Kunumí MC: “Toda minha ancestralidade canta comigo”

foto por reinaldo canato

As imagens que mostram Pantanal, Amazônia e Cerrado em chamas nas notícias de danos irreversíveis para esses biomas – e, consequentemente, para o Brasil e o mundo -, refletem aquilo que Kunumí MC prega: É urgente a demarcação das terras indígenas para que a natureza seja preservada.

O rapper, escritor e ativista contou ao Música Pavê que, ao participar de um protesto na Copa do Mundo de 2014, no qual carregava a faixa “demarcação já”, “muita gente veio aqui querendo saber o que significava isso, mas só europeus. A imprensa brasileira não quis saber. É assim mesmo desde 1500, a sociedade brasileira está escondendo o que o povo indígena sente e quer dizer”.

Sua arte vem para resgatar não só o valor cultural de seu povo, mas também sua própria humanidade. Natural de uma tribo nos arredores de São Paulo, Kunimí MC mostra ao mundo o que é ser um jovem indígena, com sua vivência periférica e uma luta que preza o que é melhor não só para seu povo, mas para o planeta: “O que o mundo precisa hoje é de uma boa respiração”, comenta ele, “e, para isso, precisa ter floresta”.

Introduzido no rap por seu irmão, DJ Tupan, o artista segue os passos do coletivo Brô MC’s, pioneiro no rap nativo, para realizar seus trabalhos. “Tive a ideia de fazer uma música apenas cantando em guarani para as pessoas perceberem que ainda existe o guarani em São Paulo, que existem indígenas aqui que estão resistindo com suas línguas, costumes e culturas”, conta Kunumi, que diz gostar de rap por ser “ritmo e poesia, ele faz um protesto, mas também pode ser espiritual. Quando coloco gritos e cânticos indígenas no rap, toda minha ancestralidade canta comigo. É essa a força que eu tenho cantando”.

“Muitos não têm noção como vive de verdade o indígena, que cada etnia tem sua própria língua e cultura”, comenta ele, “Muita coisa indígena foi patenteada. Vários remédios que estão na farmácia não falam que vieram dos índios, para um nome indígena não ter poder. É uma tristeza que a gente viva tanto preconceito desde 1500 e que muitos pensem que o indígena vive feliz na mata, com pouca terra. A gente precisa da terra só para que a gente crie nossos filhos preservando nossa cultura”.

Conversar com Kunumí MC traz novas camadas de urgência para o conteúdo de suas músicas, para além das mais evidentes ao observarmos o Brasil que vivemos. “Acredito que é uma grande missão levar a minha música e o que tenho a dizer, porque não falo só de mim, mas de todos os povos indígenas”, diz ele, “e o que eu tento alcançar com minha música é o coração das pessoas. Essa mensagem eu quero levar também para outros povos indígenas, para continuarem lutando pela causa e pela vida. Muitos cometem suicídio, porque o índio sofre demais com tanto preconceito. Então, é uma força que eu quero levar, a de não desistir da luta pela vida”.

Fã de Racionais MCs, ele cita Jesus Chorou como sua música favorita, pelo conteúdo espiritual da letra. “Minha música é um ritual que eu faço no palco da vida, é uma forma de rezar”.

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