“É preciso sair do comodismo”, comenta Josyara
A equidade de gênero ainda não é uma realidade, mas as movimentações em busca de tempos mais generosos e justos continuam crescendo.
O Prêmio WME Awards, dedicado a premiar mulheres atuantes no universo musical brasileiro, se apresenta como um desses espaços potentes de transformação. Proporcionando aberturas e possibilidades, o Prêmio abre caminhos e dar visibilidade ao trabalho de diversas mulheres.
Esse ano, em sua terceira edição, o Prêmio irá homenagear Gal Costa e celebrar o legado de Beth Carvalho, uma das maiores sambistas do Brasil, que faleceu em abril desse ano, aos 72 anos. Além disso, a premiação irá contar com apresentação de Preta Gil e transmissão exclusiva do canal TNT. O evento acontecerá no dia 3 de dezembro.
Às vésperas do evento, o Música Pavê conversou com Josyara, indicada na categoria Melhor Instrumentista, a fim de ouvirmos quais os impactos e a importância de premiações que impulsionem mulheres. Alegre com a indicação a artista baiana não deixa de ressaltar aspectos e estratégias que indústria musical precisa adotar para melhorar a inserção de novos nomes em seus meios.
Música Pavê: Não há dúvidas do quão importante é ter um prêmio brasileiro, voltado à indústria da música, com foco nas produções femininas, caminhos e espaços vão sendo abertos e é de suma importância que eles sejam ampliados. O que você sentiu ao saber da sua indicação na categoria de Melhor Instrumentista dentro do WME Awards?
Josyara: É realmente muito relevante espaços como WME. Em muitos momentos não era vista como instrumentista, apesar de tocar violão desde os onze anos, em entrevistas ou quando falavam do meu trabalho se referiam apenas como cantora – faltando também informação de autora das minhas músicas. Eu fiquei animada demais quando soube! Celebro indicação com muita alegria. Me dá gás pra seguir tocando e aprendendo.
MP: O que você sente que ainda falta alcançar/acontecer no meio artístico para que esses espaços de valorização da mulher sejam ainda mais fortes?
Josyara: Falta curadores de festivais/ espaços/ editais, produtores/etc se atentarem e se informarem que há muitas artistas com trabalhos diversos e autorais. Os line ups ainda são majoritariamente masculinos, e não é porque falta música feita por mulheres – cis e trans. Entre outras tantas na parte técnica também. É preciso sair do comodismo de só achar que o que tem é o que chega fácil, o que tá “pronto”. Nem todo mundo tem grana pra produzir seu trabalho ou sair circulando, por isso acho que o mercado da música precisa cada vez mais investir e respeitar. Dar oportunidades para formarmos nosso público.
MP: Em Mansa Fúria, as cordas são íntimas e próximas, aparecem quase como parte do corpo que sente as dores e as alegrias ali cantadas. Como (e onde) começa sua relação com o violão?
Josyara: Começou em Juazeiro, na infância. Mas só morando em Salvador que o violão tomou o rumo de minha criação. Senti que com o instrumento poderia passar melhor aquilo que desejava. E desde então, vivo a musicar.
MP: Além do instrumento material (o violão) há um instrumento orgânico e imaterial muito forte e potente que é a sua voz. Você enxergar seu trabalho sendo guiado por essas instâncias lado a lado, pelo violão que mais objetivamente inunda as canções e sua voz que desenha uma paisagem?
Josyara: Acho que as vozes combinam. Tem uma fiel relação entre meu corpo e as cordas. Ao contrário do que possa soar, há muita liberdade nesse encontro. Quando toco o violão a voz dança do jeito que bem quer.
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