Dicas de Discos do Mês: Setembro/2022
Em um mês, uma grande quantidade de trabalhos musicais chegam ao mundo. Apesar de todo empenho da equipe do Música Pavê, nunca é possível contemplar tudo. A fim de chamar atenção para a impossibilidade de abraçar o mundo da música, fica aqui a seção Dicas de Discos do Mês, com álbuns que não deu tempo de comentar no momento exato de seu lançamento.
Os pavezeiros indicam obras que não podem ficar de fora dos seus dias. Se deparar com um trabalho musical que mexe com você é muito prazeroso, então fica o incentivo de experimentar esses sons e ir além, se atentando às recomendações de outros veículos e até mesmo às sugestões de algoritmos. Nunca se sabe de onde pode surgir seu próximo disco favorito.
Eis as dicas de setembro de 2022.
Rachel Reis – Meu Esquema
Se ela já nos dava motivos para tê-la em nossos radares, seu primeiro álbum é prova definitiva que o nome Rachel Reis tem tudo para estar entre os maiores de sua geração. Do pagodão ao ijexá, passando por batidas deliciosamente indie, Meu Esquema desenvolve o que a música brasileira contemporânea tem de melhor ao longo de suas doze faixas – e ter Céu ali como convidada é uma enorme “boa vinda” a Rachel ao “neo-Olimpo” da MPB. (André Felipe de Medeiros)
ÀVUÀ – Percorrer em Nós
A dupla composta por Jota.pê e Bruna Black não precisa de mais de uma música pra te convencer a ficar e se deixar ser percorrido pelo disco sensível moldado por eles. Trazendo a importante lembrança que pessoas negras também sentem, se afetam e amam, os vinte e cinco minutos do disco de pop/MPB do álbum parecem ser insuficientes e garantem rapidamente alguns replays e flertes certos. Pra quem gosta do som de Gilsons e Yoún, ÀVUÁ é um prato cheio. (Vítor Henrique Guimarães)
The Afghan Whigs – How Do You Burn?
Bandas com longa trajetória estão sempre ameaçadas por falta de inspiração, perda de timing, cansaço criativo e perda de integrantes. No caso do grupo estadunidense, toda a carga da trajetória parece apenas inspirar novos desafios. De banda independente incensada a quase estrelas da era grunge, o coletivo liderado pelo intenso Greg Dulli segue seu renascimento criativo com talvez seu melhor álbum dos últimos dez anos: tumulto emocional, dinâmica instrumental impressionante e ganchos pop: Envelhecer não apaga velhas chamas. (Eduardo Yukio Araujo)
5 Seconds of Summer – 5SOS5
Mais intimista, independente e visceral, 5SOS5 expõe a nova fase musical dos australianos, reflexo de onze anos de carreira. Fruto de um processo criativo interno e singular, as 19 canções passeiam por melodias melancólicas, riffs acelerados, sons experimentais com sintetizadores e várias vozes – os quatro integrantes trazem seus vocais para diferentes faixas. Mescla de um trabalho coletivo com marcas individuais, o álbum é, certamente, o destaque da discografia da banda até agora. (Isabela Guiduci)
Oliver Sim – Hideous Bastard
Depois de Jamie xx e Romy, agora é a vez de Oliver Sim, músico que completa o trio The xx, brilhar em sua carreira solo. Pelo teor pessoal do disco, Hideous Bastard nos apresenta um rosto à voz já conhecida e também às inseguranças que Oliver carrega consigo. As dez faixas — ora mais dançantes, ora mais paradas — contam uma história de quem aprendeu aos poucos a se acostumar com a sua própria pele. (Thaís Ferreira)
Built to Spill – When the Wind Forgets Your Name
O décimo álbum de estúdio da banda que ajudou a definir o rock alternativo dos anos 90 repete muitas das fórmulas que fizeram eu e muita gente se apegar por seu som, mas também traz boas novidades, tanto no trabalho instrumental quanto na mixagem – ambos feitos com a colaboração dos brasileiros Lê Almeida e João Casaes, da banda Oruã. É surpreendente ver uma banda com tantos anos na ativa que ainda consegue lançar um trabalho tão bom. (Marília Ferruzzi)
Giovanna Moraes – Para Tomar Coragem
O novo álbum da cantora e compositora paulistana é um trabalho voltado para o rock: exercitando algumas vertentes dentro do gênero, a já conhecida habilidade de Giovanna para criar canções bem delineadas se amplifica. Se antes tínhamos a voz forte conduzindo espaços em estilos que resvalavam no pop internacional e MPB (além do próprio rock), aqui não há dúvidas: banda bem afiada atacando o rock de garagem, hard rock, indie e pop rock com destreza. Sólido como pedra. (Eduardo Yukio Araujo)
Sudan Archives – Natural Brown Prom Queen
A estadunidense Brittney Denise Parkschega ao seu terceiro disco saindo um pouco de sua experimentalidade e apostando firme num preciosismo notável. É como se fosse uma terceira irmã Knowles: mobiliza um pouco do pop envolvente e sensual de Beyoncé, um pouco do lado indie e introspectivo de Solange, mas cria seu próprio caminho e constrói um álbum quase de art-pop – talvez um black art-pop? Há um certo tom épico em alguns momentos, reforçando que a experiência de escutar o disco é algo grande e marcante. (Vítor Henrique Guimarães)
Gabriels – Angels & Queens (Part 1)
O trio estadunidense já tinha lançado dois EPs com uma produção de primeira linha, misturando neo-soul, jazz e R&B de uma forma bastante atual e original. O álbum de estreia os traz ainda mais afiados, com um som genuinamente charmoso, misterioso, quase noir; além de, claro, revelar Jacob Lusk (ex-participante de American Idol) como um cantor a ficar de olhos e ouvidos atentos pro que pode nos trazer – sua performance lembra nomes como Cee-Lo Green, Gil Scott-Heron e Seany Clark. Delícia. (Vítor Henrique Guimarães)
Vanguart – Oceano Rubi
O rock folk brazuca já estabelecido do grupo Vanguart está carregado de paixão em Oceano Rubi. E vale tudo: paixão romântica, paixão pela vida, paixão pela família. O disco irmão de Intervenção Lunar – lançado em 2021 – carrega a beleza nas composições diretas e na espontaneidade das melodias. Gravado em meio a pandemia, o álbum traz mensagens de esperança por tempos melhores. (Guilherme Gurgel)
Editors – EBM
Editors é o tipo de banda que te leva para o terraço de um prédio no meio do céu cinzento de uma grande cidade. Ícones do revival post-punk, Tom Smith e seus amigos honram o legado de Joy Division e Depeche Mode. EBM, logo na faixa de abertura, a enérgica Heart Attack, mostra o que há de mais singular no disco: um clima eletrônico soturno, pulsante, carregado de emoção, de um senso de urgência e um anseio por conexão. (Bruno Maroni)
Number Teddie – PODERIA SER PIOR
Se o aval de Zane Lowe, ex-DJ da BBC, curador e apresentador da Apple Music não chamou sua atenção, guarde agora mesmo um tempo para conhecer o criador de Manaus que já assinou parcerias com Pabblo Vittar e Urias. A estreia mapeia o pop através do punk adolescente, mas há algo mais substancial no álbum. As letras confessionais e brutalmente honestas trazem o equilíbrio entre o humor autodepreciativo e a sensibilidade genuína, e o senso melódico do manauara traz consistência e brilhantismo nesse debut. (Eduardo Yukio Araujo)
Alex G – God Save the Animals
O produtor estadunidense nos presenteia com um álbum diverso, que abriga desde o folk até o eletrônico. As harmonias claras e a ambiguidade das letras – que parecem expressar a voz tanto de humanos quanto de não-humanos – trazem beleza e ternura ao álbum. Destaque para a faixa Blessing, que já havia sido lançada como single. (Marília Ferruzzi)
Cigana – Estrago
A banda do interior paulista aposta em texturas eletrônicas e se dá bem: Este EP, lançado pelo importante selo Balaclava, mostra um entendimento artístico bem definido. A essência é indie e contemporânea, mas o uso de elementos digitais reforça a atmosfera ora lisérgica ora emocional. Impressiona a facilidade na linguagem melódica e a construção de climas etéreos. Certamente um belo trabalho que deixa espaço para voos ainda mais altos. (Eduardo Yukio Araujo)
Al-Qasar – Who Are We?
A superbanda que conta com integrantes do Egito, Marrocos, França, Estados Unidos e Argélia lança seu segundo álbum apostando de uma forma ainda mais hardcore do que eles chamam de arabian fuzz, algo muito semelhante ao touareg rock. Isso significa que quem gostou de lançamentos dos últimos anos do Mdou Moctar e do Songhoy Blues com certeza vai curtir tocar no fio desencapado vivo e desafiante que é esse disco. (Vítor Henrique Guimarães)
Tulipa Ruiz – Habilidades Extraordinárias
Depois de um jejum de sete anos, Tulipa Ruiz nos presenteia novamente com um disco de inéditas e reforça sua já conhecida habilidade extraordinária como compositora. Repetindo a parceria de sucesso com Gustavo Ruiz (irmão e produtor), a artista caprichou na produção ao realizar gravação em fita com arranjos minimalistas, soando quase como uma banda ao vivo numa apresentação intimista, porém com refrões feitos para um coro de estádio. Um forte candidato para entrar nas listas de melhores do ano. (Nuno Nunes)
Kham Meslien – Fantômes… Futurs
Depois de trabalhar ao lado de nomes como Robert Plant, Archie Shepp e Robert Wyatt, o baixista/contrabaixista francês lança seu primeiro disco solo, quase todo trabalhado em cima apenas de seu instrumento. O resultado é um álbum de jazz requintado, imersivo e um tanto melancólico. E bastante sensorial: é possível ouvir com clareza o passar dos dedos de Kham pelo contrabaixo e sentir quase no coração a vibração das cordas. E também por isso é uma experiência que bate e emociona. (Vítor Henrique Guimarães)
Yeah Yeah Yeahs – Cool It Down
O novo álbum dos nova-iorquinos, que marca o retorno de um hiato de quase uma década, amplifica a capacidade única da banda de mesclar minimalismo e grandiosidade, simplicidade e extravagância. São canções que vão e voltam entre a súplica e a euforia, com espaço para uma melancolia sofisticada. Ouvir Different Today, por exemplo, é como dançar esperançosamente com a banda em meio a paisagem sombria do mundo contemporâneo. (Bruno Maroni)