Em seu Nascimento como Artista, FLORA É Cantora e Compositora
“Nascer como artista e se mostrar para o mundo é um processo bem longo”, conta FLORA em entrevista ao Música Pavê. Na ocasião, ela comentava seu recém-lançado primeiro álbum, A Emocionante Fraqueza dos Fortes.
Produzido por Wado, o disco desenvolve uma estética eletrônica – ambiguamente minimalista e volumosa – na preocupação de construir uma plataforma na qual o vocal da artista alagoana brilhe em primeiro plano.
“Acho que é uma forma muito inteligente de acompanhar a minha voz, que veio como um grande destaque nesse meu primeiro trabalho, sem perder todas essas camadas que a gente queria usar”, conta ela, que cita Animal Collective e Tame Impala entre as referências. “Eu quero que as pessoas entendam o que eu estou falando”, explica FLORA, “escuto músicas, como algumas de rock, em que às vezes você não entende o que o cantor está dizendo porque não interessa, a voz é apenas mais um instrumento, né? Ela se mistura aos ruídos e guitarras, e você escuta como um timbre, e a questão não é entender o que está sendo dito. Mas eu gosto de falar de uma forma que as pessoas entendam”.
“Eu sou do teatro, minhas formação é como atriz. Então eu venho do articular, do falar bem para as pessoas entenderem. Poderia super fazer um disco barulhento, sem ninguém entender nada, mas eram histórias que eu queria contar. Nessa escola teatral, cheguei a fazer musicais, que foi quando fui ter aulas de canto mesmo. Aquela estética exige que a pessoa atinja notas perfeitas, essa era sempre minha maior preocupação. Eu não me via naquela voz, não era eu, entendi que precisava me aproximar de mim. Quando eu faço isso, eu desafino, ou fica sussurrado, com pouco volume. E descobri que é gostoso poder falar no ouvido, é bonito ser íntimo. Faço aula de canto até hoje, justamente para me desconstruir e ficar pertinho de mim”.
Para além de uma preferência estética pessoal, a artista entendeu também que essa era a forma que essas músicas que ela tinha escrito precisavam ter. “Não sei quem ouve, mas, para mim, é um disco bastante intimista”, explica ela, ” Como é que eu vou falar de uma forma íntima, de algo cprofundo e autobiográfico, se não for perto e baixinho? Não dá para gritar, rasgar, nem como rock, nem como The Voice. Acho que você encontra sua voz também quando encontra seu assunto, aí está a sua identidade”.
Para além de exibir sua voz, A Emocionante Fraqueza dos Fortes é um trabalho que se propõe também a mostrar FLORA como compositora. “Quando se vê uma mulher cantando, logo se conclui que ela é intérprete”, comenta a artista, “o machismo sempre impediu que as mulheres estudassem, lessem e escrevessem. Essa herança faz com que seja esperado que a mulher seja ‘diva’ no palco. Quando você pega um Chico Buarque, por exemplo, você não fica exigindo a voz dele, mas exige de uma mulher. Nós mulheres aprendemos a exigir muito de nós mesmas. Tenho muitos amigos cantores e compositores que fumam, bebem e não estão nem aí para exercícios vocais, porque nem se sentem nesse compromisso. As mulheres, todas, estão na maior preocupação, a ponto de chorar por não atingir uma nota. Gerações anteriores da música brasileira tinham muitas mulheres intérpretes, porque poucas podiam compor. A gente já carrega isso. E eu vejo que, na minha geração, tem muita menina compondo, mas o que o mundo está acostumado a ver e ler era essa forma”.
“Acho importante que as pessoas saibam que eu sou compositora, que eu que escrevi tudo”, continua ela, “é maravilhoso ser a diva, a musa, mas quem compõe traz também o intelecto – que costuma ser só esperado dos homens, né? Das mulheres, só se espera a beleza. Então, a gente precisa quebrar essa crença falsa das mulheres serem apenas cantoras. Eu faço questão de ser lembrada como compositora também. A FLORA artista é os dois.
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