A cantora mais tra$h da cidade

Lembro quando ouvi falar de Ke$ha pela primeira vez. Foi quando tive que escrever uma notícia sobre ela ter quebrado o recorde de downloads de uma música em uma só semana, que até então era de Lady Gaga. Sua estreia com Tik Tok mostrava a mesma imagem que a cantora vende até hoje, o que seu show em São Paulo (ontem, 28 de setembro) fez questão de deixar claro.

Cada uma das músicas sobre bebedeiras e sexo foi criada para compor a personagem, naquele fenômeno – ao qual já estamos acostumados – que faz com que o público compre a artista e não suas canções. Ela surgiu como uma alternativa trash às outras cantoras pop tão meticulosamente  perfeitas em penteados, figurinos e maquiagem. Seu maior ponto negativo? Ela perde vocalmente para qualquer outra cantora do gênero.

Ao ouvir seus hits, é notável o quanto suas canções não exigem um alcance vocal muito amplo e, ainda assim, a produção abusa do auto tune em todas as faixas. Ao vivo, ela canta direitinho, sem playback e sem desafinar, embora algumas das músicas (como Blow) sejam apresentadas um tom abaixo do normal, para facilitar a vida de Ke$ha e e de seus cantores de apoio – que também participam de coreografias e tocam alguns instrumentos.

Durante o show, ela bebe menos do que o esperado, até porque não daria para dançar de salto-alto tão alcoolizada quanto os fãs gostariam. Sua comunicação com o público se resume a um “papo de bêbado” repetitivo e gritado (“São Paulo, I f***ing love you”), mas a direção do espetáculo permanece sóbria e faz com que ela, ao vestir uma bandeira estadunidense no segundo ato, diga o quanto ama o Brasil.

Aliás, esse segundo ato ignora o clima futurista da abertura e reúne as canções com maior apoio de guitarras para construir um clima anos 70 inspirado em bandas como The Runaways – de longe, o melhor momento do show tão curtinho, já que, com apenas um álbum e um EP lançados, a duração total foi de pouco mais de uma hora, contando com trocas de roupas e um animador de platéia vestido de Papai Noel que finalizou a noite cantando a clássica (You Gotta) Fight for Your Right (To Party!) dos Beastie Boys.

O encerramento deixa ela como coadjuvante da zoeira no palco, enquanto o animador comanda a festa. Até essa escolha revela como ela é a mais humana, a mais acessível das cantoras. Não é preciso muita coisa para ser Ke$ha. Curiosamente, eram poucas as meninas vestidas ou maquiadas como ela. Talvez por São Paulo – cidade fundada por jesuítas – ser conservadora demais (em um momento, ela convidou todos para dançar e o público gritou bem alto em resposta; Em seguida ela falou para todos transarem naquela noite e poucas pessoas reagiram), ou talvez por ela ser um personagem que vale a pena consumir, mas sem levar muito a sério mesmo.

Tik Tok

We R Who We R

Veja o clipe Blow, de Ke$ha

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