Scalene Disseca Seu “Fôlego”

O EP Fôlego é uma resposta ao álbum Respiro (2019) e também mais uma prova de que Scalene quer se reinventar a cada lançamento – ainda que a nova obra esteja intimamente conectada à anterior.

Isso porque suas cinco faixas seguem a proposta contemplativa e reflexiva de composições com menor volume sonoro do que aquelas que tornaram a banda de Brasília conhecida há alguns anos.

Para falar mais sobre Fôlego, metade da banda – Gustavo Bertoni e Lucas Furtado – vieram ao Música Pavê acompanhados pelo produtor Diego Marx para dissecar todas as faixas do EP. Seus comentários expandem os significados das músicas e oferecem mais inspiração (com o perdão do trocadilho) para nossas próprias interpretações.

Caburé

“Quintal da casa dos pais. O que fica disso que tamo vivendo? Como nos tornaremos menos auto-destrutivos? Milton Nascimento, Tom Velloso, Matt Corby…” (Gustavo)

“Acho uma das músicas mais bonitas que já fizemos. Era a música que eu precisava ouvir nesse período de pandemia e não sabia. Fiquei muito surpreso quando o Gustavo apresentou ela. Todas as texturas da música são muito acolhedoras e tranquilizantes” (Lucas)

“Pra mim é a canção que traz em si o tempo do respiro. A calma de assentar e é um convite a observação” (Diego)

Passageiro

“Auto-conhecimento e aprimoramento deve vir de aceitação e ressignificação do que já está em mim, ao invés de buscar no externo o que preciso mudar em mim pra ‘melhorar’. Mundo tá um caos, único firmamento possível é no diálogo com nós mesmos.  Saudade, Mac Miller, City and Colour…” (Gustavo)

“As pulsações do baixo fazem um contraponto legal com a vibe geral da música. Nos versos e refrões os outros instrumentos fluem como água durante a maior parte do tempo e o baixo é mais duro, como se estivesse se recusando a ‘navegar’ com o restante dos elementos. Depois do segundo refrão ele se solta e entra no fluxo dos outros arranjos. De uma forma narrativa, é como se o baixo fosse convencido a mudar durante a música até se integrar totalmente ao movimento dos outros instrumentos” (Lucas)

“Sinto que é uma canção que flutua em diferentes marés. Fala sobre a mudança e inconstância utilizando o simbolismo do mar, enquanto a própria canção soa como uma onda, vem de longe, chega e retorna” (Diego)

Caleidoscópio

“Gosto de pensar que a maioria das pessoas está dando o seu melhor. Dentro das suas infinitas possibilidades de visões, histórias e limitações. Nossos limites podem ser nossos amigos também. Há um universo dentro de cada objeto do nosso dia, por mais singelo que ele possa ser. Haley Heiynderickx, Radiohead, Adriana Calcanhoto…” (Gustavo)

“Nessa música, gravei vários sons percussivos usando objetos da casa: um vidro com alho picado, uma sacola de pano com lápis dentro, umas bolinhas de ferro. Foi legal integrar esses elementos dentro do contexto de um disco feito em casa. Além disso foi a primeira música que gravei com o contrabaixo de orquestra, que é um instrumento muito legal que eu já toco a um tempo mas nunca tive chance de usar numa música” (Lucas)

“A canção dos espaços, dos elementos surpreendentes, texturas… ” (Diego)

Espelho

“Bombardeio de notícias que geraram uma desesperadora sensação de impotência e negligência. Raiva de mim e da minha ‘classe’. Privilégio branco. Desabafo. Chico Buarque, Massive Attack…” (Gustavo)

“Música forte e séria. Apesar de não soar tão diferente, alguns elementos dela são bem incomuns pro nosso trabalho (pandeiro, percussão metálica, bateria eletrônica analógica). No segundo verso, eu gravei duas opções de baixo para que pudéssemos escolher e acabou que usamos as duas ao mesmo tempo, então essa é uma música com dois baixos (risos)” (Lucas)

“Talvez a canção mais difícil. Tanto pelo momento  quanto pelo processo de nos olharmos ao construir essa canção” (Diego)

Estar a Ver o Mar

“Affairzinho de verão que era pra ser só curtição e acabou tendo umas camadas de profundidade bonitas e inesperadas. Pensei na melodia e letra toda no ônibus do Rio pra Curitiba, sentei no piano do meu amigo e já tava praticamente pronta. Olafur Arnalds, Tim Bernardes, Matt Corby” (Gustavo)

“Pra mim essa música ja tava pronta apenas com piano e voz. Ela é muito bonita. Quando colocamos todos os arranjos ficou ainda mais incrível e levou ela pra um outro lugar. Acho que vai ser a favorita de muita gente” (Lucas)

“Minha principal preocupação com essa canção era não estragá-la. Ela já era muito bonita na sua concepção. O desafio era conservar a emoção também no fonograma” (Diego)

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