Na Companhia de Gal Costa
Nos últimos anos, Gal Costa esteve confortável sentada em seu trono de grande diva da MPB. Seu penúltimo disco, Hoje, já trouxe algum frescor a sua discografia, mas Gal ainda parecia acomodada, com a voz relaxada e um tanto indisposta, com uma postura e um repertório que pareciam nunca se renovar.
Com o disco Recanto, Caetano Veloso vem tirá-la desse marasmo e fazer essa “mulher sagrada” despertar. Ao encaixá-la em seu projeto eletrônico, ele recupera a versatilidade de Gal como cantora e mostra que ainda é possível se renovar depois de 47 anos de carreira.
Gal sempre se moldou a quem estava ao seu redor. Aqui vai uma seleção de 5 músicas que mostram diferentes fases de sua carreira e como ela emprestava a sua voz a uma estética que estava muito mais ligada aos seus produtores.
Coração Vagabundo
Em uma vibe bem João Gilberto, essa música faz parte do primeiro LP de Gal e Caetano, Domingo. Lançado em 1967, o disco produzido por Dori Caymmi trazia os baianos fazendo releitura de sambas e marchas de carnaval, além de composições de próprio Caetano.
Vapor Barato
Música de Waly Salomão e Jards Macalé apresentada pela primeira vez no Fa-Tal, mas em uma versão mais acústica, relançada recentemente em uma coletânea de raridades, essa versão mais roqueira se aproxima exatamente da estética dos músicos que a cercavam (Waly Salomão, Jards Macalé, Lanny Gordin, Rogério Duprat…).
Estrada do Sol
Música de Tom Jobim e Dolores Duran gravada no Gal Tropical. O disco produzido por Guilherme Araújo afastou Gal da imagem hippie, dando ares mais sofisticados para sua performance.
Nuvem Negra
Essa música do Djavan faz parte do disco Sorriso de Gato de Alice, produzido por Arto Lindsay. O disco se destaca por ser um grande acerto na produção irregular da Gal durante os anos 90.
Miami Maculelê
Talvez essa seja a faixa mais polêmica do Recanto. Quem imaginaria Gal cantando um funk e Caetano de MC? Usei essa música em uma festa e não reconheceram a Gal, só elogiaram muito a música. É interessante pensar esse disco como o lugar para onde o Caetano seguiria depois do Zii e Zie. Gal se encaixa bem no projeto eletrônico, sua maior característica é essa capacidade de ser fluída.
Belíssima viagem, Darwin. Gosto de ver o quanto ela parece não ter medo de se reinventar e sabe sempre ser relevante pra época.
Isso chama confiança: na própria voz e em quem a produz. 😀
Ah, Vapor Barato!
Ótima seleção, ótimo texto e mãe de ótimo gosto!