Quem É Tetine em 2019?
Tetine é Eliete Mejorardo e Bruno Verner, brasileiros radicados em Londres já há uns bons anos. Foi de lá que os dois lançaram boa parte de sua discografia, que ganha hoje, 10 de outubro, a adição do álbum Animal Numeral.
O parágrafo acima informa o leitor sobre o duo, mas comunica muito pouco sobre o que eles têm feito. Sendo assim, o Música Pavê separou algumas frases que os dois disseram enquanto falavam ao site por Skype às vésperas do lançamento do disco.
A partir delas, a identidade do projeto ganha novas camadas, quer você já acompanhe a dupla desde 1995, ou se chega até os dois agora, com o novo disco.
Sobre o trabalho para além da música
Bruno: A gente se define como organismo mesmo. Nós dois viemos de lugares que se encontram: Eu venho da poesia e da música e ela, da performance. A gente não sabia o que era Tetine no começo. Era um projeto de experimentações em que a linguagem musical agiu de um jeito forte, mas com um monte de coisas envolvidas por trás disso. A gente estava interessado na fisicalidade das coisas, em pensar como seu corpo fala no trabalho, ao mesmo tempo queria fazer uma palavra física existir também. A gente foi navegando por vários lugares. Em alguns momentos, a gente funciona como banda, ou como grupo de performance, ou como uma parada mais multimídia, que mistura e tenta de alguma maneira subverter as linguagens que a gente faz uso.
Sobre sua identidade
Bruno: Quando a gente morava no Brasil, a gente era de alguma maneira alien e turista no próprio país. Era uma coisa estranha. A gente tinha um público muito definido que gostava da gente, e a gente sempre fez as coisas idependente do que estava rolando.
Eliete: Acho que eu sempre fui um alien mesom, sempre tive essa coisa de nunca achar que eu pertencia a lugar nenhum. A gente se sente meio exclusivo da gente mesmo. A única amarra que eu tenho é comigo mesma. Ir ao supermercado, atravessar a rua, ver uma pessoa pedindo esmola, conversar com ela… isso tudo é criação, é parte da vida. Esse é meu único comprometimento: Com a vida – com o que ela traz e com o que ela não traz.
Sobre seu propósito
Eliete: Tetine é uma espécie de cura para não enlouquecer no mundo. Não é bem autoajuda (risos), é às vezes até pessimista. Mas é uma plataforma que eu posso usar para ser quem eu sou, em que eu não preciso fazer a cara de boa, ou a cara de qualquer coisa que a vida real te pede. Eu posso ser, eu falo o que eu quero.
Sobre seu público
Eliete: Eu não tô interessada em fazer McDonald’s – se eu estivesse, já teria feito. Eu já sou velha, gosto de ser um restaurante pequeno. As pessoas vão entender e, se elas não entenderem, o problema é delas. É um prato só, do meu estômago para o seu (risos). Pratos exóticos (risos).
Bruno: É interessante como chegam mensagens às vezes sobre discos antigos que voltam à tona.
Sobre o conteúdo de suas músicas
Bruno: Tetine faz uma espécie de ficção de fatos realistas. É autobiográfico, mas é ficcional também. A gente inventa os versos para filosofar, tentar mostrar esse universo de forma poética, mas também política. A gente acredita que é possível você dançar, ou fazer um trabalho acessível… mas o conteúdo não é só o de canção pop. Os textos que acompanham as músicas quebram o sentido pop da coisa.
Eliete: Acho que a gente faz uma espécie de culture studies. Quando a gente faz uma música como This Is the Voice, ela é tanta coisa para a gente. Ela é o resultado de tantas noites em claro discutindo coisas que a gente viu ou viveu. Depois de tanto tempo juntos, tem vezes que a gente fala a mesma coisa e vai criando essas histórias.
Sobre “Animal Numeral”
Bruno: Esse disco tá totalmente comprometido com o zeitgeist de agora, com o que a gente tá vivendo, como a gente consegue se situar no meio disso. O título, a gente já tinha desde o começo, de nós estarmos conectados com o corpo ainda orgânico, mas o pensamento totalmente numeralizado. Como você se coloca no mundo e como isso se reflete na sua vida é um pouco do que a gente está falando. As letras têm muito esse espírito, elas falam de temas caros ao que a gente está vivendo. Elas são políticas, mas são líricas. São doces, mas são porradas na cara.
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