torre amadurece (e canta sobre isso) em “Pág.72”
Como um bebê que balbucia suas primeiras sílabas, torre inicia o disco Pág.72 com a introdução Festa. Sem nenhuma palavra, a faixa mistura vozes para apresentar dois lados do conteúdo do disco: o som de cunho experimental e o conceito da obra.
Falando ao Música Pavê por telefone, o vocalista Felipe Castro explicou que Pág.72 propõe apresentar o crescimento do eu-lírico através dos anos na progressão da primeira à última música. “Estava lendo Em Busca do Tempo Perdido (Proust), que fala sobre memória e infância”, conta ele, “e eu já estava passando por esse processo de saudades do Rio de Janeiro, onde nasci, e decidi escrever sobre minha infância a partir de fotos minhas daquela época. Escrevi duas músicas assim, depois pedi fotos de amigos meus e escrevi outras, que deram início ao processo de produção do disco”.
Isso aconteceu logo após o lançamento do trabalho de estreia, Rua I (2018), e sua repercussão. “Quando a gente fez o primeiro disco, a gente começou a gravar as músicas quando a banda nem existia ainda: não tinha nome, redes sociais, nem nada”, relembra Felipe, “aí foi tudo bem mais livre, não existia aquela pressão. Quando a gente lançou, eu comecei a passar por esse processo de angústia, esse ‘tenho que escrever, agora tenho essa responsabilidade'”.
O desafio criativo de trabalhar um segundo lançamento gerou um amadurecimento fácil de perceber em Pág.72, que traz uma torre mais confiante em seu som, sua proposta e até mesmo sua identidade dentro de um indie brasileiro autoral e contemporâneo. “A gente sente muito que nosso som nem sempre se parece com o de outras bandas pernambucanas”, conta ele.
“As bandas nordestinas costumam ter um som específico, né? É uma identidade cultural, mas ela pode ficar cansativa, monotemática. Ela deixa de ser uma homenagem e vira um facilitador: Você já sabe por qual caminho a música vai, ao invés de procurá-lo”.
Curta mais entrevistas no Música Pavê