Um Por Um: Castello Branco por Dudu Marote

O som que queremos ouvir por mais uma década: Ao longo do mês de novembro, o Música Pavê comemora seus dez anos no ar através de uma série especial com artistas que temos acompanhado de perto comentando outros que também amamos. Dessa forma, uma grande playlist vai sendo montada com os sons que apontam para o futuro sendo adicionados um por um.

Um É Dudu Marote

Um verdadeiro patrono da música pop brasileira, o produtor está por trás de muito daquilo que as duas últimas gerações ouviram no país, de Skank a Emicida. Tão curioso quanto apaixonado por música e por novidades, ele se aventura agora também como parte do duo de música eletrônica XAXIM ao lado do DJ Fabião Soares.

No Música Pavê: “Aos 54 anos, eu não tenho nenhuma outra chance a não ser brasileiro. Tá incrustado em mim. A pretensão que havia na música eletrônica brasileira de querer soar gringo… acho que cada um está em seu rolê – fiquem à vontade -, mas esse não é o meu. Ao mesmo tempo, se eu ouvir um tecno e quiser incorporar uma vibe, tá tudo certo. O que a gente faz é um pouco reciclador de lixo. Você pega, muda, ressignifica e faz outras coisas. Como Fabião é um cara de conceitos, a gente pode trazer uma música que é eletrônica, é orgânica e é conceitual – não é só para tocar em um set de house, por exemplo. A galera de festas e festivais tá curtindo muito, porque tem uma cara própria” (Entrevista, 2019)

O outro é Castello Branco

O carioca virou sinônimo da nova música autoral no Brasil na última década, período no qual inaugurou sua discografia com obras que convidam o ouvinte tanto a uma maior introspecção quanto ao se conectar com o que está ao seu redor. Afeto, pertencimento e espiritualidade são alguns dos termos que fluem de seu trabalho.

No Música Pavê: “Eu cheguei a dizer em um festival onde eu toquei no fim do ano passado, e eu choquei um monte de gente, que eu disse que o DJ era o novo poeta (risos), eu não expliquei mais a fundo e a compreensão não aconteceu, mas tudo bem, eu quis chocar mesmo. O que eu quis dizer foi que a palavra é uma coisa muito arcaica, e eu tive de tentar entender porque o som, a dança e os símbolos são mais fortes do que a palavra, que se tornou tão leviana para mim. Até porque, neste momento planetário, a palavra está muito em baixa porque as pessoas estão cansadas de ouvir o que os outros falam e não verem uma mudança. Porque a palavra ficou banalizada, a gente não sabe mais onde está seu poder. Então eu fiquei muito nese vibe dos símbolos, que são muito mais poderosos. A eletrônica é a desconstrução do som, o sintetizador mexe com a síntese do som, e poesia é a síntese da palavra” (Entrevista, 2017)

Castello Branco por Dudu Marote

O que Castello Branco tem de melhor?

Sou suspeito para responder isso. Castello é excelente compositor e artista. E uma pessoa incrível tb. Essa coisa de ele ter passado sua infância e adolescência num monastério nas serras entre Rio e Minas é algo que trouxe um significado importante tanto pra obra quanto pra carreira dele.

O que o trabalho dele te lembra?

O trabalho dele é um bordado que me traz paz, respiração e positividade. Super sensível e me causa vontade de continuar a cada dia. Sinto total que isso chega às pessoas que ouvem as faixas do Castello.

O que os trabalhos de vocês dois têm em comum?

Não é à toa que o Castello tem tudo a ver com o que sinto nesta fase da vida na qual estou me comprometendo a ir sempre com a impecabilidade da palavra e das ações. Ao mesmo tempo, não é retrô e nem conservador. Ele não tem medo de experimentar na sonoridade mesmo nesse campo de tranquilidade e positividade que escolheu. E isso tem tudo a ver comigo e com o meu projeto com o Fabião Soares, o XAXIM.

Como seria uma parceria entre vocês? (No caso, como foi?)

Eu era super fã de Criançada, parceria do Castello com o DJ Nicola Cruz, do Equador, e que tem uma sonoridade semelhante ao XAXIM. Então, foi muito natural convidá-lo pra desenvolvermos algo. Na nossa primeira sessão, achamos a sonoridade. Ele já trouxe a melodia e a letra de casa e o tema era sobre as doulas, algo ímpar e lindo. Gravamos a voz dele, eu tava adorando mas Castello ainda não. Ele sentia na letra a necessidade de um eu feminino que não podia ser total incorporado por ele. Procuramos uma mulher pra ser a protagonista da faixa e meio que naturalmente escolhemos a Luê, que já era do nosso relacionamento pessoal por ser esposa do Mateo da Francisco El Hombre. Espero ter a chance de ter ainda outras faixas compostas e se possível tb interpretadas pelo Castello.

Curta mais da série Um por Um no Música Pavê

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