Entrevista: Marjorie Estiano

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Dez anos depois de ter caído no gosto musical dos fãs de Malhação da época com a inesquecível Você Sempre Será, a irrefreável Marjorie Estiano surge meio de surpresa com Oito, um disco eclético que flerta com diferentes referências e gêneros musicais.

A grande novidade de Oito é a estreia da cantora como compositora em algumas canções do disco. Então, entrevistamos a artista para saber detalhes desse disco, que conta com participações especiais (como de Gilberto Gil) em um novo marco em sua carreira.

Música Pavê: Oito é seu terceiro disco, porém o primeiro em evidenciar seu lado compositora. Como é mostrar para o público suas letras e, por consequência, seus sentimentos? Você acha que seus fãs tem a oportunidade de te conhecer melhor agora?

Marjorie Estiano: As composições não são necessariamente autobiográficas. Elas tem um caminho próprio que às vezes cruza com o meu, às vezes não de forma literal. Sendo autorais ou não, quando canto me aproprio da música e a torno minha, é a minha verdade naquele momento. Com as de minha autoria, eu tenho uma relação íntima, um histórico vindo da concepção, desde o primeiro acorde até a finalização em estúdio. E com as outras, eu crio uma intimidade a partir do momento em que elas se tornam minhas. Com certeza eu mesma tive através desse trabalho a oportunidade de me conhecer melhor.

MP:  Você disse em outras entrevistas que o repertório autoral foi a solução que encontrou, já que estava difícil encontrar canções que dissessem aquilo que você queria. Depois de dois anos, oito canções compostas e gravadas, você sente que disse tudo o que precisava dizer?

Marjorie: De forma alguma, acho que estou aprendendo a falar ainda, essas foram as minha primeiras palavras. Espero percorrer o caminho até a fluência desse idioma. E que nunca me falte motivação pra falar. Assunto eu sei que não vai.

MP: O álbum traz uma surpresa atrás da outra – Funk Carioca, Tecnobrega, Reggae e muitos outros estilos se fundiram nessas canções. Como funcionou o processo criativo das músicas de Oito?

Marjorie: Foi bastante intuitivo, desenvolvemos um diálogo com elas. As composições induziam um caminho, uma sonoridade, um discurso. A gente tentava ouvir e potencializar. Cada uma teve um processo muito particular e independente. Não tinha como objetivo essa variedade de gêneros e nem o contrário. Fomos interpretando os sons, a harmonia, a melodia e o repertório foi tomando a sua forma.

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MP: Essa variedade de ritmos do CD sugere que diferentes influências foram condensadas nesse trabalho. É fruto do que você escutava na época de composição? O que você tem ouvido hoje?

Marjorie: Eu sempre ouvi de tudo, desde a época em que não escolhia. A minha família é muito brasileira, ou seja, minha mãe é baiana, meu pai do interior do Paraná, minha irmã de São Paulo, minha avó de Minas. Temos uma variedade grande de sotaques… Acho que a origem dessa mistura musical já começa poraí e se segue no caminho da contemporaneidade que trouxe um acesso ilimitado, sem fronteiras, globalizado, de informação, de cultura. Essa condição acaba resultando numa fusão de elementos que talvez nem passe pelo racional, de forma que até “o mesmo” seja resignificado. E continuo ouvindo de tudo!

MP: Ter a participação de Gilberto Gil, um revolucionário da MPB, em dias de reciclagem da música brasileira é algo muito significativo. Como surgiu essa oportunidade e o qual a sua relação com o trabalho dele?

Marjorie: Quando terminamos de gravar Luz do Sol, sentimos que a música pedia um contraponto, um peso nessa leveza em que ela tinha se estabelecido, e então pensamos no Gil. Eu o conheci pessoalmente no projeto Cidade do Samba, em que cantamos Chiclete com Banana juntos. Já nutria uma admiração enorme. E fiz o convite sem muita expectativa mas tive um retorno imediato. Junto de todos os outros atributos dele, Gil é um homem extremamente generoso, interessado, comprometido… foi uma experiência linda, que me serve de inspiração como artista e como pessoa.

MP: Você gosta de ouvir as suas músicas, elas estão presentes nas suas playlists? Você se arrisca a contar para nós qual delas é sua favorita?

Marjorie: Tenho poucas composições ainda, todas são “a favorita”, mas acho que, se um dia tiver muitas, talvez algumas tenham uma lugar mais especial que outras. Por enquanto, gosto de todas. Umas em mais aspectos, outras em menos. Estou ouvindo há muito tempo esse repertório, o disco foi produzido durante dois anos, ou seja, pra pegar o CD e ouvir acho que preciso de um distanciamento. Em shows, elas sempre se tornam inéditas, a música naquele momento, se vale de diversos outros elementos. E acaba se apresentando de uma forma nova, viva, o que me faz descobrir coisas novas constantemente.

MP: Estamos ansiosos para saber qual vai ser o primeiro videoclipe desse novo trabalho e quais surpresas mais você está preparando. O que você pode nos adiantar?

Marjorie: Vamos fazer o clipe de Me Leva, e o que posso adiantar é que o objetivo será uma experiência e o resultado será o clipe. Ainda estamos desenvolvendo a ideia junto do artista visual Gustavo von Ha.

MP: Para completar oito perguntas, o álbum recebeu o nome de Oito por contar com essa quantidade de músicas compostas. Mas esse número tem mais algum significado pra você?

Marjorie: O nome não tem relação com o número de composições, isso foi uma coincidência. Na verdade, Oito surgiu a partir da alusão ao símbolo do infinito enquanto algo contínuo, em fluxo, em movimento. Buscando o nome, me fiz algumas perguntas e entre elas o que eu via quando olhava pra esse trabalho. E pra além do resultado, esse disco é pra mim, o retrato de algo em movimento. Não apenas pela maneira que foi concebido, pois o repertório foi se construindo ao mesmo tempo em que gravávamos e a sonoridade se definia. Mas principalmente, eu vejo um movimento imenso em mim refletido nele. Através dele dei início ao meu entendimento enquanto compositora, através dele fui adquirindo um vocabulário pra conseguir me entender e me manifestar musicalmente. Um movimento que me permitiu ter perspectiva, ver um caminho.

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