceu em um lugar pequeno e escuro, eu estava o tempo todo sentado ao lado do palco junto da platéia, mas não estava satisfeito com nenhuma das fotos. Quando o show estava para terminar, fui para a frente do palco, nem no meio, e consegui fazer esta. A luz que parecia sair de suas mãos fez daquele um momento incrível.
Você provavelmente não conhece Arno, um cantor Belga nascido em Ostend. Eu o acompanhei em dois shows e gostei muito de poder retratá-lo.
MP: Quais fotógrafos te influenciaram e te inspiram?
B. Romain: Curiosamente, não conheço muitos fotógrafos de música. Quando entrei no Flickr, pude descobrir mais sobre fotografia ao conhecer o trabalho dos outros membros. Fiz vários contatos por lá, mas não sei citar um favorito. Gosto muito do trabalho de Todd Owyoung, Rod Maurice e Javier Bragado. Também gosto de ler fóruns, como o Planet-Powershot e o Hardware.fr, e compartilhar meu trabalho com os outros participantes. A inspiração me vem em diversas formas, não necessariamente através de outras fotografias. Eu frequento o Abduzeedo, o InspireFirst e o Explore do Flickr quase todos os dias.
MP: Se você pudesse escolher qualquer show no mundo para fotografar, qual escolheria?
B. Romain: Quero muito fotografar o Depeche Mode! Mas também curtiria fotografar o Metallica, System of a Down e algumas outras bandas de metal, daquelas desconhecidas com nomes horrendos e complexos. Mas não vejo a hora de fotografar Scorpios (de novo!), Iggy Pop, Pendulum, Slayer e Megadeth agora no meio do ano.
MP: E, pra acabar, quais são suas ambições com a fotografia?
B. Romain: Ganhar dinheiro o suficiente para poder comer mais do que só miojo todo dia. Ou não, já que eu gosto de miojo. Bom, meus planos são continuar perambulando pelos shows na Bélgica e explorar mais festivais além dos que eu já cubro. O melhor para mim seria ser contratado por uma revista. Ao mesmo tempo, só faltam 14 fotos para completar minha série 60 Quotes, que eu adoraria publicar em livro quando acabar. Duas fotos dessa série serão expostas em Mons (sua cidade natal) daqui quatro meses e eu gostaria de expor também meu trabalho com os shows. Também quero começar a gravar vídeos. Estou discutindo com a Warner sobre as gravações do próximo show do Archive (With Orchestra), mas ainda não há nada confirmado.
Conheça mais do trabalho de B. Romain : Site – Flickr – Twitter – Facebook
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Gostei muito da entrevista!