Faixa Etária: Coldplay – “X&Y”

O primeiro contato da nova geração com obras de um passado não tão distante: Faixa Etária é uma série do Música Pavê que documenta experiências de escuta com um álbum escolhido por pavezeiros 30+, que foram marcados por aquela obra no tempo do seu lançamento.
A cada edição, vemos o disco pelos olhos de quem o viveu e, em seguida, pelas impressões de alguém que só conhecia a banda de nome, mas agora mergulha pela primeira vez no álbum inteiro, do início ao fim.
Coldplay – X&Y
por Vítor Henrique Guimarães
Coldplay já era uma banda consolidada quando o anúncio do álbum X&Y tomou as rádios em 2005. Sim, rádios. E eu friso isso porque tenho uma lembrança muito específica: Estar em uma Kombi descendo o Viaduto de Madureira no exato momento em que acontecia o lançamento nacional do single Speed of Sound. Oito horas da noite naquela única rádio.
Eu não lembro das repercussões porque o acesso a elas era muito diferente. Talvez seja chover no molhado falar sobre isso, mas, bem, nem os blogspots tinham grande vida no Brasil àquela época – até mesmo pra você ter uma conta no Orkut você precisava de um convite. A questão é que Coldplay era, à época, minha banda preferida (ao lado de Daft Punk), então havia uma grande expectativa com o que viria pela frente.
Um fato é que o single apontava em uma direção diferente do que a banda havia apresentado em Parachutes (2000) e A Rush of Blood To The Head (2002). Havia menos melancolia melódica, letras que buscavam otimismo em meio a frustrações e uma coletânea de músicas que, ao longo dos anos, colocaram o disco como um trabalho divisivo entre os fãs. Quase esquecido, não fosse o megahit Fix You.
Tenho um apego muito grande a esse álbum. Ele captura muito bem a transição entre o melancólico dos tempos de Yellow e Clocks e o festivo show de arena da era Viva La Vida, com seus sinos e paraísos e cânticos coletivos. É um interlúdio longo, de uma hora, com guitarras vivíssimas (como em Square One , What If , Low, e Twisted Logic), fórmulas pop (Talk, A Message) e músicas que não poderiam ser mais inglesas (The Hardest Part, Swallowed In The Sea, ‘Till Kingdom Come).
Primeiras Impressões
“Apesar dos maiores hits do grupo não estarem nesse álbum, encontrei nele as melodias mais lindas da banda. Os ecos dos anos 1990, a melancolia, as construções harmônicas simples – mas que atingem profundamente em lugares que eu não gostaria e nem sei nomear – estão lá. Se eu escutasse pela primeira vez em 2005, se transformaria em um álbum importante, e um marco pra mim. Mas muito do que veio depois de X&Y me lembra de alguma forma ele, inclusive algumas músicas do próprio Coldplay que não curto muito, o que torna minha experiência com o disco total atravessada e cheia de buracos e complexidades. Mas posso dizer que, mesmo fragilizada, a magia X&Y me pegou um tanto nessa primeira escuta em 2025. Sinto a real necessidade de ouvir o disco mais vezes” (Nina Veras)
“Devo confessar que não estava com altas expectativas para ouvir este trabalho. Da discografia do grupo, já conhecia alguns álbuns na íntegra (Mylo Xyloto, A Head Full of Dreams, Everyday Life e Music of The Spheres) – e esperava um pouco de cada um deles em X&Y. Embora haja elementos em comum, o projeto lançado em 2005 soa mais coeso e consistente como um todo. Além de Fix You, que é um hit clássico da banda e dispensa apresentações, há algumas canções com boas construções, como Speed of Sound, Square One e A Message. No geral, achei interessante como esse lado mais introspectivo e melancólico de Coldplay fora bem trabalhado nas faixas, ainda que em alguns momentos o disco acabe soando um pouco repetitivo e enjoativo. Ainda assim, a experiência de experimentar esse trabalho foi bastante curiosa e surpreendente!” (Isabela Guiduci)
“Em Swallowed in the Sea, Chris Martin diz “And I could write a song a hundred miles long” e imediatamente cumpre a ameaça, com uma música tão repetitiva, que faz 4 minutos parecerem horas. Pelo contexto: Conheço pouco de Coldplay, mas ouvi X&Y de coração aberto, porque amo Yellow. A sensação de catarse que eu esperava graças ao single de Parachutes foi atendida por algumas músicas, como a faixa-título, Speed of Sound e Twisted Logic. Chris Martin realmente canta direto para nossa alma e as linhas de bateria sempre são muito energéticas. Mas muitas músicas me pareceram insistir muito em um mesmo elemento, como a melodia de Swallowed in the Sea, o refrão insuportável de What If, ou o solo de guitarra moroso de Talk. Não acho que vou revisitar X&Y muitas vezes. Por enquanto, Yellow segue sendo a única da banda tocando aqui em casa” (João Filimas)
“Ouvir esse disco por completo pela primeira vez me chocou imensamente, já que imaginava que ele seria semelhante aos trabalhos recentes da banda que, na minha opinião, são mais genéricos. Nesse álbum, consegui enxergar o porquê de Coldplay ser uma das maiores bandas pop do mundo, para além das faixas famosas. A qualidade musical e das letras fizeram com que eu curtisse muito o álbum, principalmente as faixas White Shadows, Low e Talk. (Lorena Lindenberg)
“Conhecia os álbuns mais recentes da banda, mais ou menos a partir de Ghost Stories, além dos singles. O álbum é bem parecido com o que eu imaginava, esperava encontrar momentos de rock mais direto, talvez algo mais ‘potente’ em algumas faixas. A expectativa era por um álbum mais puxado ao indie rock com guitarras mais marcadas, o que, em parte, se confirmou, mas de maneira mais contida do que imaginei. O piano não está ali só como pano de fundo, mas como parte central da narrativa sonora. E mesmo nas faixas que flertam com o pop ou o eletrônico, há um cuidado com a densidade emocional que me chamou atenção. É um álbum que não se apressa, e talvez por isso consiga envolver tanto. A melancolia do álbum tem camadas, e isso contribui para uma escuta mais envolvente. Mesmo sem se arriscar tanto musicalmente, X&Y cria uma bolha introspectiva que acolhe. (Mariana Santos)
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