Dicas de Discos do Mês: Maio/2023

Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.

Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.

Eis as dicas de maio de 2023.

Mahmundi – Amor Fati

A maravilhosa Mahmundi nos presenteia com dez faixas de Amor Fati, que, de acordo com Friedrich Nietzsche, significa “Amor ao Destino”. Dessa forma, a artista carioca encanta mais uma vez com verdadeiros poemas de celebração à vida e ao amor, envolvidas em batidinhas deliciosamente dançantes e sensuais. Mais um disco diversificado, que demonstra o talento multifacetado da cantora e compositora. É delicinha para ouvir várias vezes ao dia. (Rafaela Valverde)

Marcelo Tofani – Fantasia de um Amor Perfeito

O belo-horizontino Marcelo Tofani está se apresentando formalmente ao público em Fantasia de um Amor Perfeito. O ex-Rosa Neon misturou várias referências do pop nacional e latino para falar das expectativas em um romance, do flerte excitante à inevitável separação. Com lançamento pelo selo A Quadrilha, de Djonga, o disco conta com letras que desenrolam fácil nos vocais lisinhos de Tofani e grudam mais fácil ainda na cabeça. (Guilherme Gurgel)

Martinho da Vila – Negra Ópera

Com faixas novas e regravações, com composições próprias e de outras mentes geniais do samba, o novo álbum do cantor carioca brilha as cores mais humanas: A melancolia que irrompe a festa, um coração desiludido, o sangue ancestral que ainda pulsa o corpo e o espírito do terreiro. Negra Ópera chega a ser redundante: A música clássica negra invoca teatralidade sempre justamente por ser coletiva. E Martinho sabe e brinca com isso como ninguém. (Vítor Henrique Guimarães)

Jadsa + YMA – Zelena

A colaboração de YMA e Jadsa soa inusitada a princípio: Há mais diferenças do que semelhanças no trabalho das duas artistas. O que esse EP prova é que, ao aprofundar a experiência criativa e sensorial, ambas se desafiaram e o resultado é instigante e divertido. Seja no funk branco oitentista de Mete Dance ou no rock esguio e soturno em Meredith Monk, a experiência é semelhante a estar em um bar enfumaçado com aroma de conhaque na companhia de dançarinas do ventre e engolidores de espada. Ouçam. (Eduardo Yukio Araújo)

Mateus Carrilho – Paixão Nacional

Mateus Carrilho lançou seu primeiro álbum solo desde a saída da Banda Uó. E o álbum aguardadíssimo pelos fãs, não deixou barato e foi além das expectativas. Paixão Nacional – desculpem a redundância – é apaixonante, é intenso e calmo e um mix de ritmos dançantes e que deixam a brasilidade à flor da pele. As participações de Luísa e os Alquimistas e Hiran dão um toque ainda mais versátil e colorido ao disco. (Rafaela Valverde)

Gotopo – Sacúdate

Das favelas de Caracas, na Venezuela, vem o som do changa tuki, gênero eletrônico marcado por elementos do techno e da house music. Um nome que vem tentando espalhar a palavra do changa pelo mundo é Gotopo, que acabou de lançar seu primeiro EP, feito em colaboração com o produtor Don Elektron. Acenos ao reggaeton, ao funk e à música cubana permeam um disco que soa familiar, e com razão. Não só empolgante, como bonito. Sacode e vai. (Vítor Henrique Guimarães)

NJOMZA – STAGES

Talvez você conheça esta artista estadunidense (via Alemanha e Albânia) por ser co-autora dos hits 7 Rings e Thank U, Next, de Ariana Grande. Mas há muito mais para conhecer sobre a cantora e compositora: o terceiro EP da carreira de Njomza é um triunfo do pop inventivo e emocional. Operando através do passado estrutural do pop recente (R&B, synthpop, hip hop), a moça entrega uma coleção de músicas perfeitas para o pós tudo de uma noite agitada. (Eduardo Yukio Araújo)

Kesha – Gag Order

Em Gag Order, Kesha tem raiva, arrependimento, esperança e aceitação. Com um pop sombrio, a cantora reflete sobre o que tem vivido, na briga judicial em que acusou Dr. Luke de assédio sexual e moral, mas acabou como alvo de um processo por difamação e quebra contratual. Em composições que mostram as marcas que todo esse processo deixou em seu íntimo, a cantora está se distanciando do pop eletrizante do início da carreira. É como se as batidas eletrizantes que alçaram a cantora do hit Tik Tok à fama estivessem distorcidas pelo pesadelo que ela viveu nos últimos anos. Ouvir esse disco é presenciar a elaboração de um trauma, muito bem traduzida na música. (Guilherme Gurgel)

Mestizo – Mestizo

Mestizo é o rechoque de universos que possuem as mesmas raízes. De um lado, o currulao e a cumbia colombiana, e do outro o jazz inglês – todos com origens incontestáveis nos sons africanos. O projeto encabeçado pelos produtores Daniel Michel (colombiano) e Ahnansé (inglês de origens caribenhas) te toma com muita facilidade, de uma forma muito genuína. O time de convidados para o álbum é grande e conta até com DoomCannon, que debutou ano passado com o ótimo Renaissance. Disco pra fazer o esquenta do rolé de sábado à noite. (Vítor Henrique Guimarães)

ÀTTØØXXÁ – Groove

Groove, do grupo baiano ÀTTØØXXÁ, harmoniza vários ritmos, da black Music ao pagodão baiano. O álbum, que foi gravado em uma casa na ilha de Itaparica, sem nenhum tratamento acústico, traz músicas dançantes e sensuais, que nos transportam para o suíngue e o cotidiano baiano. Com participações de Liniker, Carlinhos Brown e Thiaguinho, entre outros, o disco grooveia deliciosamente tudo o que encontra pela frente. (Rafaela Valverde)

Macha Kiddo – Mala Crianza

Existe um movimento de rap/trap queer na América Latina que é bacana demais de ver. Um dos nomes que não erra nas músicas é a costa-riquenha Macha Kiddo, que chega ao seu segundo álbum (a sequência do ótimo Lesbihonest, de 2021). Ela aposta nos graves, no flow e na farofa. Uma farofa sexy, de pisada forte, coisa de deixar tocando alto no carro na festinha de rua. (Vítor Henrique Guimarães)

Zé Ibarra – Marquês, 256

Dois grandes acontecimentos marcaram a carreira e a vida do cantor e compositor carioca nos últimos anos: Bala Desejo, grupo que ele fez com os amigos para gravar composições pandêmicas, e a última turnê de Milton Nascimento, que Zé acompanhou do palco, como cantor de apoio. Seu primeiro álbum solo vai na contramão da magnitude de muitos timbres, vozes e luzes e coloca sua interpretação em um lugar minimalista, com apenas violão ou piano no acompanhamento. E é aí que nos lembramos por que ele é um dos grandes cantores de sua geração. (André Felipe de Medeiros)

Supercombo – Remédios

Supercombo lançou Remédios como ruptura musical dos tempos pandêmicos. Com batidas de rock mais pesadas que Adeus, Aurora (2019), ao invés do pop mais suavizado e com socorros para horas ruins, Remédios traz mais um fôlego do fim dos momentos difíceis, mas é possível perceber elos entre um e outro, como novos fôlegos e promessas de recomeços. O que atrai é justamente a ideia de um Adeus, Aurora aperfeiçoado, com um rock suavemente pesado, mas ainda assim pop. (Rafaela Valverde)

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