¡Que guapo! En vivo: Premis Enderrock 2011

Barcelona, 14 de março de 2011. 20h30. Nota: 10.

Por que ouvir música catalã?

Nos últimos meses, desde que estreou a coluna ¡Que guapo!, muita gente (amigos, curiosos, jornalistas, músicos, produtores…) me pergunta: por que a música produzida por catalães pode interessar a brasileiros? Chegou a hora de dar uma resposta segura a todos eles.

O Grupo Enderrock é a primeira editora musical da Catalunha, fundada em 1993 com o objetivo inicial de produzir a revista Enderrock, sobre rock catalão. Aproximadamente dez anos depois eles criaram um prêmio para os artistas cujo trabalho mais se destacava na região. O Música Pavê esteve semana passada na festa da sua décima edição e eu saí de lá contentíssima por ter sido uma das primeiras estrangeiras a apostar nessa cultura musical específica.

Há alguns anos, quando deixei São Paulo, convivia com muitos “alternativos” ávidos por arte fresca, original e de boa qualidade e me lembro que a maioria deles reclamava freqüentemente da restrita oferta deste tipo de conteúdo. Como já contei aqui no ¡Que guapo!, o primeiro disco em catalão que ouvi foi o Els millors professor europeus, do Manel, na casa de um amigo. Logo depois que Cesk apertou o play, eu só era capaz de pensar uma coisa: “é isso que estávamos procurando”.

Fazia tempo que não ouvia música contemporânea tão rica melódica e literariamente. Claro, não tinha a força de uma bateria da Mangueira ou do Salgueiro, não tinha a ginga brasileira. Porém tinha poesia, lucidez, espontaneidade, delicadeza, criatividade e lirismo em níveis muito acima da média. Pra minha sorte, quanto mais me interessava por música catalã, mais descobria grupos excelentes e discos belíssimos.

A princípio tive receio de me dedicar à divulgação desse tesouro por causa do idioma. Perguntava-me (ingenuamente): será que eles terão preguiça de tentar entender essa língua falada por menos pessoas do que a população da grande São Paulo? Então comecei a fazer uns testes… Cada amigo que vinha me visitar recebia um pequeno kit de música catalã e era presenteado com a tarefa de opinar sinceramente sobre meu “descobrimento”. Os resultados eram positivos, ampliei meu campo de experimentação e continuei observando reações como “Gostei muito!”, “São mesmo bons!”, “Onde posso comprar ou baixar essas músicas?”.

Cheguei à conclusão empírica de que o idioma era realmente uma barreira, mas uma barreira facílima de ser eliminada por curiosidade e prazer.

Após ter certeza de que valia a pena compartilhar com meus conterrâneos a música feita por catalães, iniciei um período de investigação amadora das causas deste fenômeno local de efervescência do talento artístico direcionado à música.

Ainda estou investigando, embora já tenha identificado alguns motivos básicos. No ano passado, quando entrevistei Joan Pons, homem por trás de El Petit de Cal Eril, lhe fiz esta pergunta: “Como você explica o renascimento folk da música catalã?”; Ele me respondeu basicamente: “Perdemos o medo de compor e cantar no nosso idioma. Fator essencial, sem dúvida; quanto mais naturalmente nos expressamos, mais ferramentas emocionais temos a nossa disposição para elaborar uma mensagem eficaz e esteticamente atrativa”.

Elisenda Soriguera, repórter da revista Enderrock e autora do blog Poc-moderna, também me ajudou apontando outras causas: “Provavelmente se alinharam dois fatores indispensáveis: há uma soma de propostas espetaculares e o público está novamente receptivo. As pessoas estão mais dispostas a ouvir e os músicos estão em um bom momento artístico”. Ou seja, não adianta haver músicos e projetos sensacionais se o público não está disposto a ampliar sua atividade cultural para conhecer produtos frescos, originais e de ótima qualidade.

É por isso que existe o ¡Que guapo!. Detectamos uma alta concentração de boa música e estamos tentando abrir portas para que os brasileiros também possam se surpreender e desfrutar belos sons e ideias. Veja fotos do Premis Enderrock na galeria abaixo.

Premis Enderrock 2011 – Vencedores votação popular – Vencedores votação crítica

Crédito das Fotos: Paula Rúpolo | Música Pavê