Troye Sivan e “Bloom”: O Pop Onde Ele Está Hoje
É bem provável que, assim que este parágrafo terminar, nós dois comecemos a nos desentender. Isso porque muitas das palavras que serão usadas para comentar Bloom, segundo disco do australiano Troye Sivan, têm significados dúbios, principalmente porque ainda não conhecemos um termo melhor, ou um conjunto de nomes, para definir “música pop” – seja pelo desinteresse de quem estuda ou pela falta de necessidade aos olhos de quem a vende. Ao mesmo tempo que todos sabem o que ela é, os conceitos e preconceitos que rondam a palavra “pop” são próprios de seus muito contextos, gerando ambiguidades quase inevitáveis – é como se eu te pedisse um pão esperando um feito em padaria e você me entregasse um daqueles fatiados vendidos em mercados.
Sobre o álbum: Bloom traz uma coleção de canções românticas que dialogam com temas frequentes na faixa etária 15-25, a mesma em que ele, aos 23 anos, está. Seventeen abre com timbres etéreos, beats carregados e alma emprestada do Indie do começo da década para cantar sobre experiências sexuais. Em seguida, o hit My My My coloca uma paixão fulminante em contato com o carpe diem de um lado e, do outro, o medo de se relacionar. Ela é dançante, mas um tanto comedida, quase tímida, refletindo também uma geração que, estatisticamente, sai cada vez menos para dançar.
A faixa três é o também single The Good Side, explicada pelo cantor como uma carta aberta a um ex-namorado. Ao contrário de situações muito específicas sendo narradas na tal carta, Troye prefere focar no subjetivo de versos vagos. Com um fim bem diferente (uma provável consequência de ter Ariel Rechtshaid na produção) a balada de cunho eletrônico bagunça um pouco mais do ouvinte que cai de paraquedas em sua audição e não esperava esse som em um disco do pop mainstream. E é exatamente aí aonde eu queria chegar.
Bloom segue uma tendência crescente de situar lançamentos “marginais” através de referências estéticas que estamos acostumados no meio alternativo. Sempre que um artista do pop quer se desaproximar da figura desumanizada e plástica que o mainstream insiste em produzir (como Taylor Swift e Katy Perry, para citar as mais óbvias), ele vai para onde a vanguarda esteve há um tempo. É Rihanna fumando maconha no meio do Caribe em ANTI, ou Zayn mostrando que não é mais One Direction em Mind of Mine. No caso de Troy, é ele estabelecendo através dessas referências uma grande conexão com um público que também se entende marginalizado, principalmente pela sexualidade.
De maneira geral, isso tem gerado uma música pop extremamente mais mais interessante do que a que conhecíamos há alguns anos. Está presente em The Weeknd, Lorde e Major Lazer (três nomes que o mainstream abraçou pela qualidade inegável, mas que transitaram primeiro no meio alternativo), mas também em nomes de popularidade crescente que fazem um som pop impecável, como Charli XCX ou Maggie Rogers.
Entre um dueto com Ariana Grande (outra que sabe usar o pop de hoje a seu favor), uma citação a The Smiths (What a Heavenly Way to Die) e músicas etéreas de um mundo pós-James Blake e pós-Frank Ocean, Troye Sivan faz merecer estar entre os argumentos a favor do quanto a música pop de fato “floresceu” nos últimos anos e entrega algumas das produções mais legais de hoje em dia. São músicas menos descartáveis do que alguns esperam do gênero e tão indicadoras do mundo que vivemos como qualquer outro produto cultural. Seja dançando de leve com Plum ou curtindo o semi-minimalismo de Postcard, fica difícil ouvir Bloom e não pensar que quem despreza o pop já ficou para trás há muito tempo.
O futuro, ainda bem, é pop.