Vampire Weekend – “Capricorn” e “Gen-X Cops”

No ensino de física, existe a figura de linguagem do metrô, que é um veículo que – com certa liberdade poética na explicação – “quebra” nossa ideia de três dimensões ao criar um outro plano (ou seja, uma “quarta dimensão”) em relação às ruas na superfície da Terra para se deslocar livremente. Talvez essa seja a ideia por trás da escolha que Vampire Weekend fez para ter os trens subterrâneos como pano de fundo do universo imagético do disco Only God Was Above Us (“Só Deus estava acima de nós”), estabelecendo assim relações poéticas com a dinâmica de “em cima” e “em baixo” (o céu e o metrô), e a da dimensão humana com a divina.

O metrô faz parte integral dos dois videoclipes, lançados simultaneamente, que apresentam os primeiros singles da obra. Capricorn e Gen-X Cops, mesmo que feitos por diretores diferentes, têm em comum também montagens que acompanham visualmente os elementos e mudanças que escutamos nas músicas, além de uma coesão estética presente também nas cores e na textura de filme que toma conta de boa parte das obras.

Capricorn traz uma visão pouco romantizada do passado, um movimento artificial na natureza humana. Dirigido por Nick Harwood, o vídeo resgata cenas de décadas passadas e constrói um universo degradado, um tanto distópico, que ganha tons cada vez mais lúdicos ao longo dos diferentes atos propostos no roteiro.

É um clipe bastante imersivo e que sabe surpreender a cada cena, incluindo na sequência final e sua tensão entre clímax e anticlímax. Vale notar também uma das cenas iniciais, com um homem que quebra a gravidade dentro do vagão do metrô (imagem usada como trailer do álbum, lançado uma semana antes), o que se liga à ideia das brincadeiras com as dimensões que o disco parece trabalhar.

Avaliação MP:  5/5 ★★★★★ 

Gen-X Cops tem direção de Drew Pearce e é o tipo de vídeo que parece mais preocupado em imergir o espectador na música em si – é então que a sincronia entre montagem e som brilha ainda mais. Assim como o anterior, também há uma quebra de ritmo grande nas cenas finais e brincadeiras com quebras de dimensões e planos, como a cidade invertida.

Fosse lançado sozinho, talvez seria ainda melhor. Porém, na comparação com Capricorn, é uma obra que apresenta um roteiro um pouco menos detalhado, então o resultado é menos impressionante, ainda que excelente. Só de dar conta de acrescentar visualidade à produção tão complexa da faixa, já seria merecedor de toda nossa atenção.

Avaliação MP:  4.5/5 ★★★★½ 

Curta mais de Vampire Weekend no Música Pavê

Compartilhe!

Shares

Shuffle

Curtiu? Comente!

Comments are closed.

Sobre o site

Feito para quem não se contenta apenas em ouvir a música, mas quer também vê-la, aqui você vai encontrar análises sem preconceitos e com olhar crítico sobre o relacionamento das artes visuais com o mercado fonográfico. Aprenda, informe-se e, principalmente, divirta-se – é pra isso que o Música Pavê existe.