Entrevista: Aline Lessa
Às vezes, é muito difícil você impor a você mesmo algo que tenha o seu jeito. Poucas pessoas tem a honestidade de fazer algo que te represente. Com um pensamento e um sonho no peito, a ex-Tipo Uísque Aline Lessa é uma dessas artistas que se valoriza, e isso fica claro com o seu primeiro álbum, lançado neste ano.
Com letras em português – diferente da sua antiga banda -, Aline nos revela seu lado mais íntimo, entregando, através de sua melancolia, as influências caseiras e serestas que ouvia com seu pai.
O Música Pavê trocou uma ideia com a Aline Lessa para saber mais sobre seu trabalho.
Música Pavê: Na Tipo Uísque, as músicas eram em inglês e você uma das principais compositoras. Quando se decidiu cantar em português? Por quê?
Aline Lessa: Eu sempre tive vontade de escrever músicas em português – acho a língua lindíssima, riquíssima. Acontece que eu compunha para uma banda de Rock e as bandas de Rock que eu escutava na adolescência eram em sua maioria estrangeiras. Então eu não tinha escolha, as letras surgiam naturalmente em inglês. A sonoridade da banda parecia casar muito bem com o inglês, desde o timbre da vocalista até os arranjos por si próprios, então não nos preocupamos em forçar uma transição para o português. A preocupação foi embora de vez quando fomos tocar nos EUA e uma matéria de revista disse termos “letras melhores do que boa parte das bandas nativas”! Com o passar do tempo, compor em inglês começou a se revelar um desperdício. Digo isso porque sempre fui muito ligada a poesia – principalmente a letras de músicas -, sempre um tive um cuidado muito grande com a minha escrita e, por mais que o inglês seja a tal da língua universal, estando no Brasil é inevitável que cantar em outra língua seja uma barreira para a compreensão do sentido das letras. Eu ainda tocava na Tipo Uísque quando comecei a compor canções em português; por mais que o inglês coubesse muito bem naquele trabalho, a necessidade que senti de abrir um canal direto de comunicação com o ouvinte foi um dos principais motivos que me levaram a sair da banda. Compor em português – pelo menos para mim – é um tanto mais difícil, porque a língua, além de muito mais rítmica, é muito mais rica, o que faz com que escrever de forma simples seja um grande desafio – e a simplicidade ao meu ver é muito importante quando se pretende passar uma mensagem. Independente disso tudo, não excluo a possibilidade de voltar a compor em inglês e gravar discos com músicas em mais de uma língua, coisa que muitos nomes da nossa MPB fizeram e ainda fazem.
MP: Quais são suas inspirações/referências para o álbum?
Aline: Acho que esse disco foi inspirado por um pouco de tudo que ouvi na vida. Desde Cartola, Adriana Calcanhotto, Chico Buarque e Los Hermanos até The Beatles, Pink Floyd, Radiohead, Mew, Metric, Elliott Smith.
MP: A primeira canção do álbum, Acontece, resume para mim muito o que é o álbum no sentido da melancolia. Seria ela a favorita para um primeiro clipe?
Aline: Acontece foi uma das últimas músicas compostas para o disco. Ela foi composta em parceria com o Elisio (Freitas), que produziu o álbum junto comigo. Concordo que ela traduz bem a atmosfera do disco, mas tenho escutado muito a opinião das pessoas que ouviram o disco por inteiro e pretendo fazer um primeiro clipe baseado na resposta destas pessoas.
MP: Tem previsão de data de lançamento para o show?
Aline: Ainda não tenho previsão para o show de lançamento. O disco tem muitos elementos (orgânicos e eletrônicos), o que torna difícil a tradução para o ao vivo. Eu montei a banda há pouco tempo, então ainda vai demorar um pouco para o show ficar redondo o suficiente para um bom lançamento.
MP: O que te fez querer cantar? Quando foi que você decidiu isso? Quais são as dificuldades de administrar a própria carreira?
Aline: Por mais que eu cante desde criança (participei do Coral Infanto-Juvenil da Villa Lobos por 5 anos), eu nunca imaginei que um dia me arriscaria como cantora solo! Quando criança, meu sonho era ser backing vocal de algum(a) cantor(a) ou banda grande (juro! risos). Mas, como as músicas que eu comecei a compor não cabiam mais na banda em que eu tocava, ou eu formava outra banda ou saía da posição de compositora e instrumentista e assumia a responsabilidade de cantar. Escolhi a opção mais difícil, mas acho que acertei. Administrar tudo sozinha é bem difícil por um lado – por não ter com quem dividir as tarefas (que são muitas) – mas, por outro lado, gostei muito de ter total controle sobre o meu trabalho e não depender de ninguém para trabalhar; porque eu gosto muito do que faço e não paro um segundo.
MP: Como está sendo a repercussão do álbum?
Aline: A repercussão está sendo maravilhosa. Tenho recebido mensagens carinhosas diariamente e me emocionado muito por saber que tenho conseguido tocar as pessoas da mesma maneira que outros artistas me tocam. Tenho consciência do quanto a jornada é longa e árdua, então cada pessoa que consigo atingir me faz sentir que todo o esforço está valendo a pena.
MP: Quais são os seus próximos passos?
Aline: Pretendo fazer uma turnê após o lançamento no Rio de Janeiro, lançar alguns clipes e começar a gravar o próximo disco logo, logo!
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