Entrevista: Suricato
(fotos de Paula Costa)
Num bate-papo leve, sem compromissos, numa tarde chuvosa em São Paulo, mas pelo computador, o Música Pavê conversou 15 minutos com Rodrigo Suricato, vocalista da banda Suricato, do Rio de Janeiro, que ganhou holofotes imensos depois de participar do reality show musical da Globo Superstar, no qual não levou o prêmio máximo, mas ganhou muitos ouvintes, vários shows pelo Brasil e uma admiração enorme de grandes músicos brasileiros.
Uma das grandes canções do grupo, Trem, já ultrapassou os 145 mil visualizações no YouTube e toca repetitidamente nas rádios paulistanas. No dia da entrevista, Rodrigo tinha acabado de receber uma notícia de que Xororó (da dupla sertaneja) disse à imprensa que torceu pela banda no reality da Globo e que ainda pretende gravar algo com eles. Eufórico com mais um elogio de um artista nacionalmente renomado, Rodrigo conta nesta entrevista um pouco da sua carreira como músico e como Suricato está trilhando os caminhos, sendo observados de muito perto por Nando Reis, Lulu Santos, Paulinho Moska e outros grandes artistas brasileiros.
Música Pavê: Eu vi que um dos primeiros shows – se não foi o primeiro – da banda foi com Nando Reis. Como aconteceu isso de subir ao palco com um músico consagrado já no primeiro show do grupo?
Rodrigo Suricato: Eu iniciei na carreira de músico com o objetivo de acompanhar artistas e o Suricato foi o meu primeiro respiro no sentido de trazer um repertório próprio, colocando as minhas letras. Eu já tinha tido algum êxito como guitarrista, acompanhando alguns nomes conhecidos, como Paulinho Moska, Erasmo, enfim, tanta gente, e sempre gravando muito em estúdio, então eu nasci guitarrista e não nasci compositor; compositor eu quis ser, aí eu fui atrás disso. Lancei o primeiro disco e na época o baterista do Suricato tocava com o Nando Reis – toca até hoje -, Diogo Gameiro, e através dele surgiu o convite do Nando para gente abrir alguns shows da turnê Baião do Ruivão, isso se estendeu por bastante tempo e a gente teve a oportunidade de experimentar o nosso repertório autoral por casas que a gente demoraria muito tempo pra passar. Foi maravilhoso o Nando dar esta força e dar uma canja nos shows, sobretudo dele gostar e não ser só um apadrinhamento vazio, realmente ele curtia bastante.
MP: Todas as letras do Suricato são suas?
Rodrigo: Tem duas letras que não são minhas, mas eu assino todas as composições porque elas saíram de mim de algum jeito, mas essas duas letras foram assinadas uma pelo Dudu Falcão e a outra pelo Paulinho Moska. Mas realmente sou eu quem faço as letras, sou o compositor da banda.
MP: Você não era compositor, pelo o que me disse, você ficou muito tempo apenas acompanhando músicos já consagrados. Quão difícil foi compor algo próprio?
Rodrigo: O principal é talvez você perder o senso do ridículo, talvez. Você nunca sabe se você é bom o suficiente, a resposta das pessoas demora muito a chegar. Eu só tive uma confirmação de que as pessoas gostavam e se importavam com as minhas músicas a partir do segundo disco, Sol-Te. Como eu toquei com artistas que escrevem muito bem, o meu crivo ficava muito alto para tentar se destacar com uma linguagem assim, demorou bastante tempo e foi um grande desafio. Eu acho que composição é muito exercício, cara.
MP: Este tipo de som que Suricato se propõe a fazer, rotulando (mesmo sem eu gostar) de “folk rock”, é uma influência diretamente sua ou vem de todos?
Rodrigo: Quando a primeira formação da banda se desfez, eu passei por transformações na minha vida que me levaram para mais perto da natureza, então eu comecei a tocar mais violão do que guitarra, o violão teve um papel importante na minha vida. Na verdade, ele sempre teve porque eu escutava muito folk, eu venho de um universo totalmente em cima do country e sou um guitarrista de country, praticamente dizendo. Agora, isso começou a virar canção, tive paciência para tentar traduzir isso do universo folk, algo para perto da natureza. A paleta de cores do disco veio toda deste momento da minha vida. Eu costumo dizer que a gente está folk, não somos propriamente folk, na verdade nenhum artista quer algum tipo de rótulo, não é? O sentido do folk é ligado às tradições e raízes, como blues e o próprio country, ou às modas de viola, aliás, tem viola caipira no nosso disco, e também o violão em primeiro plano nos caracteriza como tal. Mas, realmente, eu vejo o Suricato como um núcleo criativo, que no momento a gente está assim e não sei o que pode acontecer no próximo disco. O primeiro, por sinal, foi puramente rock’n’roll. Às vezes estas mudanças podem até confundir um pouco as pessoas do que seja o Suricato, mas não posso esquecer o princípio dela, que ela surgiu como um espaço para me expressar e não para eu ficar preso pelo resto da vida.
MP: Ainda que tenhamos que fugir das comparações, Suricato me lembra de alguma maneira Mumford and Sons. Conhece, né?
Rodrigo: Sim. Como todos da banda começaram com músicos de outra bagagem, a gente se interessa muito pelos instrumentos, pois todos são instrumentistas já rodados por aí, então a pesquisa de instrumentos é muito sólida pra gente, então quisemos pegar realmente uma paleta de cores para falar com o universo folk, sabe? Por isso a semelhança com várias bandas desse tipo.
MP: Você diria que a música Trem é a maior do Suricato até agora?
Rodrigo: Eu acho que não. Na verdade é uma delas, né? É uma grande canção pop.
MP: Aqui em São Paulo, ela está direto nas rádios.
Rodrigo: Que legal! É uma honra absurda pra gente, cara, ter um blues assim de volta nas rádios composto pela língua portuguesa pelo menos 90% e só com o refrão em inglês, espaço para solo e tudo, então trazer algum tipo de estranheza para uma canção popular é uma das coisas que a gente mais bate no peito por ter orgulho, sabe? Mas orgulho de coisa boa, porque perseguimos muito isso e é muito bacana este momento. E é legal ver as pessoas conhecerem esse estilo e conhecer outras coisas.
MP: Não entrando muito no mérito de como foi a experiência no Superstar, mas falando um pouco do programa, vocês ganharam bastante elogios sinceros dos jurados (Dinho, Ivete Sangalo), depois chegaram até mesmo gravar com Lulu Santos e receberam um elogio-convite do Xororó para, quem sabe, gravar no futuro.
Rodrigo: Cara, uma delícia isso porque o Xororó, falem o que for dele, é um artista absurdamente verdadeiro, né? A coisa da verdade nos interessa e a música é pra ser sentida e não para ser entendida, de fato. A gente adora! Ele ter identificado uma parte do universo dele na gente é maravilhoso. Apenas uma correção, a gravação com o Lulu foi antes do Superstar. Eu fui guitarrista do The Voice Brasil, então eu gravava todas as trilhas de guitarra e acabei conhecendo o Lulu de lá, só que a Suricato já tocava a versão de Um Certo Alguém nos shows do Nando Reis e o Lulu viu na Internet. Quando ele me encontrou nos bastidores do programa, ele falou “caramba, adorei a versão que vocês fizeram”, aí ficamos amigos e chamei ele pra gravar esta versão com a gente.
MP: Nesse universo de múltiplos artistas famosos do qual a Suricato já dividiu palcos, tem algum que representa mais pra você, até mesmo por questões pessoais?
Rodrigo: O Paulinho Moska sempre foi um grande ídolo meu – continua sendo, na verdade. Eu chamo ele de “ídolo sustentável”, porque eu conheço tão bem ele, e somos amigos próximos agora, que mesmo assim a imagem que tenho dele é realmente muito bonita. A gente toca junto, já gravei um DVD com ele, participo da turnê dele há uns dois anos e meio.
MP: O segundo CD é de 2014 e vocês já estão em turnê com ele. Não vejo planos para um novo CD tão já, correto? O que vocês pretendem daqui pra frente?
Rodrigo: Estão pintando vários convites de shows muito bacanas, não posso adiantar tanto agora, mas tem coisas maravilhosas aparecendo pra gente… e divulgar este trabalho pelo Brasil, né? Depois que a gente sofreu uma exposição midiática muito forte, aí eu vi o comportamento das pessoas no show, e ia muita gente nos shows, ficavam absurdamente lotados, e que era um público não necessariamente nosso. Mas é legal ver esta redução, porque agora fica realmente um público que é nosso, de fato. Antes tinha muita gente pra ver, tipo, o ex-BBB, sabe? O cara do reality show fazia as pessoas saírem de casa muitas vezes pra ver este tipo de coisa. Agora, elas não vão mais aos shows, temos shows mais “vazios”, mas uma galera suficiente, cantando o nosso repertório. Não tem milagre, na verdade, na música. É você construir o teu público e você seguir tua carreira seja com 10 mil ou 600 pessoas, mas que realmente seja fiel.
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