Entrevista: Graveola e o Lixo Polifônico
Minas é um estado que produz com qualidade tudo o que envolve arte, principalmente quando o acorde é na música. Talvez, sejam as inspirações dos rios, das montanhas, das belas cachoeiras e do sempre bom humor de seus moradores – Não há como não gostar de mineiros. Graveola e o Lixo Polifônico é uma banda que representa com “Capslock” o seu estado e, dentro do sempre promissor cenário de novas bandas mineiras, é hoje um nome de indiscutível destaque.
Com dez anos de estrada, quatro álbuns lançados, cinco turnês na Europa e mais de 250 shows realizados em dezenas de cidades no Brasil, os músicos são uma grande inspiração para as coisas novas que vem surgindo.
Música Pavê: O que mudou de 2004 – ano de surgimento da banda – para hoje?
Luiz Gabriel Lopes, da Graveola e o Lixo Polifônico: Putz, mudou tanta coisa. No início, era uma brincadeira super despretensiosa, daí foi crescendo, a gente foi gravando discos, viajando pra tocar, espalhando o som, conhecendo gente… Era uma perspectiva bem pouco profissional no começo, a gente foi caminhando sem muito objetivo, só na vontade mesmo. Daí, logo a banda engoliu a gente, no melhor sentido da coisa. Não tínhamos nenhuma idéia de onde ia dar aquela coisa e, dez anos depois, cá estamos, trabalhando muito, tocando o barco!
MP: Como vocês avaliam a cena independente atualmente?
Luiz: Muito rica, com muitas portas se abrindo. Não é um caminho fácil, ainda rola um monte de obstáculos históricos, mas tem muita coisa massa rolando. A gente foi meio boi de piranha desse processo, em 2010 fizemos nossa primeira turnê independente, numa época em que o cenário começava a se expandir em outros níveis por causa da Internet, do MySpace. Daí, fomos cavando as coisas, muitas vezes em estruturas super precárias. Hoje dá pra ver que já rola um acúmulo histórico das ferramentas, o crescimento do interesse do público, a formação de circuitos independentes… É uma longa caminhada, mas vejo com bons olhos os horizontes que se abrem.
MP: O mundo se tornou ágil. Surgiram plataformas de vídeos, redes sociais, likes e até o Hangouts. Tudo foi ficando muito mais acessível e ao mesmo tempo cômodo. O que a interação do público ainda representa diante de tanta tecnologia?
Luiz: Aproxima muito, né.? A gente hoje acaba conhecendo virtualmente um bocado de fãs, é engraçado isso. Rola também uma coisa massa que é o empoderamento do fã, a possibilidade do fã se tornar um articulador local, uma espécie de “embaixador” da banda, apoiando e dando suporte. Estivemos agora na Argentina num festival em La Plata e teve uma menina lá – Nair Kelly o nome dela – que fez uns cartazes da banda, imprimiu com a grana dela e espalhou pela cidade que ia rolar o festival, sem nem avisar a gente. Inacreditável e sensacional! Ou seja, é um universo de possibilidades. A própria plataforma do crowdfunding é uma coisa muito rica, que caminha dentro desse mesmo lugar, de uma aproximação enriquecedora com o público, que passa a ser um agente com potencial de envolvimento direto nos processos.
MP: Dentro do promissor cenário de Minas Gerais vocês são incontestáveis. São referência pra muita coisa boa que vem surgindo de lá. Quais são as maiores dificuldades de se lançar pra fora de suas casas e enfrentar uma cidade ou estado diferente?
Luiz: Felizmente, a gente conseguiu caminhar até hoje numa espécie de via paralela, por fora dessa obsolescência programada do hype, cultivando nosso público devagar, no corpo a corpo, sem sobressaltos. São dez anos de estrada, quatro discos lançados, cinco turnês na Europa e uma quilometragem larga de shows Brasil adentro e, mesmo assim, infelizmente é preciso admitir que estarmos baseados em BH nos cria uma série de dificuldades em termos de atingir maior projeção nacional. Talvez por estarmos muito perto do Rio e de SP, e daí haver um fenômeno quase que natural de ofuscamento. Ao contrário de Recife ou Belém, que criam uma gravidade própria em torno de si, BH tem dificuldade de se posicionar nacionalmente justamente por cultivar uma espécie de subserviência ao eixo Rio/SP, principalmente por parte da imprensa local, que absorve muito facilmente o que é ditado pela imprensa carioca e paulista. Mas isso é coisa que a gente vai contornando de diversas formas, buscando estar sempre em mobilidade, articulando pontes, “comendo pelas beiradas” como se diz por aqui. A estrada é longa, e felizmente temos muito chão pela frente.
MP: A música de vocês possui um espírito de tolerância muito grande. Todos os sons e ritmos tem espaço – são indistinguíveis. O quão o mundo seria melhor – principalmente pela turbulência política deste ano – se a filosofia da tolerância existisse de fato?
Luiz: Pois é, a música do Graveola tem mesmo essa vontade de amolecer fronteiras, abraçar contradições… É algo que nos move e nos motiva dentro da música, brincar com isso. Acreditamos nessa vibração, como forma de estar no mundo, e torcemos pra que esse desejo ressoe nos ouvintes da maneira mais luminosa possível.
MP: Por que o nome Dois e Meio – Vozes Invisíveis?
Luiz: “Dois e Meio” porque é o segundo meio disco. Disco de rascunhos, experimentos, material que a gente tem vontade de compartilhar, mas que nem sempre entra pro repertório de shows… O primeiro dessa safra é o Um e Meio, de 2010. E Vozes Invisíveis é por conta da música, que acaba sendo uma espécie de música tema do disco.
Curta mais entrevistas exclusivas no Música Pavê