Alexandre Órion É Iluminado por Músicos na Mostra “UNI”

UNI não é uma mostra como as outras. Ao invés de ganhar uma galeria ou museu convencional, ela está exposta em três estações de metrô de São Paulo (República, Luz e Alto do Ipiranga). As obras que lhe compõem também são singulares, visto que o artista Alexandre Órion subverteu a ideia de retratos convencionais feitos em fotografia.

Neles, diferentes personalidades posaram em interações com uma silhueta luminosa no centro do quadro. Esta é a única fonte de luz das fotos, diferente da “norma” dos pontos de luz atrás da câmera e ao fundo do retratado. “UNI retrata o humano através de uma única silhueta de luz, uma aura coletiva que nos iguala ao iluminar nossa diversidade. Não é apenas um retrato. É o registro de uma existência, de tudo o que nós representamos, de tudo o que transformamos positivamente no mundo”, conta Órion.

As personalidades que ele escolheu eternizar com a silhueta luminosa estão três músicos cujas obras repercutem esses ideais de diversidade e representatividade: Rico Dalasam, Larissa Luz e Criolo. Para saber mais sobre a mostra e sobre o trabalho do artista, o Música Pavê trocou algumas palavrinhas com Alexandre Orion – cuja origem na arte urbana também justifica a escolha do metrô para a exposição. Diariamente, milhões de pessoas dividem aquele espaço público e, agora, podem apreciar e também se reconhecerem um pouco no trabalho do artista.

Música Pavê: Como foi a escolha dos músicos que compõem a mostra? Qual sua relação com o som que eles fazem?

Alexandre Órion: Criolo é um irmão gênio. Um cara com tanta geografia, vida e amigos em comum. Foi o primeiro retratado dessa série. Todos os músicos dessa primeira edição do UNI representam o fluxo da periferia para o centro. A música sempre antecipa esse movimento, tem essa capacidade de atravessar paredes. Eu espero que a cultura de uma forma geral siga esse fluxo.

MP: A luz é uma metáfora também para as ideias, para a inspiração e a criatividade. O quanto esses artistas te iluminam?

Órion: André, eu sou iluminado pela arte. Não é à toa que esse governinho sombrio que a gente tem hoje ataca sistematicamente a cultura e as artes. É porque a arte é realmente libertadora. A cultura alimenta a alma e expande o espírito. Eu me inspiro na música, na literatura, no cinema, em todas as formas de arte, não necessariamente naquela em que eu atuo. Na verdade, a Arte é uma só, não existiria cinema se não fosse a literatura, não existiria fotografia se não fosse a pintura. A luz não é apenas a inspiração, ela é essa aura, essa energia vital que transforma o mundo, que direciona a humanidade para passos mais leves, mais amorosos, mais fraternais. Os artistas aqui retratados são apenas alguns dos grandes agentes dessa mudança que está sendo construída.

MP:  Como é retratar pessoas de forma tão lúdica em uma época de selfies?

Órion: Eu sempre gostei da crítica. Do pensamento crítico. Mas, nesse momento que estamos vivendo, a critica está esvaziada. Por mais válida que seja, diante de tanta cortina de fumaça e informações falsas, ela perdeu a capacidade de promover mudanças reais. Nesse cenário, eu fiz essa escolha: quero retratar pessoas, mostrar o quanto elas são bonitas, ressaltar o que elas fazem de bom, o que elas podem inspirar de bom.

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