Hot e Oreia: “A gente se sente pertencente ao popular”
“A gente desde pequeno envolvido na bandidagem, hoje a gente dá selinho” – conversar com Hot e Oreia é observar algumas das muitas transformações passadas pela música no Brasil de cunho independente e marginal, como o rap que o duo belorizontino trabalha.
Falando ao Música Pavê por telefone, os dois reforçaram a ideia de que aquilo que mostram em suas músicas é reflexo das vivências na cena rap da cidade e de um olhar atento ao que acontece na produção cultural brasileira. Prova disso é seu mais novo single, Papaia, com ilustre presença de Black Alien e Daniel Ganjaman na produção.
É um lançamento de peso, que recebeu a devida atenção nessas últimas duas semanas. Mas o nome Hot e Oreia só ganhou essas proporções recentemente, sendo que a dupla está na ativa já há uma década. “Ainda bem que aconteceu, porque, se não a gente seria frustrado para sempre”, brinca Oreia. “A gente está no rolê desde sei lá quando, mas só começou a ganhar dinheiro e viver da parada em 2015”, conta Hot, “a gente sempre teve muita energia e muita coisa pra dizer, mas não tinha a visão profissional madura ainda”.
É interessante notar como essa maturidade no duo vem acompanhada da segurança que os dois têm de serem tão autênticos – algo que sempre fala bem alto em seu trabalho. “Eu sou eu o tempo inteiro, não tenho personagem”, comenta Oreia, “somos caras desconstruídos buscando sobre uma masculinidade que não é tóxica. As coisas vão acontecendo e nós aprendemos, estudamos e vivemos isso juntos”.
“Nunca achei que esses lances fossem chamar atenção [em nossa carreira], porque sempre foi pelo que mais nos zoaram”, continua ele, enquanto Hot explica: “Essa parada da masculinidade é o que a gente tem mais escutado das pessoas. Ela é um reflexo do que a gente está vivendo com nossos relacionamentos, mas a gente ainda tem que chegar a mil e um lugres pra dizer que não é tóxico, que não é isso ou aquilo. As pessoas que tiram suas conclusões, mas a gente não é muito de falar o que é”.
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E por onde eles passam, levam toda uma cena juntos. Não é à toa que outros músicos mineiros, como Djonga e Luiz Gabriel Lopes já gravaram com o duo. “Essa galera é tudo amigo nosso”, explica Hot, “a gente tem a consciência e a intenção de fortalecer a cena da nossa cidade, a gente se sente pertencente a ela. Na nossa opinião, é a parada mais original que tá rolando no Brasil mesmo. A gente sente que ta rolando um levante mesmo nos artistas do país de uns anos para cá, de uma música popular mesmo, de um rolê que foge das fronteiras de gênero musical. A cultura popular do está se reinventando e a gente participa porque a gente é artista, a gente faz a nossa parada… A gente se sente pertencente ao popular”.
“Nóis é muito do rap, mas, sempre que a gente vai falar de referência, é maracatu, forró, Luiz Gonzaga”, conta Oreia. Daí também seus parceiros e convidados serem rappers (como Black Alien), mas também vários outros artistas que pensam de forma semelhante, como Luedji Luna. “A gente gosta de pensar alto, para o próximo a gente quer a Céu”, conta ele, que sonha em fazer música com Gilberto Gil e RZA (Wu Tang Clan) – “se a gente fizer isso, sério mesmo (risos), preciso de mais nada”.
“Já são quase dez anos rimando, fazendo sarau e gravando música”, relembra o rapper, “passaram quatro, cinco, seis anos e a gente achava que não ia virar nunca. Tem gente que acontece no primeiro ano, mas nosso caminho é diferente, está sendo construído ao longo do tempo”.
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