Matheus VK, sobre “Fervo”: “É a alegria como luta”
“É um EP pra ouvir dançando. Não pode escutar deitado no sofá”, brinca Matheus VK sobre seu mais recente lançamento, Fervo. Falando ao Música Pavê por telefone, o músico baiano criado no Rio de Janeiro contou como a obra nasceu das dificuldades que temos enfrentado no país.
“Com Purpurina (2017), entendi que os meus shows eram geradores de liberdade, de alegria e de comunhão”, diz Matheus, “é um lugar que tem muito a ver comigo. Mas eu sempre quis de alguma maneira colocar uma observação, ou crítica, um olhar mais cuidadoso. Falava dessa rigidez do masculino e como isso afetava a sociedade – o ‘hay que endurecer’, sabe? Buscava levar uma mensagem importante com humor, com leveza”.
Com tudo o que o Brasil viveu desde (principalmente) 2018, o músico conta que acabou sendo afetado pelo clima “bizarro” no país. “Perdi o humor no meio do caminho e as músicas que eu fazia estavam pesadas, nada a ver com o intérprete da alegria que eu me tornei”, explica ele, “fiquei em um vazio de lançamentos por não estar produzindo com o que tenho de maior potência”.
Foi aí que sua filha nasceu e, como costuma acontecer, várias de suas perspectivas mudaram. “Ficou muito claro que eu tinha que vibrar numa energia mais leve e positiva, porque eu estava trazendo pra casa uma carga muito grande”, revela Matheus, “decidi que ia compor só músicas que pudesse tocar para ela sorrindo”. Daí, Fervo começou tomar forma.
Com o apoio de Kassin na produção e base nos beats da dupla Lux & Tróia, oito músicas foram gravadas, e elas devem compôr uma obra maior que será lançada ainda este ano. Fervo, por sua vez, reúne as quatro faixas mais “carnavalescas” dessas oito.
Chama atenção como o EP não se preocupa em seguir apenas uma linha estética, mas reúne várias influências para criar algo bastante alinhado ao pop brasileiro contemporâneo. “Tem um movimento interessante: A música pop e a MPB nunca estiveram tao próximas, no meu ponto de vista”, comenta o músico, “o sucesso de Ludmilla e Anitta nao é tão absurdamente distante de Letrux, por exemplo, no sentido de experiência de show, de você sair dançando, ter catarse e sair maior do que entrou”.
“Acho que essa aproximação do indie com o pop [acontece porque] todo mundo tá precisando comunicar, todo mundo quer que o público entenda a mensagem que está sendo passada. E tá todo mundo precisando dançar, precisando do corpo, não só da cabeça”.
Por isso, Matheus investiu em trabalhar mais uma obra “pra cima e dançante”, ou seja, o seu trabalho como o conhecemos há alguns anos. “Penso sempre na música pela energia, conta ele, “peguei minhas composições voz e violão e levei tudo para cima dos beats. Vamos fazer mais festas onde todos se sintam à vontade para serem quem são. É a alegria como luta”.
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