Sinta o Pulso: Winehouse, performance sóbria
Movimentando minimamente o corpo e com trejeitos mais femininos do que de costume, Amy Winehouse trouxe ao ambiente a sensação de intimidade, seguindo o tom de reggae dado à Back to Black. Um ponto de bom gosto na cidade de Austin, reunidos num galpão, a platéia admirava Amy cantar aparentemente sóbria (dentre eles, o cantor Mika). Soltou a voz numa performance rebelde, como se enxergasse seus fantasmas à sua frente. O vídeo em preto e branco tirou a distração que as cores trazem, fazendo soar ainda mais sua voz densa. Uma branca em mundo negro. Canta a branca, toca um negro. Sintonia fluiu naturalmente. Rouquidão que sugere a garganta arranhada, o talento rasgado, artístico, de boa qualidade. Em Love Is a Losing Game, a câmera dá um close nas mãos e braços machucados de Amy, lembrando que os vergões que carrega na alma são ainda mais carnevivos. Não parece importar-se em permanecer viva; sua quase-morte nos traz música boa.
Dentre os comentários dos vídeos no YouTube, peguei a seguinte opinião: “People need more amy winehouse than she need drugs..” ou, em português, “As pessoas precisam mais de Amy Winehouse do que ela precisa de drogas”. Mais fácil ter alguém que traduza nossas dores do que fazer de nós mesmo este canal de sentimentos. Amy tornou-se a tradução do que é a decadência física, do corpo mal-cuidado. Na ocasião de que falamos, lhe faltava um dente. E cantou mesmo assim, sem disfarces. A realidade tem esta aparência. Profunda, marcada, de lacunas latentes. Dente ou não-dente, a voz continua boa.
Love is a Losing Game
Back to Black
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Ela acaba por ser o personagem mais sincero do showbiz, além de ótima artista.