Zeca Pagodinho, no Festival Turá: “Toda música é boa”
O segundo ano do Festival Turá confirmou a identidade formada em sua estreia, em 2022, a de um evento que quer celebrar a diversidade encontrada na música brasileira de hoje. A edição de 2023 – novamente no Parque do Ibirapuera, em São Paulo – será talvez lembrada pelos muitos encontros que aconteceram no palco, que reforçaram ainda mais sua ideia de “mistura”.
“Toda música é boa”, afirmou Zeca Pagodinho ao receber um pequeno grupo de jornalistas em seu camarim antes de seu show no sábado, 24. Ao ser perguntado sobre a nova geração da música, o carioca de 64 anos comentou que os novos sons “têm que vir, a garotada tem que fazer”, e que os próximos movimentos artísticos vão surgir com esses jovens artistas – “[mas] não ficar pensando nisso, né?”, continuou ele, “ninguém estuda pra ser sucesso. Eu fiz tudo pra dar errado e tô aí”.
Acompanhado de uma grande banda, Zeca trouxe seu samba tão raiz quanto arrojado para um enorme público que participou como pôde do show anterior, de MC Hariel. O funkeiro paulistano, de 25 anos, engajou a multidão ao cantar os já clássicos Eu Só Quero É Ser Feliz (de Cidinho e Doca) e Fico Assim sem Você (Claudinho e Buchecha), mas, no geral, cantou para um grupo de pessoas muito menor que estava em frente ao palco.
“Eu fui fazer um outro festival que eu achei que aquilo não era pra mim”, [pensei] ‘isso aqui é só garotada’”, relembra Zeca quando questionado sobre sua presença ao lado de artistas mais novos nesses eventos, “aí, eu vi um monte de garoto… eu tenho público criança, de criança até 100 anos. É muito louco isso”.
Jorge Ben Jor e Gilberto Gil, em show acompanhado de sua família, foram as duas atrações que fecharam as noites do Turá, também apreciados por diferentes gerações, principalmente as que nasceram quando seus repertórios já existiam. No início do show de Jorge, por exemplo, dava para ver uma moça em uma chamada com pai e mãe no celular, mostrando o palco. A poucos metros dela, um casal à beira da “melhor idade” cantava Chove Chuva abraçados.
Esse clima de evento amigável, sem o perrengue de caminhar entre muitos palcos e à sombra das árvores é algo que o Turá repetiu na segunda edição, embora as críticas às grandes filas e pouca disponibilidade de bebida tenham sido tão frequentes quanto justificadas. A julgar pelo volume de comentários negativos, é possível que a boa música fique em segundo plano na memória das pessoas, ofuscando assim a variedade e a relevância das atrações.
Às vésperas do anúncio dos shows da primeira edição em Porto Alegre (18 e 19 de novembro), é de se esperar que o Turá repita no futuro a mescla de estilos musicais e até gerações que marcaram essa edição. E é mesmo importante investir nesses artistas que, por enquanto, se recusam a se aposentar. “É cansativo, eu quero viver mais, mas [minha produtora] não deixa”, brinca Zeca Pagodinho ao ser perguntado das turnês.
O sambista comenta também que “tem muita gente boa” na nova cena brasileira, como a que se apresentou no festival. “Não é como a gente, né?”, brinca ele, “mas a gente também não era como os outros. A velha guarda também já falava que a gente era diferente, e [os novos] um dia também vão falar que os outros são diferentes”.