“Sermão”: Castello Branco Comenta o Presente do Disco
“Eu sou isso aqui, ó. Tenho três discos, vocês já me entenderam”, explica Castello Branco (ou apenas Castello) ao Música Pavê por telefone ao falar sobre o momento que vive na carreira, e brinca: “Agora me deixem, porque pode ser que eu faça coisas muito bobas, ou que eu faça coisas mais bonitas (risos)”.
Isso porque seu recém-lançado Sermão veio anunciado como o fim de uma trilogia que começou com Serviço (2013) e continuou em Sintoma (2017). “Eu já tinha essa vontade de algo fechado desde que lancei o primeiro disco”, comenta ele, “acabei não fazendo muitos shows com Serviço e ficou com cara de algo que nem começou, nem terminou. Me perguntava o que mais eu poderia fazer, o que mais eu poderia falar além dele. Quando lancei o segundo, comecei a ter certeza de que eu queria uma trilogia mesmo. Fui fazer uma vivência em Portugal, e aquilo me abriu muito a cabeça para a influência da Europa no Brasil. Ela é muito católica, e Sermão veio com essa provocação”.
É fácil notar como o novo álbum se mostra mais imponente que os anteriores, algo que Castello explica ter um pé no trabalho com o produtor Ruben Di Souza, “uma pessoa que me permitiu ser quem eu fosse, quem eu quero e gosto de ser. Ele foi muito importante para eu chegar no meu potencial: Tô cantando mais seguro, mais para fora”.
Por outro lado, a grandiosidade nos arranjos veio do conceito de “templo” que amarra a obra. “Serviço representa meu passado”, conta o músico, “ele tem força como o monastério, mas também é íntimo. Sintoma é uma viagem pro futuro, um sentimento de algo que está vindo. Ele é introspectivo, na sensação de algo cinza – nem preto, nem branco. Mas Sermão é o presente, que é o tempo mais forte de todos, porque é onde vive a verdade. Quando você se propõe a viver o agora de diversas formas, seja como eu em minhas vivências com substâncias doidas ou no monastério, você entende que o presente é Powerful. ‘Não te apavora’ mesmo, porque é o ‘agora’ mesmo”.
Castello explica também que suas composições – e, portanto, os lançamentos dos discos – seguem os momentos que vivemos no Brasil e no mundo. “A história da trilogia foi sendo contada conforme a gente vivia”, ele conta, “a história é nossa própria vida. E vi que o mundo não precisava de outro Sintoma agora. O sentido agora é outro, com outra pessoa na liderança do pais, outras coisas acontecendo no mundo e outros problemas sendo vistos. Como é que eu vou cantar sereno do jeito que a gente está vivendo agora? Eu preciso entender o presente”.
“As pessoas acham que eu que estou dando o Sermão, a galera perdeu o subjetivo”, comenta o músico, “todo mundo tá acostumado que, hoje em dia, quando você quer dizer alguma coisa, você fala explicitamente. Eu acho lindo, mas a poesia é um quadro pra te trazer vários sentimentos, falar várias coisas. Sermão é isso, meu trabalho mais provocativo, desde a capa até o nome”.
Ele continua: “Tá na hora de falar de foma um pouco mais provocativa, se não [a mensagem] vai perdendo a força, vai perdendo o sentido. Não é só por ser bonito, tem que fazer sentido, mesmo que confunda, porque esse também é o papel da arte. Eu precisava completar essa trilogia para me sentir seguro que eu fiz uma coisa boa pro mundo. Se as pessoas entenderem isso aqui, elas vão entender uma parada de verdade. Não fiz nada com motivação de ficar rico ou famoso, a motivação é a música ajudar como me ajudou, construir alguma coisa na essência da pessoa. Só quero que ela faça bem para os outros como fez para mim e para os meus amigos”.
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