TikTok: O Jeito que a “Gen Z” Escolheu Ouvir Música

Lançado em setembro de 2016, o TikTok se apresentava como uma plataforma de vídeos curtos (algo como uma evolução do Vine), em que usuários apresentavam coreografias divertidas para músicas. A imensa popularidade global do aplicativo expandiu o conteúdo para números de humor e até webséries, mas o principal elemento permaneceu: música e dança. Mais do que isso, a influência dos posts virais hoje já influencia a maneira como artistas e gravadoras pensam a criação. São inúmeros os casos de músicas viralizadas no app que posteriormente ganharam as paradas de streaming. Ou de canções inicialmente despercebidas pelo grande público “resgatadas” e redimensionadas no TikTok.

Artistas como Lil Nas X já nasceram dentro desse contexto: seu hit inicial, Old Town Road, ganhou destaque meses após o lançamento oficial. O motivo: TikTokers adoraram a pegada country-pop-rap dançante e a tornaram a trilha de um challenge. Porém, é importante ressaltar que Lil Nas já promovia a música através da criação de memes, evidenciando a visão geracional do compositor, um legítimo Gen Z.

@garddss

Lil nas x old #fyp #lilnasx #oldtownroad

♬ Old Twon Road – 𝗚𝗮𝗿𝗱$

A imprevisibilidade é outro fator marcante para o universo musical do TikTok: nem sempre os esforços das gravadoras para lançar remixes mais curtos e dançáveis resultam em virais; um dos hits marcantes da rede chinesa é Oh No, do rapper Kreepa. Lançada sem alarde, fez o então desconhecido MC escalar as paradas. Curioso, já que apenas um trecho instrumental é utilizado nos desafios. Além disso, o famoso “Oh no” é sample de uma antiga música da banda Shangri Las.

Aqui no Brasil um aspecto muito relevante é a grande predominância do funk nos posts virais. Em especial o funk putaria, de versos carregados de sexualidade explícita. Uma amostra da transversalidade do gênero, ainda majoritariamente criado nos guetos periféricos do país e servindo de trilha sonora para jovens de classes sociais diversas. Entre o hedonismo puro como fim em si mesmo das dancinhas e malícia adolescente ao escapismo como subterfúgio e estratégia de resistência da favela, o funk se mostra alinhado aos anseios da juventude. E o TikTok reforça esse cenário.

Outro exemplo da bem sucedida conexão TikTok e paradas é Por Supuesto, de Marina Sena. A cantora mineira lançou o elogiado álbum de estreia com ótima repercussão, mas a viralização da música em challenges a tornou um hit nacional. 

@amarinasena

eu já deitei no seu soVUKVUKVUKVUK

♬ som original – marina sena

Desde os anos 1950, há adequação de duração das músicas com a forma e a mídia de consumo de cada época, seja nos discos de 45 rotações e sua limitação de tempo das canções em função do espaço na década de 1950 e 1960 (dando origem ao conceito de single, ou seja, música única) até o espaço expandido dos CDs nos anos 1990. 

Toda essa influência gera discussões: afinal, a ênfase em fragmentos de canções, versos específicos, ganchos melódicos e batidas limita e reduz a qualidade de uma obra? Artistas que criam já pensando em trends do aplicativo estão se desviando da nobre finalidade da arte? Ou temos apenas um recorte temporal passageiro e talvez até um caminho alternativo para divulgação de trabalhos? Com a palavra, o ouvinte.

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