As Longas Viagens conta sobre “A Conquista do Inútil”
São muitas as coisas que chamam atenção em A Conquista do Inútil, o primeiro disco do projeto As Longas Viagens. Há uma variedade interessante de faixa para faixa sem perder a coesão da obra, assim como várias pequenas experimentações no trato das gravações e uma fluência legal dentro do que já existe nos cenários que envolvem o rock alternativo, o indie e o que mais aparecer ali. Mais do que tudo isso, existe todo um aspecto envolvente, quase narrativo, que te faz dar o play ali na primeira faixa e chegar até a última de uma só vez, absorto em um conteúdo pessoal que não esconde sua honestidade.
Tudo isso foi justificado em um papo com Maurílio, o músico por trás do projeto, que imprime muito de si nas faixas. “As Longas Viagens é quem eu sou hoje”, contou ele ao Música Pavê, “o disco é 100% Maurílio. Desde que comecei a querer ser intérprete do meu som, eu nunca quis esconder nada. Gosto muito de quem se abre, não gosto de criar metalinguagens de coisas para falar do que sou eu, nunca fugi de dizer as coisas que atravessei e os meus problemas, porque eles são iguais aos de quase todo mundo (risos). Prefiro me entregar, falar e de mim e do que vivi, a falar do que não conheço”.
Sobre o projeto não ser chamado “Maurílio”, ele enumera alguns motivos. Há a questão desse ser também o nome do seu pai e ele ter sido chamado Júnior pela família a vida inteira, assim como a questão de que “na nossa sociedade de hoje em dia, o nome próprio tem cada vez menos significado, com os arrobas e todas as informações”. Por fim, ele comenta que faria pouco sentido batizar o projeto pessoalmente, já que “o processo foi bastante coletivo nas gravações, apesar de todas as canções terem sido compostas por mim”.
“Resolvi aprender a trabalhar coletivamente, porque eu não sei mixar e masterizar meu disco – se eu soubesse, eu faria sozinho”, comenta Maurílio sobre a produção de A Conquista do Inútil. “Esse disco passou por vários processos. Além de gravar em tempos muito distintos, eu demorei pra achar uma ordem e, no processo de mixagem, a gente foi fazendo várias brincadeiras com modulação, resolveu passar em uma mesa de fita”, continua, “queria sair da caixinha, chegar a um lugar que não conhecia. De tanta coisa que aconteceu, ele virou um disco com uma personalidade muito própria, o que talvez não acontecesse se ele tivesse sido feito muito rapidamente”.
Feito esparsamente ao longo de dois anos, o lançamento (que acontece hoje, 12, pelo selo Escápula Records) chega logo após um processo praticamente oposto, no qual Maurílio e banda fizeram outro álbum ao longo de apenas uma semana. “Minha ideia para As Longas Viagens é produzir cada vez mais, é aproveitar os processos que aprendo, mas não morar em cima deles por muito tempo”, conta ele. Por agora, fiquemos com essas sete músicas, que totalizam juntas 47 minutos (!) de experimentações sonoras e experiências vividas desta que pode ser uma de suas novas bandas favoritas.
Curta mais entrevistas no Música Pavê