Rod Krieger: “O tempo parece passar cada vez mais rápido”

“Calma” é a ordem da vez no mundo. Não só pela pandemia que vivemos, mas por um dos males que vivemos nas últimas décadas: Nossa relação ansiosa com o tempo. É o que Rod Krieger nos relembra com o álbum A Elasticidade do Tempo, lançado hoje (20 de março).

Falando ao Música Pavê diretamente de seu isolamento voluntário no Portugal onde mora, o artista gaúcho explica que esse conceito “virou um single, que virou um EP, que virou um disco”. A ideia veio de uma frase dita por Lucinha, companheira de Arnaldo Baptista, na época do single Louvado Seja Deus: “Sou atrapalhado com papéis, datas e essas coisas, esqueci de mandar um troço pra ele assinar”, conta ele, “disse que logo mandaria os papeis e ela falou: ‘Relaxa, Rodolfo, o tempo é elástico’. Eu fiquei com essa frase na cabeça e fui desenvolvendo até virar A Elasticidade do Tempo“.

O conceito veio a calhar para a época que vivemos. “As letras falam sobre essa ansiedade de ter que fazer as coisas correndo”, explica Rod, “as pessoas hoje sofrem de uma déficit de atenção generalizada por causa dessa maquininha chamada celular. Tem muita coisa pra fazer o tempo todo. E o tempo é elástico, dá pra aprender a esperar um pouco. É aquela coisa de que, se você vai explodir, conta até dez. Ninguém vai morrer se tu não responder na hora”.

“Pode interpretar como você quiser”, comenta ele, “mas o tempo, ele é elástico sim, mesmo sendo cronometrado. Parece coisa de velho, mas o tempo parece passar cada vez mais rápido para mim. Lembro quando eu era moleque, o ano não acabava nunca, os dias eram longos, e hoje chega seis da tarde e eu não fiz metade do que eu precisava. O disco é um pouco sobre isso também”.

Ao ser perguntado sobre as diferenças entre trabalhar solo com sua banda (a finada Cachorro Grande), Rod cita a necessidade de um processo de adquirir segurança no que faz. “Imagina, você toca em uma banda com seus melhores amigos. Cinco cabeças pensando coisas diferentes, você tem que ceder. E, de uma hora para outra, você tá sozinho”, conta ele, “gravei todos os instrumentos do disco – menos bateria e sitar -, eu mixei tudo… dá muito medo. Na Cachorro Grande, a gente sempre mandava a real. Se alguém chegasse com uma camiseta ridícula, todos iam falar ‘onde cê vai com essa camisa? Tá ridículo’ (risos). Hoje, todo mundo me dá um tapa nas costas, fala que tá legal. Não tenho mais essa sinceridade que a gente tinha. Tive que me reacostumar a cantar. Frio na barriga, medo… mas tive todo esse tempo para me adaptar. Estou seguro, porque não estou dando nenhum passo na pressa”.

“Eu não enxergo Cachorro Grande no meu trabalho, mas eu enxergo que esse é um disco de quem tocou na banda por quinze anos. As coisas que eu não fiz na Cachorro Grande e as coisas que eu fiz e mais gostei vieram juntas. É inevitável que uma coisa ou outra se pareça, até porque as minhas referências são as mesmas deles, senão eu nem teria entrado no grupo. David Bowie, The Who, The Beatles e Arnaldo Baptista nunca vão sair das minhas referências. Se eu fui pro Primal Scream, se eu fui pro jazz, ou pro tango… a minha essência é essa, sempre vai ter uma coisinha de Os Mutantes, de Júpiter Maçã, porque sou muito fã. Vejo alguns artistas se incomodarem com essas comparações, mas vou te confessar que eu acho um barato. O problema seria se me confundissem com um artista que não gosto. Mas, se me comparam a alguém que me influenciou, vejo como um resultado que deu certo”.

E para falar do tempo ser elástico, de como podemos nos relacionar com esse conceito em outra pegada, faz muito sentido desenvolver o tema dentro dessa estética psicodélica. “Grateful Dead fazia shows de cinco horas”, conta Rod, “até pelo fato da turma tomar um ácido para meditar, no meio de uma guerra, os hippies estavam pregando a paz, eles estavam alinhados com eles mesmos. Todos Gostamos de Você fala sobre isso, é uma conversa do seu eu interior com a mente e com sua carcaça. É sobre esse momento de calma, de se dar um tempo dessa loucura. Medite, pense antes de fazer as coisas. Uma resposta rápida que tu dá no WhatsApp pode ser lida de outra maneira por várias pessoas, uma merda que tu faz pode gerar uma reação em cadeia muito grande”.

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