Laura Canabrava Não Teme a Complexidade de sua “Vontade”

foto por ana alexandrino

Em uma época em que as informações parecem estar cada vez mais mastigadas, sem muitas entrelinhas, para um consumo imediato e de pouca interpretação, Laura Canabrava é uma das artistas que não teme trabalhar complexidades e subjetividades em seus lançamentos. O EP Vontade, lançado hoje (29), é prova disso.

O trabalho de quatro faixas, puxado pela canção que o batiza, traz versos com palavras simples e cotidianas, mas significados bastante profundos. “Você pode ter um olhar reducionista, mas pode também ver a profundidade dentro da simplicidade com que eu falo”, disse a cantora e compositora ao Música Pavê por telefone, “eu vejo complexidade e até mesmo dualidade no que estou cantando”.

A artista carioca cita a faixa Eu Fico Doida como exemplo da liberdade com que compõe. “Começo como se dissesse [os versos] para alguém e as outras estrofes, fui perceber depois, são muito mais sobre eu mesma me libertar e deixar fluir as sensações do meu corpo, essa minha complexidade. É sobre poder ser, porque a mulher sempre foi reprimida, tem a questão da histeria, da mulher louca, Eu Fico Doida mostra a mulher colocando seus desejos e emoções pra fora até um surto disso por ser tão reprimida”.

Essa reinterpretação posterior de algo que compôs acontece por um processo criativo muito orgânico. Quando uma ideia lhe vem à mente para escrever, é o “resultado de todo um processo de coisas que eu venho sentindo e questionando, que já estão em mim, um processo íntimo e pessoal na minha vida que vai sendo processado e sai como inspiração”, explica Laura, “por isso que eu digo que são coisas que são reveladas para mim, nem sempre parte do racional, mas de algo processado no inconsciente, como num sonho”.

Tendo em vista que sua criação é sempre o resultado de uma grande soma, não é de surpreender que sua música passeie também por tantas referências diferentes. Ela aponta o produtor André Sampaio como responsável por essa sonoridade também complexa, tendo escolhido trabalhar com ele justamente por sua multiplicidade. “Eu gosto de misturar as coisas, os ritmos, os estilos, e estou sempre ouvindo coisa nova e procurando me desafiar até na composição mesmo”, explica a artista, “faço algo em um estilo e logo penso como seria se tivesse feito de outro jeito. E eu sou assim na vida também, nas manifestações artísticas. Eu danço, faço teatro, gosto da mistura de tudo”.

É em meio a todos esses seus movimentos que nascem suas músicas – e foi assim que o repertório de Vontade foi formado, de acordo com o que Laura estava vivendo logo após o lançamento de AIYE (2018). “Vi que era minha hora de me conectar, de me entender como mulher”, explica ela, “foi um momento muito de busca, as composições vieram todas desse lugar. Escrevi bastante e muita coisa ficou de fora, mas já tenho planos de gravar essas também – já dando spoiler (risos)”.

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