Fernanda Cabral Liga o Pulsar da Terra ao Mundo Imaginário

Chico César, Ney Matrogrosso, Pedro Almodóvar – a lista de fãs que Fernanda Cabral acumulou ao longo dos anos de carreira impressiona, mas é digna de uma artista de grande intensidade tanto no ofício, quanto na inspiração. É o que mostra seu segundo álbum, Tatuagem Zen, lançado hoje (4).

Após anos construindo carreira na Espanha, a cantora conta ao Música Pavê que sentiu “a necessidade de estar no Brasil, de dialogar mais com minha terra”. De volta à sua cidade natal, Brasília, a artista se sente reconectada às suas origens, nas “cachoeiras, pitangueiras e pássaros, é tudo muito bonito”, como ela mesma explica, “queria falar da minha natureza original, sentir a pulsação dessa terra”.

“Fiquei quinze anos na Espanha, levando a música brasileira para todo o mundo – além da Europa, toquei no Japão e Estados Unidos”, explica Fernanda, “e desenvolvi uma profunda ligação com a cultura espanhola. Como passei minha infância no Nordeste, na Paraíba, quando escuto aqueles melismas árabes no coco, me sinto em casa”. Tendo se mudado a Madri para estudar teatro, ela estudou flamenco e se envolveu com diversos outros artistas – como Almodóvar, tendo sido convidada pelo diretor para ser a preparadora vocal no longa A Pele que Habito.

Essas vivências tão múltiplas esculpiram uma artista de várias facetas. Se ela ficou conhecida primeiramente como cantora, seus dois álbuns (o novo e o anterior, Praianos, de 2011) mostram seu lado compositora em grande proporção. Em Tatuagem Zen, ela também investiu mais tempo atuando como co-produtora. “Nos dois discos, eu botei muito a mão na massa”, conta Fernanda, “escrevi arranjos de cordas, gravei piano, percussão, violão e vários instrumentos. Cada canção pedia um tipo de produção, uma aventura de timbres e caminhos estéticos”.

Prova disso é o quão diferentes são os dois singles lançados antes do disco, Até Você Voltar, com seus tantos timbres gravados ao vivo, e a minimalista Pássaro – composta com Chico César, gravada ao piano em dueto com Ney Matogrosso. “Vejo cada canção com sua dramaturgia, suas próprias histórias e cores”, explica a artista, “a gente pode pensar como um pintor, e os timbres são as cores”.

“Sou atriz, intérprete, e Ney é uma escola em si, um mestre da cena”, comenta ela sobre a experiência de trabalhar com o músico, “se a gente se guia pelos nossos mestres, ele já me influencia há anos nas minhas escolhas estéticas. Esse encontro foi muito mágico, porque já existia algo no meu trabalho que tem ressonância no universo sensível dele”.

Ainda sobre encontros com outros músicos, Fernanda conta que quis se “aventurar a colocar minha música a serviço de outros grandes poetas” em Tatuagem Zen, “só três músicas têm letras minhas”. “Sou uma melodista, então trago a melodia em serviço da poesia”, continua a artista, “a liberdade está ligada à autenticidade da poesia. O olhar poético abre esse espaço para o imaginário onde tudo é possível. O disco fala muito desse lugar através de muitas metáforas. É a ligação com um mundo invisível que pode ser revelado através da arte”.

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